Salas de espetáculos um pouco por todo o Minho começaram por estes dias a alterar horários ou a adiar programação, contornando as limitações impostas pelo recolher obrigatório, de modo a conseguirem sobreviver a mais uma “machadada” no setor.
O Governo decretou o recolher obrigatório entre as 23:00 e as 05:00 nos dias de semana, a partir da passada segunda-feira e até 23 de novembro, nos 121 municípios mais afetados pela pandemia, assim como “limitação da liberdade de circulação” nos fins de semana de 14 e 15 de novembro e de 21 e 22 de novembro.
A “limitação da liberdade de circulação” vigorará entre as 13:00 de sábado e as 05:00 de domingo e as 13:00 de domingo e as 05:00 de segunda-feira. No entanto, há 13 exceções de deslocações autorizadas, em que se incluem ir a estabelecimentos de venda de produtos alimentares e de higiene.
Para a Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), esta decisão “é uma grande machadada no setor”. “Que nós não compreendemos, porque se as regras são cumpridas exemplarmente nas salas, e se as salas são seguras – e são mais seguras do que ir ao supermercado -, como é que os supermercados podem estar abertos e as salas de espetáculos não, dentro daqueles horários, quando a circulação é organizada, quando há distanciamento social entre as pessoas, quando é obrigatório o uso de máscara?”, questionou Sandra Faria, da APEFE, em declarações à Lusa.
O setor da Cultura, que “já está a viver uma tragédia em 2020”, “vê essa tragédia agravada com estas restrições dos fins de semana”.
As salas de espetáculos encerraram em março, quando foi decretado o primeiro estado de emergência, embora os espetáculos tenham começado a ser adiados ou cancelados antes disso, e puderam reabrir a partir de 01 de junho, mas com normas de higiene e segurança.
No entanto, Sandra Faria salienta que “os profissionais do setor da Cultura não desistem” e há “muitos promotores a adaptarem espetáculos, a alterarem horários, a criarem parcerias para tentarem fazer alguma coisa”.
Essa opção foi tomada pela direção do Guimarães Jazz, que promove “Jazz ao pequeno-almoço”. A programação dos fins-de-semana do 29.º Guimarães Jazz, que decorre entre quinta-feira e 22 de novembro, acabou por sofrer alterações, com os concertos, no Centro Cultural Vila Flor a terem início às 10:30.
O Theatro Circo, em Braga, também antecipou o concerto de Tiago Sousa, no dia 14 de novembro, das 19:00 para as 11:00, e a representação de “As Troianas”, pela Companhia de Teatro de Braga, no dia 21, das 19:00 para as 10:00.
Também a Casa das Artes, em Famalicão, decidiu antecipar os concertos do fim-de-semana para sexta-feira à noite, com intervalo de meia hora entre cada um.
Mas não foram só os espetáculos de sábado e domingo que foram afetados com as novas regras do Governo. Várias salas tiveram de antecipar horários durante a semana, de modo a que, às 23:00, o público esteja em casa.
Sandra Faria reconhece que as salas e promotores têm de se “reinventar”, mas afirma que tal “é muito complicado”. “E não sabemos quantos de nós vão sobreviver”.
“Vimos hoje uma notícia que poderá haver apoio para a restauração, pela perda de faturação nestes fins de semana, espero que o Governo também se lembre da Cultura e dos espetáculos ao vivo”, afirmou.
Também a Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas sublinhou que, “incompreensivelmente, o anúncio das medidas restritivas não foi acompanhado por um anúncio de medidas de apoio aos trabalhadores e às atividades mais afetadas”.
O anúncio das novas medidas geraram preocupação na Plateia e também no Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, Audiovisual e Músicos (Cena-STE).
“A Plateia vê com preocupação as terríveis consequências destas medidas para milhares de trabalhadores, centenas de estruturas artísticas e culturais em todo o país, e para a participação cultural e acesso à cultura de toda a população”, refere aquela associação num comunicado divulgado na segunda-feira.
Já o dirigente do Cena-STE, Rui Galveias, em declarações à Lusa, considerou a limitação de circulação ao fim de semana “mais um prego no caixão” do setor da Cultura, que já está “numa situação dramática”.
“Olhamos para tudo isto com muita preocupação. Entendemos a necessidade de cuidar das pessoas, entendemos que os números são dramáticos, mas não conseguimos compreender estados de emergência, quando as pessoas têm aderido às regras”, salientou.
Na segunda-feira, a ministra da Cultura apelou “a todas as pessoas” para que continuem a ir a espetáculos e equipamentos culturais, destacando o esforço dos profissionais do setor na adaptação às medidas aprovadas para tentar conter a pandemia da covid-19.
“Deixo um apelo a todas as pessoas, cidadãos, que continuemos todos, na medida que conseguirmos, a ir ao teatro, ao cinema, a um espetáculo de música, a uma biblioteca”, afirmou Graça Fonseca, no parlamento, lembrando que “Portugal é um dos poucos países da Europa que mantém equipamentos culturais abertos”.
A ministra salientou que, “no espaço de 24 horas, centenas de salas anteciparam horários e não encerraram”, em referência à limitação de horários de funcionamento em vigor.
Horários adotados em função das novas restrições estão disponíveis em ‘sites’ das diferentes salas de espetáculos.