Inefável foi a palavra mais pesquisada no dicionário ‘online’ Priberam em 2024, embora não relacionada com nenhum acontecimento específico, mas muitas outras definiram o ano, relativamente a acontecimentos políticos, económicos, culturais ou sociais.
Inefável foi “a palavra mais procurada no Dicionário Priberam”, mas é “uma curiosidade sobre o Dicionário, não faz parte das selecionadas para ‘O Ano em Palavras’, pois não nos parece que esteja ligada a nenhum evento específico, até porque as buscas ocorreram ao longo de todo o ano e não numa altura específica, como as 24 que fazem parte da seleção” feita com a Agência Lusa, que pelo oitavo ano consecutivo se juntou ao Priberam para selecionar as palavras mais pesquisadas e que ilustram o ano que está a terminar, esclarecem as duas entidades em comunicado.
As 24 palavras (duas por cada mês) que definiram o ano – selecionadas, em termos de relevância, a partir de mais de centena e meia de pesquisas que se destacaram por serem feitas no momento em que decorriam os acontecimentos que lhes deram origem – encontram-se disponíveis no ‘site’ oanoempalavras.pt, cada uma delas ilustrada com fotografias e notícias da Lusa sobre o evento em causa.
As palavras são apresentadas por ordem cronológica, de janeiro a dezembro, e cada palavra permite aceder diretamente ao seu significado no Dicionário Priberam e ao artigo da Lusa sobre a notícia que motivou as pesquisas.
“O interessante do ‘Ano em Palavras’ é o exercício de ligar os acontecimentos e as ideias a palavras-chave e, de novo, através delas, voltar à realidade e perceber o que aconteceu. Ou, pelo menos, entender como a generalidade das pessoas a apreendeu ou percebeu. Um pouco como um calendário em palavras. Sem a Lusa, acho que esse exercício seria impossível”, afirmou a diretora de informação da Lusa, Luísa Meireles, a propósito da iniciativa.
O diretor executivo da Priberam, Carlos Amaral, considerou, por sua vez, que “esta iniciativa é uma das maneiras de a Priberam mostrar de que modo é que as consultas ao Dicionário Priberam podem ilustrar o país e o mundo em 2024 e é um privilégio poder associar essas pesquisas aos textos dos jornalistas e às imagens dos fotógrafos da Lusa”.
Suplemento e imunidade foram as palavras que marcaram janeiro, mês em que milhares de polícias exigiram suplemento de risco idêntico ao da Polícia Judiciária, e em que o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, arguido por suspeitas de corrupção, admitiu o levantamento da imunidade.
As palavras que caracterizaram fevereiro foram Vudu, por causa da escola de samba que venceu o Carnaval carioca com um enredo baseado na força das mulheres negras e em crenças vudus, e ‘Persona non grata’, classificação atribuída por Israel ao presidente do Brasil, Lula da Silva, após este ter comparado Gaza ao Holocausto.
Março foi definido pelas palavras marcha, devido aos agricultores que fizeram uma marcha lenta para reivindicar medidas contra a seca, e legislativas, na sequência da vitória da Aliança Democrática nas eleições legislativas.
Em abril, milhares de pessoas encheram a Avenida da Liberdade no cinquentenário do 25 de Abril, e Marcelo Rebelo de Sousa defendeu o pagamento de reparações por crimes da era colonial, pelo que as palavras mais procuradas foram liberdade e reparação.
As palavras de maio foram faroeste e repúdio, a propósito de o presidente francês, Emmanuel Macron, dizer que a Nova Caledónia não se podia tornar um “faroeste”, e de o presidente da Assembleia da República, Aguiar-Branco, propor um voto de repúdio contra discursos de ódio.
Em junho, as palavras eleitas foram asilo, porque, segundo a Agência da ONU para os Refugiados, ACNUR, Portugal recebeu cerca de 2.600 pedidos de asilo em 2023, e extrema-direita, porque milhares de franceses se manifestaram contra a extrema-direita após a primeira volta das legislativas.
Julho foi um mês marcado pelos vocábulos traineira e desistência, na sequência do naufrágio de uma traineira que provocou a morte de vários pescadores, e do anúncio de Joe Biden de que desistia das presidenciais norte-americanas e apoiava Kamala Harris.
Em agosto, a conquista do bronze pela judoca Patrícia Sampaio e da prata pelo ciclista Iúri Leitão no omnium, nos Jogos Olímpicos de Paris, ditaram a escolha das palavras judoca e omnium.
As fagulhas e cinzas no ar na sequência de incêndios florestais no centro e norte do país e o ciberataque israelita que causou a explosão simultânea de milhares de ‘pagers’ no Líbano fizeram de fagulha e ‘pager’ as palavras em destaque no mês de setembro.
A depressão que provocou fortes inundações, mais de 200 mortos e graves danos no sudeste de Espanha e as manifestações no Bairro do Zambujal a exigir “justiça”, após a morte de um morador baleado pela PSP, fizeram de depressão e Zambujal as palavras de outubro.
Novembro foi o mês dos termos greve e barricada, depois de a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, visitar o INEM na sequência da crise por greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar, e de manifestantes contestarem o resultado das eleições moçambicanas com barricadas nas ruas.
Por fim, dezembro ficou marcado por restauração, devido às declarações do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que recordou a Restauração da Independência em Portugal, para defender a soberania da Ucrânia, e por transição, na sequência da queda do regime de Bashar al-Assad na Síria, que deixou o país com um governo de transição.
Segundo o comunicado, o Dicionário Priberam, que celebrou 15 anos, conta com uma interface renovada, mais fácil de usar e mais otimizada para dispositivos móveis. Além disso, aumentou o seu conteúdo, com a inclusão de mais de 7.300 novos verbetes, contabilizando à data mais de 167.600 entradas e mais de 273.700 definições.