Rui Malheiro, ex-adversário de Rui Rocha na disputa pela liderança da IL, acusa-o de ter saneado a oposição interna nas listas de candidatos a deputados e de estar a desenvolver um “culto de personalidade”.
Este domingo, o Conselho Nacional da IL aprovou – com 59 votos a favor, seis abstenções e três votos contra – as listas de candidatos às legislativas que tinham sido propostas pela direção do partido, e que incluem Rui Rocha como cabeça de lista por Braga, Mariana Leitão por Lisboa, Carlos Guimarães Pinto pelo Porto e os deputados Joana Cordeiro e Mário Amorim Lopes por Setúbal e Aveiro, respetivamente.
Em declarações à agência Lusa, Rui Malheiro – que obteve 26,6% na última Convenção Nacional da IL, em fevereiro, contra os 73,4% de Rui Rocha – defendeu que as listas mostram uma “normalização aparente do saneamento político por divergências de opinião”.
“Há aqui uma falta de união em torno do partido, do que saiu da última Convenção”, acusou Rui Malheiro, frisando que nenhum dos elementos da lista que ele próprio apresentou à Comissão Executiva nas últimas eleições internas aparece em lugar elegível.
“Ao contrário, vê-se pessoas ou da própria direção do partido ou muito próximos, ou funcionários do partido [nas listas], incluindo, pela primeira vez, o secretário-geral, que aparece numa posição elegível para ser deputado em troca de uma jovem que esteve no parlamento, Patrícia Gilvaz. Parece-me uma troca bastante ilógica”, criticou.
Rui Malheiro referia-se ao facto de, nas listas da IL, o “número dois” pelo Porto ser Miguel Rangel, atual secretário-geral do partido, em substituição de Patrícia Gilvaz, que tinha sido eleita deputada nessa posição em 2022 e 2024 e que anunciou que não iria ser candidata nestas legislativas por entender que era tempo de “abraçar novos desafios”.
O ex-adversário de Rui Rocha disse ficar triste “por ver vários quadros tão importantes e válidos no partido estarem a ser descartados por este princípio de culto de personalidade em torno da Comissão Executiva e do presidente”.
“Isso já é visível nos cartazes [da campanha para as legislativas]: não apresentam ideias, apresentam simplesmente o rosto do presidente do partido”, criticou.
Rui Malheiro salientou ainda que, nas listas, não há “nenhum candidato em posição elegível abaixo dos 30 anos”, o que considerou ser surpreendente tendo em conta que “o ‘target’ de eleitorado da IL” é precisamente essa faixa etária, e são incluídos “vários paraquedistas, que são de umas zonas e são candidatos noutros distritos”.
“Os núcleos, nestas eleições e nestas listas, não foram tidos nem achados. A Comissão Executiva decidiu centralmente todas as listas”, acusou.
O ex-adversário de Rui Rocha criticou também a direção do partido por apenas ter submetido a votação em Conselho Nacional um documento com as linhas programáticas do partido e não o programa eleitoral.
“No passado, aprovava-se o programa e o programa sofria alterações no Conselho Nacional. Neste momento, há uma linha programática e a Comissão Executiva agora vai fazer o programa à sua vontade. Pode trazer alguns dissabores porque ninguém sabe o que é que será escrito no final”, apontou, acusando Rui Rocha de ter subvertido “um conjunto de princípios que eram basilares dentro da IL” na preparação destas legislativas.
Questionado sobre o facto de as listas terem tido uma aprovação quase unânime no Conselho Nacional, Rui Malheiro respondeu que a composição do Conselho Nacional que foi eleita na última Convenção cria uma “união praticamente total com a direção”.
Apesar destas críticas, Rui Malheiro pediu a quem se opõe à atual direção para não sair do partido, frisando que os que deve mover não é “uma guerra de poderes, mas sim contribuir para que o partido seja cada vez melhor”.
“Haverá mais eleições, mais política para além destas eleições. Portanto, acho que todos devemos contribuir para o bom resultado da IL”, disse.