Neste Artigo
O Rock in Rio já reagiu à polémica em torno do Rock in Rio Febras, pequeno festival de Guimarães que foi obrigado a mudar de nome devido à intimação do ‘gigante’ de Lisboa.
Quatro dias depois de o caso ter sido tornado público pela organização do festival, o Rock in Rio partilhou, já ao final da noite de quarta-feira, nas suas ‘instastories’, um texto em que pede “paz e amor” e no qual também recorre ao humor que tornou famoso o comunicado do Rock in Rio Febras.
“Amigos do ‘festival que acontece perto do rio Febras’. Foi com muito humor e boa disposição mas também com um certo sentimento de satisfação que fomos surpreendidos pelo alarido causado pela notificação que vos foi enviada sobre uso indevido da nossa marca registada e pelo vosso tão engraçado comunicado, que gerou uma onda viral nos meios de comunicação e redes sociais do país, nos últimos dias”, assim começa o texto.
“Desejamos de coração o melhor ao vosso festival”
E prossegue: “É (com um enorme sorriso) que vemos que o vosso evento tem também uma componente solidária e é feito por um grupo de jovens voluntários. Agradecemos por reconhecerem a nossa energia contagiante e diversidade musical e, sobretudo, a nossa história que conta já com mais de 38 anos”.
“Queremos abraçar toda a comunidade do festival que acontece ‘around’ Rio Febras e celebrar as diferenças e a união pela música ‘for a better world’ ou, em português, desejamos de coração o melhor ao vosso festival”, pode ler-se ainda.
“Esperamos estar a contribuir para o sucesso desta vossa 2.ª edição! Afinal de contas, é a música, as grandes causas e a alegria das pessoas que nos movem e, por isso mesmo, adoraríamos convidar todos a mergulharem no ritmo do festival no rio Febras e seguir com essa mesma energia até junho de 2024, no parque da Bela Vista. Vamos celebrar juntos os 20 anos da chegada do nosso festival a Portugal. Quem sabe se não surgem colaborações incríveis e surpreendentes no futuro? Com paz e amor. O festival que acontece em Lisboa”, assim termina o comunicado.
Como O MINHO noticiou em primeira mão, a empresa responsável pelo ‘Rock in Rio Lisboa’ notificou o ‘Rock in Rio Febras’ a mudar de nome, alegando uso indevido da marca e concorrência desleal.
Perante a intimação, a organização do Rock in Rio Febras reagiu com um comunicado recheado de ironia: “Comunicamos (com um enorme sorriso de orgulho) que uma atenta, responsável e conceituada sociedade de advogados da capital, nos notificou, em representação da ROCK WORLD LISBOA, S.A., entidade organizadora do Rock in Rio Lisboa (sim, esse mesmo), de que teve conhecimento do sucesso do Rock in Fio Febras de 2022, e da organização da edição de 2023, e teme a confusão que a semelhança entre a designação dos dois eventos pode provocar no cidadão incauto. Acusam-nos ainda de ‘concorrência desleal’ (não é piada). Desta forma, foi-nos veementemente sugerido que alterássemos o nome do festival, sob pena de sermos alvo de ação legal”.
“Desculpa a todos aqueles que possam ter ficado baralhados”
E prosseguia: “Começamos por pedir desculpa a todos aqueles que possam ter ficado baralhados por esta infeliz situação, apesar da óbvia diferença entre os dois eventos – um tem uma alegria contagiante, uma parte solidária, e as melhores bandas e DJ’s do Mundo; o outro acontece em Lisboa. Se por acaso cobrássemos bilhete, certamente nos disponibilizaríamos para devolver a quantia paga”.
“Em segundo lugar, após consultarmos a nossa vasta equipa de qualificados especialistas, jurídicos e não só, que acompanha a organização deste evento, e imbuídos do nosso espírito característico ‘make peace, not war’, ou em português, “queremos lá saber do nome!”, decidimos aceder ao pedido que nos foi tão vigorosamente feito”, acrescentava o texto.
E concluia: “O festival de rock que se realiza nas margens do Rio Febras será, de hoje em diante, denominado ‘Rock no Rio Febras’. Ou talvez ‘Rock near (but not ‘in’) Rio Febras’. Quiçá ‘Rock around Rio Febras’. Ainda há alguma indecisão, mas asseguramos o nosso público de que estamos a trabalhar no assunto com a seriedade que o momento exige”.
Ganhou dimensão nacional
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Casa do Povo de Briteiros, Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que organiza o evento, deu conta de que o festival “assumiu uma dimensão que está a ultrapassar tudo” o que era expectável.
“Já fomos contactados por grupos de pessoas que gostavam de vir em excursão de Lisboa a perguntar se temos espaço para dormir, para acampar. Não temos. Não dá. Acreditávamos e estávamos a trabalhar para ter, no mínimo, o mesmo número de pessoas do ano passado, mas nada como aparecer nas rádios nacionais, ser contactado por malta de todo o lado a dizer que quer vir, gente da freguesia a dizer que vai anunciar na Internet quartos para arrendar junto ao recinto. Parece surreal”, revelou Vasco Marques.
Primeira edição juntou 1.500 pessoas
O responsável contou que na primeira edição do ‘Rock in Rio Febras’, realizada em 2022, passaram pelo recinto cerca de 1.500 pessoas ao longo de todo o dia, sublinhando que se estivessem todas ao mesmo tempo já se sentiriam apertadas.
Face à procura que o festival deste ano – que terá cinco bandas e quatro DJ locais a atuar – está a ter, a organização vai fazer algumas alterações para “duplicar ou triplicar a capacidade” do parque fluvial de Briteiros, nas margens do rio Febras.
Vasco Marques sublinhou que é importante que o público se divirta e usufrua do recinto, mas em segurança, salientando que a organização está a pensar numa solução em conjunto, pois há a limitação do espaço, do estacionamento ou a questão das casas de banho.
Uma das possibilidades é a criação de um bilhete, grátis, para se poder limitar a entrada, mas esse ainda não é um assunto fechado.
No cartaz de 2022 podia ler-se: “começa às quatro da tarde e acaba até a GNR chegar”. Segundo o presidente da Casa do Povo de Briteiros, esse também será o espírito do festival deste ano, mantendo sempre o seu cariz social e comunitário, sendo que as receitas revertem para o centro de dia.
“No ano passado tivemos cerca de trinta voluntários da freguesia a cozinhar as febras, as bifanas, a vender bebidas. Toda a comunidade local se envolve e se associa ao festival. São os vizinhos do espaço que fornecem a eletricidade e a água e não pagamos nada, não pedem nada. No dia seguinte ao festival estava tudo limpo, sem lixo”, enalteceu este responsável.
Vasco Marques partilhou outra história com a Lusa, adiantando que pediu a um amigo – comercial numa empresa de telecomunicações – cerca de 50 a 60 fitas vermelhas para segurar as credenciais que identificam os elementos da organização (‘staff’).
Novo nome será o público a escolher
“Ele disse prontamente que me arranjava isso. Perguntaram-lhe se era para o ‘Rock in Rio Febras’, ele disse que sim. Entretanto recebeu ordens superiores de que afinal não podia fornecer as fitas, pois a empresa para a qual trabalha é parceira do Festival de Paredes de Coura. Parece que também somos concorrentes do Festival de Coura”, ironizou este elemento da organização.
Quanto ao novo nome a dar ao festival, o presidente da Casa do Povo de Briteiros revelou, de forma humorada, que será o público a escolher através das várias plataformas digitais.
“O Conselho de Administração [do festival] reuniu ontem [terça-feira] e decidiu que o nome será democraticamente escolhido pelas pessoas. Vamos colocar nas redes sociais dois ou três nomes e pôr à votação. Pensamos fazer isso esta semana”, concluiu Vasco Marques.