Robô ‘made in’ Guimarães que pode assistir em lares e hospitais é ‘estrela’ na festa da UMinho

CHARMIE está apurado para o campeonato do mundo de robótica humanoide

Arrancou, hoje, a 15ª Roboparty, no Pavilhão Desportivo da Universidade do Minho, no campus de Azurém, em Guimarães. Durante os próximos três dias e duas noites, os cerca de 500 participantes não vão descansar para terem as suas máquinas prontas para os quatro desafios propostos pela organização: dança, obstáculos, “fun challeng”e e “race of Champions”. Este ano, os alunos vindos de escolas de todo o país, têm oportunidade de conhecer o CHARMIE, um assistente robótico com quem se pode falar em linguagem corrente. O robô, que poderá no futuro ser um assistente em lares e hospitais, foi desenvolvido pelo Laboratório de Automação e Robótica (LAR) da Universidade do Minho, em Guimarães, e está apurado para o Campeonato do Mundo.

Nesta edição participam quase cem equipas, vindas de diversas partes do país. A grande maioria dos participantes está na faixa dos 15 aos 18 anos e são estudantes do ensino secundário. Alguns são alunos de cursos profissionais de Informática, Automação e Mecatrónica, outros fazem parte de clubes de robótica criados no âmbito das atividades extracurriculares nas suas escolas. Este ano o participante mais velho tem 64 anos e o mais novo têm 11. 

António Hipólito e Matilde Anselmo tem 12 anos, são alunos do 7.º ano, e estão entre os mais novos, mas isso não os intimida. “Esperamos fazer uma boa participação”, afirma Matilde, perentória. São alunos dos Pupilos do Exército e vieram de Lisboa, acompanhados pelo professor de Eletrónica e Robótica, o sargento ajudante João Freitas. “É uma atividade opcional que temos nos Pupilos. Já escolhemos a robótica no ano passado e, este ano, fomos escolhidos para o curso de robótica avançada”, esclarece António.

Matilde Anselmo, António Hipólito e o sargento ajudante João Freitas vieram de Lisboa em representação dos Pupilos do Exército. Foto: Rui Dias / O MINHO

“Na verdade, trata-se da atividade que mais depressa enche, lá na escola. A participação na Roboparty implicou uma seleção e foi um prémio para os melhores”, explica o professor. Matilde assegura que o robô da equipa, que o colega está a soldar, “vai estar pronto para participar em todas as provas”. Na prova de dança, a que solicita mais a criatividade dos participantes, o robô dos Pupilos vai ter a forma de um planeta, com uma barretina (cobertura típica dos alunos dos Pupilos) e a inscrição “A orbitar desde 1911” (o ano de fundação da instituição). Há outros que pretendem imitar personagens de ranchos folclóricos, mas a maioria das equipas prefere não abrir o jogo, nesta fase, para depois surpreenderem na apresentação.

João Costa está na organização desde a primeira edição, em 2006. “Nessa altura, vim como aluno do primeiro ano da licenciatura e Engenharia Eletrónica”, recorda. Foi ficando, passou a responsável pelos voluntários e, quando terminou o curso, foi contratado pela Botnroll, a empresa que produz os kit’s usados no evento.

“Há uma componente de competição, mas a partilha também é muito importante”

João Costa participa na Roboparty desde a primeira edição, começou como aluno e passou para a organização. Foto: Rui Dias / O MINHO

“Há professores que trazem os alunos como um prémio pelo mérito, mas há outros que trazem miúdos complicados, como forma de os motivar. Dá-nos especial prazer quando falamos com esses professores e percebemos que alunos que estiveram aqui ganharam gosto pela área e estão a trabalhar em empresas ou a fazer cursos superiores”, refere. João vai andando pelo recinto, de mesa em mesa, a dar ajuda aos mais aflitos. “Isto tem uma componente de desafio, mas não é propriamente uma competição. Claro que há uma componente competitiva, porque é isso que permite que haja desenvolvimento, mas a partilha também é muito importante. É por isso que na competição de dança, as equipas têm que se juntar em grupos de quatro e fazer uma coreografia em conjunto.

José Diogo, Pedro Correia e Pedro Jesus não sabem se vão dormir para ter tudo pronto horas. Foto: Rui Dias / O MINHO

Pedro Jesus, de 16 anos, Pedro Correia e José Diogo, de 17, vêm da Escola EB 2,3 e Secundária de Lanheses, Viana do Castelo e não estão tão seguros de que vão conseguir uma boa prestação como os alunos dos Pupilos. “É o primeiro ano que estamos a participar”, queixa-se Pedro Correia. Enquanto fala, um cheiro a queimado inunda o ar, é o ferro de soldar, mal pousado por um dos colegas, está a queimar um fio elétrico. “Há escolas mais orientadas para esta área”, explica José Diogo. São alunos do 11º ano, no curso de Eletrónica, Automação e Computadores e vieram pelo desafio da programação.

Os robôs são todos iguais, a programação faz a diferença

Os robôs em prova são todos iguais, fornecidos às equipas no momento em que chegaram à UMinho, totalmente desmontados. “O que vai fazer a diferença é a montagem e, principalmente a programação”, explica Pedro Jesus.

Ao lado do professor Fernando Ribeiro, durante a apresentação. Foto: Rui Dias / O MINHO

Os mais novos e os visitantes têm oportunidade de passar pelo stand do LAR e ver o que fazem os colegas mais velhos, dos cursos de mestrado e doutoramento da UMinho. Neste caso, podem conhecer o CHARMIE e a equipa que o apurou para a RobotCup 2023 (Campeonato do Mundo). O CHARMIE é um robô colaborativo e de assistência que pode ajudar pessoas idosas ou com pouca mobilidade a desempenhar tarefas do dia-a-dia. 

CHARMIE vai buscar uma garrafa de água. Foto: Rui Dias / O MINHO

O robô tem contornos humanoides, “mas sem exageros, porque a certa altura percebemos que aquelas faces de silicone, muito parecidas com o rosto humano geravam mais desconfiança nos utilizadores”, explica Tiago Ribeiro, que está a fazer o seu doutoramento à volta deste projeto.

Entre as características que tornam o CHARMIE único e que lhe garantiram o apuramento para a prova do Campeonato do Mundo, “está o facto de ele ser capaz de fazer um movimento do tipo vénia, para poder agarrar objetos do chão, mesmo que não estejam imediatamente à sua frente”, explica o investigador. A interação com o CHARMIE é feita em linguagem corrente, “para já, apenas em inglês, mas brevemente vai haver uma versão em português”. Quando chega a um ambiente novo, por exemplo uma casa, “o CHARMIE faz um reconhecimento do espaço e aprende sozinho onde ficam as coisas, se encontra uma cama sabe que ali é um quarto e assim por diante”.

Equipa do CHARMIE procura apoio para ir ao Campeonato do Mundo

O CHARMIE e a equipa com os “pais e as mães” que lhe dão vida. Foto: Rui Dias / O MINHO

“O nosso objetivo é levar esta equipa à RobotCup, agora que estão apurados, mas ainda não temos financiamento”, lamenta Fernando Ribeiro, professor orientador do projeto, a par com Gil Lopes. “O ano passado, foi na Tailândia e estava completamente fora de hipótese, até porque transportar o CHARMIE num avião custa milhares de euros. Este ano é em Bordéus, de 4 a 10 de julho, e pensamos levá-lo numa carrinha, juntamente com alguns elementos da equipa”, esclarece o professor. Para já, o projeto tem apenas o patrocínio da JEF, uma marca de vestuário que faz o colete com que o CHARMIE se apresenta.

CHARMIE pega em diferentes objetos Foto: DR

Entretanto, as equipas participantes na Roboparty que têm os seus projetos mais adiantados preparam-se para a primeira noite. A música e a animação no pavilhão já serenaram e quem vai dormir estende os sacos cama em cima dos colchões de ginástica que a organização colocou no chão. Corre-se uma grande cortina preta que separa os que descansam dos que vão ficar de pé toda a noite, para recuperar o atraso ou para não perder pitada da paródia que também faz parte do evento. Na sexta-feira, já há competições.

 
Total
0
Shares
Artigos Relacionados