O sonho português de uma segunda medalha olímpica nos Jogos Rio2016 esfumou-se nos últimos 100 metros do K2 1000 metros, com Emanuel Silva e João Ribeiro a terem de contentar-se com o quarto lugar.
Era o pior dos lugares e foi nele que Emanuel Silva, prata em Londres2012, e o estreante João Ribeiro ficaram. Ao K2 luso faltou 100 metros para chegar ao bronze, que lhes escapou por 28 centésimos de segundo para a embarcação australiana.
A Lagoa Rodrigues de Freitas voltou a ser ‘madrasta’ para as aspirações nacionais: os portugueses arrancaram como os favoritos para serem terceiros aos 250 metros, mantiveram o ritmo para segurar a posição aos 500 e aceleraram para seguir a Alemanha e colocarem-se no segundo lugar aos 750 metros.
A estratégia era seguir os alemães, campeões do Mundo e agora novos campeões olímpicos, com o tempo de 03.10,781 minutos, mas, na ponta final, Silva e Ribeiro não tiveram forças para segurar o pódio, completando os 1.000 metros a 2,108 segundos dos vencedores.
Só quando cortaram a linha imaginária inscrita na água e olharam para o lado é que os portugueses perceberam da aproximação da Austrália, terceira, a 1,812 segundos – a prata foi para a Sérvia, que completou a prova a 0,188 segundos da Alemanha -, tinha sido fatal.
A penúltima hipótese de redenção da canoagem lusa no Rio2016 acabou em desilusão, sobretudo para Emanuel Silva, que ficou muito perto de entrar no restrito lote de atletas com dois ‘metais’, juntando-se aos fundistas Carlos Lopes (ouro em 1984 e prata em 76), Rosa Mota (ouro em 1988 e bronze em 84) e Fernanda Ribeiro (ouro em 1996 e bronze 2000) e a Luís Mena e Silva, do equestre (bronzes em 1936 e 48).
Portugal tem ainda mais um trunfo para tentar a medalha no Rio2016, com o K4 1.000 metros, composto por Silva, Pimenta, Ribeiro e David Fernandes a entrar em competição na sexta-feira.
Declarações de Emanuel Silva:
O canoísta Emanuel Silva lamentou que o K2 1.000 metros tenha ficado no primeiro lugar dos últimos nos Jogos Olímpicos Rio2016, reconhecendo a frustração por chegar a Portugal sem a recompensa do seu esforço.
“O quarto lugar? É o primeiro lugar dos últimos, infelizmente. Só depois de cortar a meta, quando olho para o meu lado esquerdo, onde estavam os candidatos, é que reparei que tínhamos sido ultrapassados pelos australianos. Nós, durante a prova, sabíamos que vínhamos nos lugares da frente, eu estava a ter essa noção, tive de acreditar. O João tinha ordens para não olhar para o lado, tinha de seguir o meu ritmo e a minha estratégia. Foi quase perfeito, porque perfeito teria sido uma medalha. É frustrante”, assumiu o medalha de prata de Londres2012.
Emanuel Silva, que há quatro anos conquistou a medalha ao lado de Fernando Pimenta e no Rio2016 fez dupla com João Ribeiro, frisou que por 28 centésimos se ganha, por 28 centésimos se perde, aludindo à diferença a que a embarcação lusa ficou do bronze da Austrália.
“Por isso mesmo, hoje não foi o dia das medalhas para Portugal. Não vou dizer que estou triste, estou contente, um bocado frustrado. É uma mistura de sensações e emoções. Agora é descansar, amanhã [sexta-feira] nasce um novo dia, novas oportunidades. Temos o K4, vamos descansar, vamo-nos juntar ao Fernando e ao David e vamos procurar um melhor resultado”, prometeu.
O mais experiente dos canoístas nacionais revelou que a primeira frase que dirigiu ao seu parceiro, estreante em Jogos Olímpicos, foi “Tá boa, não deu para mais”.
“Ele sabe o que eu sinto, ambos sentimos o mesmo. Sentimos aquela angústia do quarto lugar, é aquele lugar que ninguém deseja. Nós abdicámos de tantas coisas nas nossas vidas, família, amigos, para lutar por um objetivo e chegas aqui e és quarto? Nada melhor que chegar a Portugal com uma medalha e dizer ‘Está aqui o esforço recompensado’. Infelizmente é assim a vida”, disse, emocionado.
Emanuel Silva defendeu que hoje os adversários foram simplesmente mais fortes, recusando apresentar desculpas por não terem chegado às medalhas.
“Fizemos a nossa estratégia, fizemos a nossa tática de prova, era isto que tínhamos de fazer, ir com os alemães que eram os grandes candidatos. Eles vinham ao nosso lado, eram uma boa referência. Treinámos para isso, sabíamos que os candidatos eram eles, tentámos não os deixar fugir. Possivelmente, sei lá, se a meta fosse a 998 metros teríamos a medalha de bronze. Mas foram 1000, não chegou, os outros foram mais fortes”, completou.
O canoísta do Sporting garantiu que tanto ele como João Ribeiro renderam o máximo, uma vez que estavam preparados física e emocionalmente para isso.
“As pessoas que nos rodeiam estão do nosso lado, desde 2013 que estão connosco, quando esta dupla foi campeã do Mundo de K2 500. Desde que esta dupla se juntou que acreditámos sempre um no outro. O João é um bom atleta. Cada vez gosto mais de pagaiar, cada vez gosto mais desta adrenalina da competição, eu adoro treinar, adoro competir e adoro ganhar. Esta dupla tem sucesso e é continuar a trabalhar. Isto não é o fim do mundo, não acaba o mundo amanhã. Existe mais vida para lá desta regata. Esta regata já é passado”, sublinhou.
Recordado de que Fernando Pimenta, ao ser quinto no K1 1.000 metros, disparou que estaria ainda mais furioso no K4, Silva respondeu “Ainda bem”.
“Eu em todos os barcos que entro estou sempre com raiva, furioso, é esse o meu instinto animalesco que está em cada pagaiada que dou, porque eu nunca fico satisfeito com os resultados. Já tenho 31 anos e não estou cansado disto, cada vez me dá mais prazer representar o meu país, os portugueses. É o meu maior orgulho. Por isso cada tripulação que faço vou com tudo, vou com a minha experiência, aproveito a motivação dos meus parceiros para fazer o barco andar mais rápido possível”, confessou.
Declarações de João Ribeiro:
O canoísta João Ribeiro mostrou-se desiludido por não ter entrado para o grupo dos medalhados olímpicos.
“Vínhamos com o objetivo claro de entrar na final e depois disputar as medalhas. Ontem [quarta-feira], correu super bem, hoje também nos sentimos muito bem durante a prova, faltou esse bocadinho para a medalha. Gostava de ter entrado para o grupo dos medalhados olímpicos, ainda não foi possível, quem sabe se no K4 não conseguimos algo bom”, começou por dizer.
O estreante em Jogos Olímpicos admitiu que a dupla lusa sabia o que tinha de fazer, passando a estratégia por sair bem e acompanhar os alemães, que se sagraram campeões olímpicos.
“Tínhamos a nossa estratégia de ali aos 500 metros tentar ainda dar mais um bocadinho. Conseguimos manter-nos. Depois sabíamos que nos últimos 200 metros era dar tudo o que tínhamos e o que não tínhamos para chegar ao pódio. Por muito pouco não conseguimos. É a vida, o desporto é mesmo assim. É isto que vivemos, é desta adrenalina que gostamos e agora é descontrair que amanhã há mais”, resumiu.
João Ribeiro não acusou a pressão da estreia olímpica e abstraiu-se de tudo à sua volta: “Sentia que estava super descontraído. Às vezes, quando estamos nervosos o barco treme um bocadinho antes da largada, mas não tremeu, estávamos super descontraídos. Sabíamos que se fizéssemos a nossa prova ia correr bem e que podíamos sacar uma medalha. Fizemos tudo perfeito, não deu, por pouco. Vamos levantar a cabeça”.
O canoísta de Esposende, que na sexta-feira cumpre 27 anos, assegurou que ele e Emanuel Silva não estarão desgastados para o K4 1.000 metros.
“Vamos estar certamente bem porque trabalhámos muitos. Preparámo-nos ao longo do ano todo, porque sabíamos que ia ser assim, as provamos que íamos ter. Claro que agora estamos fatigados, acabámos agora mesmo a prova, mas agora vamos recuperar, vamos descontrair, vamos ter o nosso fisioterapeuta e o nosso massagista a recuperar-nos bem. Agora é ter uma boa noite de sono e amanhã vamos estar fortes com certeza”, acrescentou.
João Ribeiro apontou como objetivo primordial do K4 o apuramento para a final, mas recordou que para o coletivo estar bem é necessário que os quatro canoístas estejam fortes individualmente.
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