O presidente do PSD, Rui Rio, considerou hoje que a saída de Mário Centeno do Governo ocorre de forma inglória e confirma que “algo estava bastante mal” entre o ministro das Finanças e o primeiro-ministro.
“Eu que já ando na política há uns anos percebi que não estava tudo bem. Não sei se as pessoas, se os portugueses de um modo geral, se deixaram enganar, achando que estava tudo bem. Era notório que não estava e a coisa acabou desta forma. E acaba desta forma relativamente inglória”, afirmou.
Rui Rio falava no Fundão, distrito de Castelo Branco, à margem de uma visita que realizou a um pomar de cerejeiras que foi profundamente afetado por uma trovoada que ocorreu no dia 31 de maio e pelas condições meteorológicas adversas de final de março e abril.
Questionado sobre a saída do ministro das Finanças do atual Governo, Rui Rio lembrou que já tinha previsto esse desfecho: “Só me falta a mim acertar no totoloto”, apontou.
Ainda assim, Rio defendeu que Centeno abandona o governo de forma “relativamente inglória”, dado que a saída foi divulgada antes mesmo da divulgação do Orçamento Suplementar, e o ministro cessante já não irá ao parlamento defender o documento.
“Isto não faz sentido. É uma pressa que demonstra que algo de bastante mal está ali, pelo menos entre o ministro/Ministério das Finanças e o primeiro-ministro”, sustentou.
O presidente do PSD também ressalvou que este alegado desentendimento já se fazia sentir há algum tempo e salientou que o desenlace se estava a desenhar desde a tomada de posse.
Para Rui Rio, nesse momento, ficou patente uma “despromoção” de Mário Centeno, isto apesar de na campanha eleitoral o PS ter colocado o próprio no papel de “Cristiano Ronaldo das Finanças”.
“Não sei porque é que o ex-ministro aceitou essa despromoção, menos sei porque é que o primeiro-ministro o despromoveu”, apontou, acrescentado esperar que isso não signifique uma vontade de governar de forma “mais laxista”.
O líder social-democrata recordou ainda o “episódio do Novo Banco”, em que Centeno e Costa deram indicações contraditórias sobre a transferência de quase mil milhões de euros do Fundo de Resolução para a instituição, como um dos momentos em que ficou patente que “algo estava mal”.
Lembrando que, desde logo, considerou que Mário Centeno não tinha condições para continuar, classificou como uma “encenação que deveria ter sido evitada”, os momentos que se seguiram com Mário Centeno e o primeiro-ministro, António Costa, a afiançarem que estava tudo bem.
Questionado sobre as expectativas relativamente à substituição pelo secretário de Estado do Orçamento, João Leão, Rui Rio disse esperar que seja mantida “a mesma linha de rigor financeiro” que tem sido seguida e salientou que é “absolutamente vital” que os fundos que vão ser injetados na economia portuguesa sejam geridos “com parcimónia e com muito, muito rigor”.
Quanto à possibilidade de Mário Centeno ir para o Banco de Portugal, o presidente social-democrata reiterou que é “desaconselhável” que alguém que saía do Governo vá diretamente para essa função no Banco de Portugal e defendeu a necessidade de cumprir um “período de nojo”.
O Presidente da República aceitou hoje a exoneração de Mário Centeno como ministro de Estado e das Finanças, proposta pelo primeiro-ministro, e a sua substituição por João Leão, até agora secretário de Estado do Orçamento.
A equipa liderada por Mário Centeno era composta por Ricardo Mourinho Félix, João Leão (secretário de Estado do Orçamento, agora promovido a ministro de Estado e das Finanças), Álvaro Novo (secretário de Estado do Tesouro) e António Mendonça Mendes (secretário de Estado dos Assuntos Fiscais).
O primeiro-ministro, António Costa, garantiu hoje que a mudança de ministro de Estado e das Finanças é “uma tranquila passagem de testemunho”, considerando que “este é o `timing´ certo” para esta alteração.