Ricardo Rio critica decisão sobre bairros comerciais digitais feita em Lisboa

“Conviria que existisse algum conhecimento mais próximo dos territórios”
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO / Arquivo

A decisão sobre o projeto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) de bairros comerciais digitais estar a ser feita por entidades sediadas em Lisboa gerou críticas a Norte, nomeadamente de dois presidentes de comunidades intermunicipais ouvidos pela Lusa.

“Sendo isto uma iniciativa dirigida sobretudo para territórios de proximidade, e até a própria designação assim o sugere, conviria que existisse algum conhecimento mais próximo de cada um dos territórios”, disse à Lusa o presidente da comunidade intermunicipal (CIM) do Cávado, Ricardo Rio, também presidente da Câmara de Braga.

Já Jorge Fidalgo, presidente da CIM das Terras de Trás-os-Montes e autarca de Vimioso (distrito de Bragança), lembrou que “são situações que se vêm repetindo”, e que numa altura em que se fala de descentralização, “os territórios são sempre colocados um pouco à margem do que é a decisão”.

Em causa está o facto de o júri sobre os projetos dos bairros comerciais digitais, projeto do PRR, ser composto por entidades sediadas em Lisboa, apesar de procurarem enquadrar “o vetor da proximidade e da coesão territorial, promovendo a valorização da evidência física e da requalificação dos espaços”, segundo o projeto.

Ricardo Rio salientou que este projeto não é “exclusivamente dirigido para centros marcadamente urbanos”, algo confirmado pelo Governo nas respostas enviadas à Lusa pelo ministério da Economia e do Mar: o investimento nos bairros comerciais digitais “tem como objetivo a digitalização de áreas comerciais localizadas em centros urbanos, zonas suburbanas ou rurais”.

Já questionado sobre de que forma o projeto será avaliado na sua componente de proximidade, bem como se estão previstas deslocações aos locais candidatos, o Governo referiu que a avaliação incidirá “quer na documentação submetida na fase de manifestação de interesse, quer, se necessário, na possível organização de sessões de apresentação dos projetos pelos requerentes”.

“Uma coisa é nós padronizarmos este tipo de avisos e as candidaturas que lhes estão associadas, e outra coisa seria perceber quais são as dinâmicas próprias de cada um dos territórios e as especificidades, mesmo dentro deste espírito global, que poderiam ser ajustadas a cada uma das necessidades desses mesmos territórios”, sustenta Ricardo Rio.

Já Jorge Fidalgo ressalva que não está “em causa a competência das instituições” que decidem, mas que se trata, “obviamente, de tornar o processo mais descentralizado possível, e isso seria o correto”.

Para o autarca transmontano, “ao não integrar as instituições dos diferentes territórios, está-se a pôr em causa as instituições desses territórios”, questionando que se “a CCDR-N já avalia muitas candidaturas dos municípios, porque é que não haveria de avaliar mais uma?”.

“A CCDR-Norte não tem qualquer responsabilidade na formatação deste concurso e das condições destes financiamentos, embora gostássemos de o ter e a região o tenha defendido”, disse o presidente da comissão, António Cunha, numa sessão de apresentação do projeto em 25 de fevereiro.

Questionada pela Lusa sobre este projeto, fonte oficial da CCDR-N recordou que a entidade “tem uma elevada experiência de gestão de financiamentos aos municípios e às suas associações, assim como a projetos de desenvolvimento local e regional, e dispõe de um conhecimento invejável da região Norte”.

“O conhecimento de proximidade é sempre uma vantagem. A CCDR-Norte está disponível para colocar o seu conhecimento ao serviço do PRR e de outras políticas públicas de cariz territorial”, disse a mesma fonte.

O ministério da Economia e do Mar disse, nas respostas à Lusa, que as CCDR “colaboraram na divulgação deste projeto ao nível regional (NUTS II) junto de potenciais interessados”.

O júri para o projeto dos bairros comerciais digitais é composto por IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, Direção-Geral das Atividades Económicas (DGAE), Estrutura de Missão Portugal Digital (EMPD), Portugal Global – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e Autoridade de Gestão do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (COMPETE 2020).

Podem ainda ser consultados “dois peritos pertencentes à Academia, da área da Geografia e do Ordenamento do Território e/ou das Tecnologias Digitais”.

 
Total
0
Partilhas
Artigo Anterior

Pancadaria em rua de Viana alegadamente por causa de casaco do FC Porto

Próximo Artigo

Atenção. Hoje há risco muito elevado de exposição aos raios ultravioleta

Artigos Relacionados
x