O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, foi hoje assobiado por manifestantes à chegada a um evento na freguesia de Ferreiros, em Braga. Em causa está a futura construção de habitações de cariz camarário junto a uns prédios já existentes.
Ao que apurou O MINHO, a mais recente reunião entre a comissão de moradores desses prédios e a autarquia não teve um desfecho consensual, com os promotores de um abaixo-assinado levado a cabo pelos moradores a ficarem insatisfeitos. No entanto, está agendada um novo encontro para dia 02 de setembro.
Este sábado, Ricardo Rio dirigiu-se à freguesia para onde está prevista a empreitada para apresentação da candidatura da coligação Juntos por Braga àquela união de freguesias, mas a receção foi bastante atribulada. É que os moradores acharam um insultuoso o comício realizar-se a “50 metros do local onde está apontada a construção das novas habitações”.
No local, cerca de uma dezena de manifestantes empunhavam cartazes de protesto, assobiavam e recorriam a apitos para mostrar a indignação por não verem as suas intenções atendidas pelo edil. “Senhor presidente, as nossas famílias aguardam resposta”, ou “Sim à família, não aos bairros sociais”, eram algumas das frases escritas em cartolinas improvisadas.
Conforme noticiou O MINHO em primeira mão, em abril de 2021, uma comissão de moradores da freguesia de Ferreiros fez circular por várias freguesias do concelho de Braga um ‘abaixo-assinado’, a que O MINHO teve acesso, onde solicita a não construção de habitações de cariz social na Rua Edgardo Sá Malheiro, em Ferreiros, já no limite com a freguesia de Aveleda (zona de Mazagão).
Este sábado, durante a intervenção na apresentação política, Rio justificou a escolha de Ferreiros após análise dos terrenos camarários em todo o concelho, explicou o cariz em que as construções serão construídas mas os manifestantes afirmam que é tudo mentira e que são famílias de bairros sociais da cidade vão para as novas habitações. Face à contínua contestação dos moradores, o edil decidiu não dar mais explicações.
“Não vamos oferecer habitações, é permitir para que pessoas que não tenham condições tenham acesso a habitação condigna. Ferreiros tem muitas famílias que precisam dessa resposta e têm de ter condições em custos económicos, de aquisição ou arrendamento, aceder a essa habitação. Foi nesse contesto que surgiu o projeto para a Edgardo Malheiro. O que sucedeu nas redes sociais é uma vergonha”, disse Rio, pouco antes de ser interrompido pelos manifestantes.
Os moradores alegam que ali serão realojadas famílias provenientes de bairros sociais, mas o presidente da Câmara disse ao nosso jornal que as futuras habitações vão servir para alojar pessoas mais carenciadas da freguesia de Ferreiros e freguesias limítrofes, conforme disse hoje aos moradores.
Em causa está o reforço da habitação social no concelho através da Estratégia Municipal de Habitação, que pretende aproveitar dois terrenos propriedade da autarquia para avançar com a construção de novos fogos sociais. Um desses terrenos é o já citado e o outro é no atual Bairro das Enguardas, que já é um complexo de habitação social.
Mas alguns moradores não estão contentes e fizeram circular a petição onde pedem a “revogação imediata da decisão de construção de 59 fogos de habitações acessíveis num terreno municipal situado na Rua Edgardo Malheiro”.
Para sustentar o pedido, a comissão apresenta três pontos: o terreno deveria ser um espaço de lazer, a “segregação social” por famílias pobres morarem juntas e a “desestabilização social” para a “pacata comunidade” que já lá habita.
A comissão crê que o espaço em causa deve ser para usufruto das famílias que já residem naquela área conhecida por ser “pacata”, e que a construção de “bairros sociais” já se demonstrou ineficaz, aumentando a prática de atos ilícitos nos locais onde são construídos e levando a que alguns já tenham sido demolidos.
Documento “enferma de várias inverdades”, diz presidente da Câmara
A propósito das intenções dos moradores, a O MINHO, o presidente da Câmara de Braga havia dito que o abaixo assinado “enferma de várias inverdades, provavelmente motivadas pelo desconhecimento dos seus promotores”.
O autarca faz notar que este projeto insere-se na Estratégia Local de Habitação “cujas ações se encontram maioritariamente dependentes dos instrumentos de financiamento que venha a ser possível obter no âmbito da Nova Geração de Políticas de Habitação”.
“Sem prejuízo do exposto, sempre se diga que no local em causa não se encontra prevista a construção de 59 fogos, antes se tratando de 38 habitações, de tipologia variável entre T1 a T4, de estética e dimensão semelhantes aos blocos vizinhos”, explica Ricardo Rio, rejeitando assim a construção do chamado “bairro social”.
Garante ainda que estas habitações procurarão “alojar sobretudo, famílias provenientes da própria União de Freguesias de Ferreiros e Gondizalves e freguesias limítrofes”, rejeitando acusações de moradores que afirmam que os novos inquilinos vêm de outros bairros sociais já existentes na cidade.