No sábado, os militantes do Partido Socialista (PS) escolhem o novo presidente da Federação Distrital de Braga. A escolha é entre o atual líder, Joaquim Barreto, e Ricardo Costa, que promete uma nova forma de fazer política. Em entrevista a O MINHO, o vereador da Câmara de Guimarães e candidato da Lista B acusa o adversário de “dividir para reinar” e diz mesmo que Joaquim Barreto teve “intervenção direta” na suspensão do mandato de um vereador na Câmara de Barcelos. Responsabilizando o atual presidente da Federação por o partido, atualmente, deter apenas quatro câmaras no distrito, aponta como objetivo conquistar “pelo menos mais quatro” em 2021.
Se vencer a Federação Distrital, a primeira batalha eleitoral que terá são as presidenciais. Como vê um possível apoio do PS à recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa?
A minha primeira batalha chama-se Federação Distrital de Braga. E a seguir é unir o PS em Braga. Preparar candidatos e ganhar câmaras municipais. Depois da eleição da Federação, terei a minha opinião em consonância com o PS, porque o partido não é unipessoal. O PS somos todos, existem os órgãos e é lá que depois se discutirão esses temas. A minha preocupação é ganhar a Federação Distrital de Braga, devido ao marasmo em que a mesma se encontra. E à falta de estratégia. Uma Federação não existe apenas para gerir lugares administrativos, existe para ter uma estratégia para o distrito e para onde queremos caminhar no país. Porque o distrito de Braga é demasiadamente importante para não ter uma palavra a dizer no país. A minha batalha é ganhar a Federação e unir o partido que está todo dividido no distrito. É por todos os concelhos que há divisões.
Ainda no plano da política nacional, que avaliação faz da gestão do governo nesta legislatura, sem suporte maioritário na Assembleia da República?
É uma avaliação muito positiva. O governo soube estar à altura dos desafios, que eram enormes. Ninguém está preparado para gerir uma crise pandémica como esta, que depois tem repercussões a nível económico e social. O governo geriu muito bem este processo. Se há momento em que devemos dar louvores a um governo e a um partido, este é o momento certo, porque quando uns defendem o neoliberalismo, a política de direita, de não intervenção do Estado na economia, na saúde, na educação, ficou provado que quando há problemas sérios, de uma dimensão global, só a intervenção do Estado é que nos garante a liberdade. Isso é claro como a água. Se há momento em que ficou provado que a política do PS está no rumo certo foi este. O governo está de parabéns e, no caso, o nosso primeiro-ministro, António Costa.
E não gostava de ter visto a ‘geringonça’ prolongada nesta legislatura?
Aquilo que neste momento está a acontecer no país foi o que os portugueses quiseram. Quem manda são os portugueses, são os eleitores que decidem e normalmente decidem bem.
O PS tem atualmente apenas quatro câmara no distrito de Braga, em 2013 eram seis, em 2009 eram oito. Que análise faz destes resultados?
Diria que a análise que eu vou fazer é a análise certa. Em 14 concelhos já fomos poder em nove e, neste momento, somos em quatro, e porque, em duas delas [Fafe e Barcelos], a Direção Nacional impôs os candidatos. Senão, se calhar, tínhamos apenas duas. Se há marca que esta Federação tem é a marca da divisão, é a marca da destruição. Não podemos continuar a assistir de cadeirão a este tipo de estratégia de dividir para reinar. É pôr uns contra os outros para ocupar o espaço. Não podemos pôr a política ao serviço individual e é isso que está a acontecer. A política é para servir os cidadãos, enquanto não percebermos isto nunca mais transformamos a política ou os partidos em currículo em vez de cadastro. Neste momento, ser político é quase ter cadastro e, por isso, afastamos as pessoas. Não, a política é a arte mais nobre que há. Sem política, sem partidos, não há sociedades organizadas. E compete-nos a nós, políticos que nos candidatamos a cargos, credibilizar os partidos. Só com esta credibilização é que o cidadão acredita nos partidos. Se não dermos este sinal claro e trouxermos a ética e a verdade para dentro dos partidos, da política e da gestão da coisa pública, não vamos lá. E vamos ter problemas no médio prazo, é uma questão de tempo. Já temos assistido a extremismo que vêm ocupar um espaço que estamos a deixar livre, porque respondem ao que os cidadãos querem, falam para um auditório. As pessoas estão cansadas deste modus operandi, não é possível continuar assim.
É fácil depreender das suas palavras que culpa na totalidade o seu adversário Joaquim Barreto por estas perdas de câmaras no distrito.
Mais do que encontrar um culpado, é encontrar uma forma de estar. E nos últimos anos temos encontrado divisões constantes em todos os concelhos. Nas últimas autárquicas, de 14 concelhos, tivemos em sete deles candidaturas do PS e de independentes dissidentes do PS. Isto é um sinal da divisão, do quanto pior melhor. Os militantes é que têm que fazer esta análise, esta reflexão, e perceber que o interesse coletivo tem que ser maior que o interesse individual. E neste caso não tem sido assim. Esta Federação tem criado divisões em vários concelhos para poder continuar no poder. E isto envergonha o PS, não é possível continuar com isto.
As últimas autárquicas foram marcadas por divisões internas, sobretudo em Fafe e em Barcelos, nas quais houve movimentos independentes que retiraram as maiorias absolutas ao PS. Considera que estas divisões já estão sanadas ou ainda vão ter impacto nas próximas autárquicas?
Estas divisões só acabam se a Federação mudar de mãos, porque estas podem-se sanar, mas a seguir há outras. Na gestão desta Federação o interesse pessoal prevalece sobre o interesse coletivo. É óbvio e claro. Se estas divisões acabarem, há outras que vão ser fomentadas. A Federação de Braga só passa a ter sossego e credibilidade no distrito e no país, junto do governo, se a Federação mudar de mãos. Há seis meses que ando no terreno e, em vários concelhos, existem problemas do arco da velha, perdoe-me a expressão, que ninguém sequer imagina. Para quê? Para servir os interesses individuais. Fazem promessas completamente inalcançáveis, sem sentido, em que a meritocracia não importa. E depois caímos no descrédito. Não é possível continuar com uma Federação neste registo. É tempo de um tempo novo. As pessoas têm que perceber quando devem sair. Os tempos são diferentes, tecnologicamente mais avançados, o nível de conhecimento necessário para gerir os problemas das pessoas são completamente diferentes, estamos numa outra dimensão. E só com novos protagonistas e uma nova união do partido é que podemos vencer os desafios do futuro.
Consigo a liderar a Federação, o que consideraria um bom número de câmaras para o PS?
O melhor resultado para o PS é recuperar as nove câmaras em que já fomos poder. Mas o que considero importante é que, além das quatro que temos, obviamente temos que ganhar muitas mais, mas se conseguirmos um resultado próximo das oito, nove câmaras, claro que é um resultado positivo. Claro que queremos as 14, queremos o máximo. Bem sabemos que não é impossível, mas é difícil, obviamente. Mas vamos lutar em todos os concelhos onde não somos poder. Mas vamos lutar de forma responsável, de forma a dizer aos eleitores qual é a nossa proposta de valor acrescentado para aquele concelho. Não vamos fazer oposição de terra queimada, não vamos fazer oposição de votar contra por votar. Vamos fazer oposição responsável, criteriosa e que faz parte do nosso plano de ação. Vamos dizer aos cidadãos o que queremos para os seus concelhos. E depois sim, mediante o que queremos na economia, na mobilidade, no social, no desporto, depois de apresentarmos o nosso programa aos concelhos, vamos agir em conformidade. Votar contra quando tivermos que votar contra e votar a favor se tiver que ser. Só assim nos conseguimos credibilizar.
E quais os concelhos em que o PS em 2021 deve apostar mais para voltar a esse número de 8/9 câmaras.
É uma discussão que teremos. Já tenho obviamente a minha ideia. O que lhe quero dizer é que nós pelo menos temos que conquistar mais quatro câmaras. E isso é um objetivo para 2021.
Como encara o apoio de 11 das 14 concelhias – exceto as de Vila Verde, Barcelos e Famalicão – ao seu adversário?
Está a falar de presidentes das comissões, não está a falar dos militantes.
Sim, mas os presidentes das comissões políticas são eleitos pelos militantes.
Mas tem que perceber a dimensão que elas representam neste contexto. E se o sr. Joaquim Barreto estivesse tranquilo não andava a fazer o que anda a fazer. E posso dar-lhe um caso concreto. Há um vereador em Barcelos que suspende o mandato por intervenção direta de Joaquim Barreto.
José Beleza suspendeu o mandato por causa de Joaquim Barreto?
Não tenho dúvidas do que lhe estou a dizer. Há provas irrefutáveis. E portanto já estamos a tentar dividir novamente num concelho que teve intervenção deste presidente da Federação nas últimas autárquicas e por sorte conseguimos ganhar com Miguel Costa Gomes. Mas não era esse o candidato de Joaquim Barreto. Mas esta suspensão acontece um dia antes da aprovação do relatório e contas, um dos documentos mais importantes do ano. Queriam criar uma crise política.
Essa coincidência temporal é a prova de que fala?
Existem mais provas. O que lhe posso dizer é que esta suspensão tem claramente intervenção do sr. presidente da Federação de Braga, não tenho dúvida nenhuma. Não podemos continuar em guerras constantes, não podemos fazer tudo por tudo para ganhar eleições, não vale tudo. E é esta falta de ética que não permitirei enquanto presidente da Federação.
Já que falou no caso de Barcelos, há uns tempos, Hugo Pires disse numa entrevista que o candidato de Barcelos seria avocado pela Nacional. Qual será a sua posição se isso acontecer?
As declarações do Secretário Nacional para a Organização são dele, não são minhas, terá que perguntar a Hugo Pires porque é que ele as fez. O que lhe posso dizer é que os candidatos serão decididos pelos militantes e pelos órgãos competentes do PS. Serão os militantes a dizer quem querem a candidato. Só assim é que possível agregar e construir.
O jornal Público noticiou que o PS queria escolher até agosto os candidatos das capitais de distrito e apontava Hugo Pires como o escolhido para Braga. Vê-o como um bom candidato, teria o seu apoio?
Vou-lhe responder da mesma forma. Isso são assuntos discutidos internamente e só depois são dadas as notícias. É prematuro discutir isso quando estamos a meio de umas eleições.
A sua concelhia apoia Joaquim Barreto, bem como o presidente da Câmara de Guimarães, da qual é vereador. Como encara esta situação?
Os presidentes das comissões políticas e os presidentes de câmara eleitos são militantes e valem o seu voto como todos valem e têm o seu direito de opção. É uma opção que tomaram, deve perguntar-lhes a eles porque o fazem, não é a mim que tem que perguntar.
Estou-lhe a perguntar como é que vê essa situação.
Eu aceito o apoio de presidentes das comissões políticas, que muito me honra, como aceito o apoio do militante base. Valem um voto. Já tomei posições contrárias ao sr. Presidente da Câmara, apoiando o deputado Luís Soares. E o deputado Luís Soares foi eleito. Apoiei também o sr. deputado Luís Soares para presidente da Comissão Política e o sr. presidente da Câmara apoiava o outro presidente da comissão. Já estivemos em lados opostos, já estivemos em lados comuns. Acertei nas duas vezes, é verdade, mas quem vai eleger são os militantes no dia 18 de julho.
No distrito de Braga, o PS cresceu nas legislativas e europeias, qual é a sua estratégia para capitalizar este voto para as autárquicas?
As eleições europeias e legislativas são eleições que são avaliadas no âmbito nacional e europeu, não são eleições que possam avaliar a distrital. Portanto, vamos escolher os candidatos [autárquicos] com tempo, com os militantes, unindo, agregando e onde todos contam.
Considera, então, que o partido cresceu nestas duas eleições apesar da Federação?
As eleições legislativas e europeias são completamente diferentes das autárquicas. A avaliação de uma Federação faz-se nas eleições autárquicas. Se nós tivermos um mau governo do PS, não é a Federação que vai impedir um mau resultado. As autárquicas é que são eleições locais onde a Federação tem intervenção direta, até na escolha de candidatos. Só aqui é que se pode avaliar e o desastre está à vista de todos. Em 14 câmaras já fomos poder em nove e agora somos quatro.
Para terminar, pedia-lhe uma mensagem para os militantes que no sábado vão votar.
A mensagem final que quero deixar aos militantes é que votem em consciência, sem medos, sem promessas, avaliando o que tem sido a gestão – ou a ausência dela – da Federação. Neste momento, as concelhias estão entregues a si próprias. É preciso refletir, é preciso pensar nas pessoas em primeiro lugar. Os militantes que pensem, que reflitam, que avaliem o trabalho desta Federação e que avaliem as propostas. Temos um projeto para o distrito, na economia, no social, no desporto, na mobilidade, e outro candidato não tem nenhum projeto para o distrito.
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