O internacional português Ricardinho despediu-se hoje das quadras de futsal depois de uma carreira repleta de magia, driblando as contrariedades com recordes e mais recordes, até se tornar um ídolo consensual.
A menos de três semanas de completar 40 anos de idade, Ricardinho colocou um ponto final a 24 épocas de sénior, tendo seis troféus individuais de melhor jogador de futsal do mundo e as principais provas de clubes ou seleções no seu palmarés.
Eleito o melhor dos melhores por um recorde de seis ocasiões (em 2010 e de 2014 a 2018), Ricardinho já se tinha despedido da seleção portuguesa, que representou 188 vezes, da forma mais espetacular possível, ao conquistar um inédito Mundial.
Foi, segundo o próprio, o melhor e o mais especial momento de uma carreira em que o ‘mágico’ ala globalizou o futsal e se tornou num dos principais responsáveis pelo fenómeno de popularidade que a modalidade cada vez mais tem vindo a alcançar.
Nascido em 03 de setembro de 1985, Ricardo Filipe da Silva Braga cresceu numa família humilde de Valbom, no município de Gondomar, e o seu amor ao desporto salvou-o de ser apenas outro ‘miúdo de bairro’, ‘vingando’ aí as amarguras da vida.
O sonho de ser futebolista fê-lo chegar às captações do FC Porto, mas acabou por ser dispensado pela baixa estatura – 1,65 metros –, o que o chateou, originando a abertura de portas ao futsal, primeiro no Gramidense Infante e depois no Miramar.
Foi no clube nortenho que se estreou como sénior na primeira divisão portuguesa e rapidamente despertou a atenção do Benfica, recém-chegado ao futsal e tendo o objetivo de destronar o rival Sporting da hegemonia nacional desta modalidade.
O efeito foi imediato: em sete temporadas seguidas, Ricardinho ajudou o clube da Luz a vencer quatro campeonatos, quatro Supertaças e quatro Taças de Portugal, mas o auge chegaria em 2009/10, com a conquista da inédita Liga dos Campeões.
No verão de 2007, foi convidado por Fernando Santos, então treinador do Benfica, a realizar a pré-temporada na equipa de futebol dos ‘encarnados’, o que se tornou muito falado na comunicação social na altura, mas decidiu permanecer no futsal.
De forma inesperada, rumou aos japoneses do Nagoya Oceans, conquistando três campeonatos noutros tantos anos, mas, pelo meio, ainda chegou por empréstimo aos russos do CSKA Moscovo, sem títulos, e ao Benfica, com o qual selou outro ‘triplete’.
Tornou-se evidente a necessidade de Ricardinho, no pico da sua carreira, retornar ao futsal europeu, e esse regresso deu-se através dos espanhóis do Inter Movistar, considerado na época o clube mais cotado a nível internacional, o que continuou.
Foi aí que, durante sete anos, Ricardinho foi o protagonista de mais duas Ligas dos Campeões e uns espetaculares seis títulos espanhóis, aos quais se acrescentam sete taças no país, ao mesmo tempo que, a nível pessoal, lidava com um divórcio.
Ainda representava o Inter Movistar quando contribuiu – e muito – para a primeira conquista de um Campeonato da Europa por Portugal, em 2018, que marca o início da era ‘dourada’ da seleção, assente nos títulos do Mundial2021 e do Europeu2022.
Ricardinho marcou presença em cinco fases finais de Europeus e outras quatro de Mundiais pela formação das ‘quinas’, tendo sido eleito o melhor futsalista nos dois títulos em que participou, para além de outros troféus individuais que conquistou.
A iniciar a fase descendente da carreira, começou a disputar campeonatos menos relevantes no panorama mundial, jogando nos franceses do ACCS, nos indonésios do Pendekar United, nos letões do Riga e, ainda, nos italianos do Ecocity Genzano.
Foram aventuras que serviram já mais numa ótica de ‘embaixador’ da modalidade, tendo rescindido contrato com a equipa italiana em janeiro deste ano e, desde aí, tem-se dedicado mais a diferentes ‘hobbies’, como o padel ou até mesmo o póquer.
Poucas semanas antes do anúncio do seu final de carreira, foi tornado público que Ricardinho integra a candidatura de Emídio Guerreiro (PSD/IL) à Câmara Municipal de Gondomar, na qualidade de vereador do Desporto no concelho em que nasceu.
