Revelado raro filme que retrata saída forçada dos habitantes de Vilarinho da Furna

O juiz da aldeia a fazer a chamada. Foto: Manuel Antunes / Arquivo

O filme “Vilarinho das Furnas”, da autoria de António Campos (1922-1999), que estreou em 1971, foi agora digitalizado. A exibição está marcada para 16 de setembro, às 20:30, no Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, em Terras de Bouro.

Esta é uma sessão especial, de entrada gratuita e ao ar livre, está integrada no programa europeu “A Season of Classic Films”, da Associação das Cinematecas Europeias.

O filme acompanha o processo de evacuação forçada da antiga aldeia comunitária de Vilarinho da Furna, no concelho de Terras de Bouro, e foi digitalizado pela Cinemateca Portuguesa ao abrigo do projeto FILMar, com o apoio do Mecanismo Financeiro Europeu EEAGrants 2020-2024, através do qual a filmografia do realizador tem sido trabalhada no último ano e meio.

“Considerado um precursor no cinema etnográfico, António Campos praticou, ao longo de quarenta anos, um cinema destemido e independente, pensado a partir da antropologia visual. A sua filmografia, seja na abordagem documental ou ficcional, desenha um olhar singular e sensível sobre as paisagens e as populações do território português”, explica a Cinemateca, em comunicado enviado a O MINHO.

“Vilarinho das Furnas”, a primeira longa-metragem de Campos, é o encontro do realizador com a história da aldeia de Vilarinho da Furna, afundada em 1971, por ordens do regime ditatorial do Estado Novo, para construir uma nova barragem.

A aldeia, encravada entre a Serra Amarela e do Gerês, caracterizava-se por uma organização social comunitária, de profunda cooperação entre vizinhos nas atividades agrícola e pastorícia, no planeamento comum do trabalho e na partilha de recursos naturais.

“Captando os últimos momentos de existência da aldeia, Campos constrói com este filme um documento singular da luta de uma comunidade contra um Estado autoritário e a velocidade esmagadora da industrialização”, descreve a Cinemateca Portuguesa.

53 anos depois do abandono forçado da aldeia pelos seus habitantes, o Museu Etnográfico é o local onde subsistem as memórias materiais de Vilarinho da Furna, como algumas casas, alfaias agrícolas, objetos pessoais e familiares, para além da memória visual e social de uma comunidade.

A sessão será precedida à tarde por uma visita guiada ao Museu e à barragem, organizada em colaboração com a AFURNA – Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna.
   
A presença da Cinemateca Portuguesa continuará, depois, entre 01 e 04 de outubro, com a organização de atividades educativas, em colaboração com o Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, o Plano Nacional de Cinema e o Agrupamento de Escolas de Terras de Bouro, com o objetivo de “aumentar a visibilidade da riqueza do património cinematográfico português e promover, junto dos públicos mais jovens, o cinema enquanto ferramenta para o conhecimento, a aprendizagem, a cultura e o saber”.

Com o apoio do projeto FILMar e do Município de Terras de Bouro, serão realizadas uma oficina de animação para pais e filhos, uma oficina de animação para alunos do 1.º ciclo e uma oficina de cinema documental para alunos do secundário.

Filme vai ficar disponível ‘online’

Traduzindo a dimensão europeia do “A Season of Classic Films”, a Cinemateca Portuguesa irá disponibilizar o filme gratuitamente, em plataforma ‘online’ na sua página, com legendas em inglês, francês e espanhol, entre os dias 17 de setembro e 04 de outubro, facilitando o acesso do público estrangeiro a esta obra, bem como contribuindo para uma maior divulgação do património fílmico nacional. A ligação contará também com a opção de legendagem portuguesa para surdos.  

A “Season of Classic Films” consiste num programa de atividades agendadas para o período entre junho e dezembro de 2023, em todo o continente europeu. A iniciativa é coordenada pela Associação das Cinematecas Europeias (ACE) e é apoiada pelo programa Creative Europe MEDIA da Comissão Europeia.

O FILMar é financiado pelo programa EEAGrants Portugal 2020-2024, no âmbito do Programa Cultura, operado pela Direção-Geral do Património Cultural.

 
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