Um movimento que agrega cerca de centena e meia de restaurantes de Braga vai, na quarta-feira, entregar as chaves dos estabelecimentos ao município, num ato simbólico para alertar para a “agonia” do setor decorrente da pandemia de covid-19.
O porta-voz do movimento, Tiago Carvalho, disse hoje à Lusa que a entrega das chaves integra uma manifestação contra a “gritante falta de medidas” por parte do Governo para acudir ao setor da restauração.
“Ou o Governo toma medidas a sério ou então não iremos precisar das chaves para nada”, referiu.
A manifestação vai também incluir uma exposição de mesas de todos os restaurantes aderentes, separadas pela distância “de segurança” estipulada no respetivo manual de procedimentos.
Haverá ainda uma exposição de “cadáveres” e espantalhos, que pretende simbolizar “o sentimento de derrota e a morte anunciada” do setor.
“Os cadáveres significam a morte do setor, os espantalhos pretendem retratar os sócios-gerentes dos restaurantes. É assim que fazem sentir, como uns espantalhos. Durante anos a fio somos contribuintes e agora, numa altura de profunda crise, não vemos tomada qualquer medida para nos salvar”, referiu Tiago Carvalho.
A manifestação é promovida pela União de Restaurantes de Braga de Apoio à Covid-19 (URBAC19), um movimento cívico espontâneo que reúne cerca de centena e meia de restaurantes da cidade de Braga e que representa perto de 1.500 postos de trabalho.
“Procurando dar rosto à nossa luta e à nossa união, para que não sejamos trucidados por esta pandemia e as medidas inócuas que nos propõem, entendemos que a nossa realidade deveria vir para a rua”, sublinha a URBAC19, em comunicado.
A URBAC19 refere que não se revê nas medidas apresentadas pelas associações do setor e já apresentou um manifesto com sete propostas que considera “fundamentadas e fundamentais” para a restauração.
Uma das propostas é um ‘lay-off’ adaptado, em que o Governo assume o pagamento integral dos salários durante o estado de emergência.
Ainda sobre ‘lay-off’, a URBAC propõe que nos três meses seguintes ao fim do estado de emergência, o Governo assuma o pagamento de 50% dos salários.
A URBAC quer ainda isenções, primeiro total e depois parcial, das contribuições à Segurança Social e IRS.
Em relação à banca, considera que deve suspender o pagamento de financiamentos em curso, apresentar juros mais baixos que a linha Capitalizar e permitir a todas as empresas aceder ao crédito, mesmo que apresentem capitais próprios negativos.
Isenção total de taxas e impostos das faturas de água, luz e gás e suspensão sem penalização dos contratos de comunicações é outra das propostas da URBAC, que reclama ainda o pagamento dos estímulos aprovados por parte do Instituto do Emprego e Formação Profissional.
“Se estas medidas não forem aplicadas, serão, sem dúvida, os sete pecados mortais para a restauração em Portugal”, sublinha a URBAC, aludindo a um “estrangulamento financeiro” que poderá obrigar muitos restaurantes a fechar portas ou reduzir as suas equipas.