O barco “Sempre em Frente” tem, este ano, o “orgulho” de levar ao mar o andor de Nossa Senhora d’Agonia para “agradecer” à padroeira a proteção a cada saída para a faina.
“Para qualquer pescador, é um orgulho e uma emoção especial levar o andor de Nossa Senhora. É a nossa padroeira. É nela que pensamos, sempre, que o barco se faz ao mar”, referiu hoje à Lusa o mestre da embarcação Ricardo Guia.
Além da segurança contra ventos e marés, as preces a “Nossa Senhora” ajudam a garantir o sustento das “bocas” que seguem a bordo do “Sempre em Frente”.
“Pedimos-lhe que nos dê muito peixinho. Tenho sete homens a viver do meu barco. Sete famílias que dependem do quinhão de cada dia de faina”, referiu.
Filho e neto de pescadores, Ricardo admite já ter pensado em “largar” a pesca, mas recuou: “Aos 41 anos de idade, já é um pouco tarde para mudar de vida”, desabafou, conformado com “os dias que correm melhor” e que compensam “os piores”, estes confortados pela devoção à Senhora d’Agonia.
“O Sempre em Frente é o barco da ribeira de Viana que mais vezes levou andores ao mar”, atirou. “Há 25 anos que levamos andores ao mar”, acrescentou orgulhoso. Como mestre, é a segunda vez que vai cumprir a missão e garante que o faz, “sempre, com uma grande emoção”.
“Todos os anos os pescadores oferecem-se para levar os andores, mas só leva a padroeira quem já tiver percorrido os quatro santos que acompanham a Senhora da Agonia”, explicou.
Além da Senhora da Agonia, são ainda transportadas na procissão as imagens da Senhora de Monserrate, de São Pedro e da Senhora dos Mares.
Este ano, vai também o andor de Nossa Senhora do Minho e o de Frei Bartolomeu dos Mártires que, desde 2015, passou a integrar a procissão.
Considerado um dos números mais emblemáticos da Romaria d’Agonia, a procissão ao mar e ao rio cumpre-se há 50 anos, sempre a 20 de agosto, desde 1968. Já o culto à padroeira dos pescadores tem a sua primeira referência escrita em 1744.
A solenidade do número religioso obrigou o “Sempre em Frente” a retocar a pintura. Com mais de 15 metros de comprimento, a embarcação está “pintada de fresco” e, na véspera da procissão, dia 19 à noite, vai ser “engalanado com flores, redes e outras artes de pesca”.
“É um momento em que família e amigos se juntam para embelezar o barco”, acrescentou.
Na segunda-feira, dia 20, as margens do rio Lima enchem-se. São milhares de pessoas concentradas para ver e saudar a procissão, envolvendo mais de uma centena de embarcações de pesca e de recreio.
No regresso a terra, os pescadores transportam os andores de novo à igreja situado no Campo da Agonia, passando pelas ruas da ribeira onde, durante a madrugada, foram confecionados, manualmente, os típicos tapetes de sal.
A confeção dos desenhos, gravados em cinco ruas e uma alameda, com mais de 30 toneladas de sal colorido, realiza-se sempre na noite anterior ao dia da padroeira, feriado municipal, mobilizando centenas de pessoas, sobretudo moradores daquela zona da cidade.
A preparação começa meses antes da festa, mas a “noite dos tapetes”, como é localmente conhecida, atrai milhares de forasteiros que se perdem pelas tasquinhas da ribeira, animadas durante toda a madrugada com concertinas e cantares ao desafio.