‘Pulmão’ de Braga ardeu há cinco anos. O que fez a Câmara para tentar evitar nova desgraça

Questionamos o vereador da Proteção Civil
'pulmão' de braga ardeu há cinco anos. O que fez a câmara para tentar evitar nova desgraça

Foi em 15 de outubro de 2017 que a cidade de Braga escureceu antes de cair a noite, com ‘os céus’ a serem tomados pelo fumo largado pelas chamas nos montes “sagrados” que há milénios protegem a ‘Bracara Augusta’. Dois armazéns e uma habitação familiar foram destruídos. 850 hectares arderam no concelho. “Nem um metro quadrado pertence à Câmara”, afirma o vereador da Proteção Civil, cinco anos volvidos do dia que “foi mau de mais para ser verdade”.

O MINHO foi saber, junto de Altino Bessa, o que foi feito para tentar evitar que nova situação se repita e, sempre o mais importante, o que falta fazer. O vereador não mostra qualquer dificuldade em recordar os passos dados, lembrando que, logo após o incêndio, Braga “foi o primeiro município a apresentar na Agência Portuguesa do Ambiente um pedido de financiamento de 200 mil euros em fundo ambiental e mais 130 mil euros para estabilização de linhas de água e limpeza de aquedutos afetados com os incêndios”.

Temia-se a chegada das chuvas e o desenvolvimento de possíveis ‘enxurradas’ potenciadas por obstáculos caídos nos pequenos ribeiros e riachos. Desbloquear as linhas foi necessariamente prioridade, uma vez que o calendário apontava o meio de outubro e o inverno já se mostrava, com a tempestade Ofélia a passar pelo Atlântico rumo às ilhas britânicas.

'pulmão' de braga ardeu há cinco anos. O que fez a câmara para tentar evitar nova desgraça
A encosta do Sameiro e do Bom Jesus foi consumida pelo incêndio. Foto: Paulo Jorge Magalhães

A candidatura, elucida Altino Bessa, foi aprovada, e para além da desobstrução, foi feita uma intervenção ao longo de 18 quilómetros nas linhas de água, “com a plantação de cerca 30 mil árvores nativas, adequadas ao terreno, para servirem como efeito tampão para futuros incêndios”.

O vereador explica que foi criada uma margem “de 10 metros para cada lado” dos cursos de água, onde toda a vegetação que tinha ardido foi limpa. “Ou seja, agora temos 18 quilómetros de linha de água com árvores mais resilientes ao fogo”, precisa.

No entanto, já passaram quatro anos desde a limpeza e, diz o vereador, “era preciso que houvesse manutenção”, até porque “na altura, o custo da intervenção foi de 330 mil euros”, um preço alto. E relembra que os terrenos são privados [ver aqui] e que seria necessário um edital para que se pudesse voltar a realizar uma intervenção semelhante, afirmando que a Câmara já fez “diligências” junto do executivo de António Costa para que haja manutenção, mas tem que ser “o Governo a disponibilizar a verba”.

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Construções nascem ao lado de grandes manchas de eucalipto. (14 de outubro de 2022). Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

Apesar do sucesso da intervenção que se seguiu aos incêndios, Bessa relembra que alguns proprietários não estavam favoráveis, e causaram alguns problemas: “Foi uma boa operação, mas para manter limpos esses 10 metros para cada lado, é preciso financiamento, porque não são as Câmaras que têm de arcar com isto, são terrenos privados e estamos a falar da necessidade de incluir instrumentos legais, como houve na altura, porque até tivemos um ou outro problema com proprietários que contestaram a intervenção, e só com a prova do edital é que os conseguimos convencer”.

Reforço de vigilância com meios municipais e contratação de serviços

Outra das medidas implementadas pela Câmara de Braga na sequência do devastador incêndio de 2017 passa pela inclusão de duas moto-quatro para integrar o dispositivo de vigilância na floresta durante os dias de alerta. Atualmente, estão ao serviço dos Bombeiros Sapadores. A vigilância ‘interna’ integra ainda duas carrinhas da Proteção Civil municipal.

'pulmão' de braga ardeu há cinco anos. O que fez a câmara para tentar evitar nova desgraça
Alguns dos meios disponíveis nos Bombeiros Sapadores de Braga. Foto: DR

A nível externo, a Câmara contrata os serviços da Associação Florestal do Cávado para fazer a gestão da floresta contra incêndios, ao longo de todo o ano. “Custam-nos 100 mil por ano, 50 mil cada uma, e não havia nenhuma equipa quando aqui chegamos [em 2013 a coligação PSD/CDS assumiu a Câmara]”, salientou. A autarquia financia ainda duas equipas permanentes (EIP) nos Bombeiros Voluntários de Braga, com 70 mil euros por ano, “e até já tem pedido para uma terceira”. Estes também fazem vigilância durante todo o ano.

Há ainda uma parceria com o Regimento de Cavalaria N.º 6, de Braga, para fazer vigilância na floresta durante o verão, “mas até essa parceria é paga”, lamenta o vereador, considerando que por se tratar do Exército português deveria prestar o serviço gratuitamente. Para alem dos demais, “também a Polícia Municipal colabora através de ações de vigilância”, sublinha, bem como “a PSP e a GNR”, com esta última a ter a gestão de postos fixos, como o situado na Santa Marta das Cortiças.

 
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