Dois detidos é o resultado de operação de investigação levada a cabo pela PSP de Famalicão e que colocou fim a rede nacional que utilizava a solidariedade e desespero alheio para faturar com peditórios falsos.
Segundo comunicado da PSP de Braga, as buscas, após seis meses de investigação, realizaram-se esta quarta-feira no centro da cidade de Vila Nova de Famalicão. No total foram cinco mandados de busca, sendo detidos dois cidadãos, de 40 e 68 anos de idade e uma cidadã de 35 anos de idade, residentes em Vila Nova de Famalicão, por suspeitas do crime de associação criminosa e burla qualificada.
A investigação refere-se à prática de burlas qualificadas por uma alegada “organização” liderada pelos suspeitos detidos e que atuava a partir de Famalicão.
Segundo a PSP, a mesma organização operava a coberto do nome de “várias associações de cariz social”, todas utilizando moradas falsas e elementos de identificação falsos.
“Nomeadamente números fiscais falsos. A organização centrava-se no concelho de Vila Nova de Famalicão mas também se ramificava por todo o território nacional e ilha da Madeira”, indicou fonte da PSP, acrescentando ainda o “modus operandis” do grupo.
“Consistia em previamente contactar telefonicamente pessoas, utilizando o nome de uma das associações e depois tentar obter a doação de dinheiro. Após confirmação do interesse das potenciais vítimas em doar dinheiro, era combinada a entrega de tal dinheiro, contra a entrega de um recibo no valor da doação e em nome da associação que havia sido indicada. As chamadas telefónicas eram efetuadas por jovens do sexo feminino, contratadas por períodos de curta duração, cerca de três semanas a um mês, as quais ao estabeleciam o contacto telefónico com as vítimas, alegavam que o dinheiro a doar se destinava a uma causa social, usualmente e concretamente associada a crianças com doenças oncológicas, com necessidade de tratamentos no estrangeiro, entre outros”, referiu a PSP.
As vítimas caiam no esquema e procediam à entrega mensal de dinheiro,sendo que maioria das vítimas burladas são pessoas aposentadas ou de meia-idade.
“Estimanos que haja duas mil vítimas de burla. Ainda se encontra por apurar o valor concreto das burlas praticadas pela organização, mas durante o intervalo de tempo em que operou a coberto das associações falsas por eles inventadas, terá angariado cerca de um milhão de euros em dinheiro, que gastaram em proveito próprio, sendo que nalguns casos as vitimas terão ficado em dificuldade financeira”, referiu a PSP em nota de imprensa.
De salientar que apenas dois dos suspeitos possuem antecedentes criminais por ilícitos de natureza semelhante, em concreto, pelos crimes de abuso de confiança e de falsificação de documentos. Durante as buscas domiciliárias foram apreendidos diversos objetos relacionados com a atividade ilícita desenvolvida.
“Milhares de fichas de identificação contendo os dados das vítimas (doadores), recibos falsos, carimbos falsos das associações acima indicadas, material informático diverso, inúmera documentação e apontamentos de toda a atividade ilícita, um veículo automóvel, e cerca de três centenas de euros em notas do Banco Central Europeu”, referiu a PSP.
Os detidos vão ser presentes esta quinta-feira, dia 29 de junho, aos Serviços do Ministério Público de Vila Nova de Famalicão para primeiro interrogatório judicial e aplicação das respetivas medidas de coação.