O PSD/Caminha acusou esta sexta-feira a Câmara local e o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) de “grave crime ambiental” na Serra d’Arga, pelo uso de um herbicida que contém glifosato no combate a uma espécie invasora.
Contactada pela agência Lusa, a Câmara de Caminha, afirmou que “a operação teve parecer favorável do ICNF e financiamento comunitário, tendo sido cumpridas as regras e a legislação me vigor”.
Já um pedido de esclarecimento enviado pela Lusa ao ICNF na quinta-feira não obteve resposta.
Em outubro, o comité de peritos da União Europeia (UE) sobre o glifosato decidiu adiar um voto sobre o prolongamento da licença para o uso do herbicida, que termina em dezembro.
Na altura, a Comissão Europeia fez saber que ia pedir uma renovação por cinco a sete anos, em vez dos dez previstos, na sequência de um voto não vinculativo do Parlamento Europeu (PE) defendendo a proibição do produto a partir de 2022.
Ambientalistas e grupos de consumidores continuam em desacordo com a indústria acerca da utilização do herbicida glifosato, os primeiros dizendo que é um produto cancerígeno, a segunda que é necessário para conseguir alimentos suficientes para a população europeia.
Em declarações à Lusa, o deputado do PSD na assembleia Municipal de Caminha João Lages deu nota da utilização, “no início do verão, do herbicida Roundup, cuja substância ativa é o glifosato, em mais de 500 hectares da Serra d’Arga, com a conivência e aval do executivo da Câmara Municipal de Caminha e do ICNF”.
Disse que o produto foi aplicado para eliminar uma espécie invasora, a hakea sericea – conhecida como háquea-espinhosa – “que se reproduz com maior rapidez com os fogos florestais” e acrescentou “existirem outras formas de combater sem recurso a este herbicida”.
“Parece-nos que é muito grave e criminoso face aos efeitos desse produto nos seres humanos e na biodiversidade. É um tema que está na ordem do dia”, sustentou João Lages.
O deputado do PSD disse ter “alertado assembleia Municipal, para o grave crime ambiental que foi cometido” e adiantou que o assunto será remetido “para o Ministério Público, para os grupos parlamentares com assento na Assembleia da República, para o Ministério do Ambiente e para o ICNF”.
João Lages disse que o produto foi aplicado nas freguesias das Argas (Baixo, Cima e São João), em Dem e Riba de Âncora.
“Aplicar aquele produto numa mancha florestal desta dimensão é um autêntico crime com efeitos nos lençóis de água, na flora, na fauna e no ser humano através da disseminação de partículas no ar que nós absorvemos”, referiu.
Já o presidente da Câmara de Caminha, Miguel Alves disse que “pela primeira vez, foi levada a cabo uma intervenção de limpeza de infestantes exóticas na serra d’Arga num projeto que juntou os baldios e autarquia”.
“Essa operação teve parecer favorável do ICNF e financiamento comunitário. Não creio que estas instituições fujam ao cumprimento das regras e da legislação. Se o PSD testemunhou a prática de um crime ambiental, o seu dever era apresentar queixa junto do Ministério Público”, referiu.
O socialista considerou que “as vestes de hipocrisia ficam mal ao PSD que nunca fez nada para controlar a praga de infestantes na serra d’Arga e agora vem atacar o ICNF, os baldios de São João d’Arga e a Câmara por estarem a agir e já terem resultados para mostrar”.
“Hipocrisia e ignorância nunca deram bom resultado juntas”, sustentou.