O Partido Socialista vai, na próxima reunião da Câmara de Braga, votar contra a alienação da antiga fábrica Confiança, uma proposta da atual maioria PSD/CDS.
O vereador Miguel Corais disse que essa posição foi tomada, esta sexta-feira, num debate realizado na Junta de Freguesia de São Victor sobre a possível venda: “quer eu, quer os outros dois vereadores socialistas manifestámos essa posição”, frisou.
Ao que O MINHO soube, o PCP, cujo vereador, Carlos Almeida não esteve presente no debate, também deverá votar contra. A decisão camarária não agradou à Junta de Freguesia de São Victor (PSD/CDS) cujo presidente, Ricardo Silva reafirmou que está contra a alienação e quer que o imóvel sirva fins públicos.
Já o advogado Luís Tarroso Gomes, um dos 70 bracarenses presentes no evento, adiantou ao «O Minho» que, no final, foi lançado um abaixo-assinado – que agora será posto na internet – contra a venda em hasta pública pela Câmara de Braga da Confiança com o preço-base de licitação de quatro milhões de euros. A proposta, que vai ser votada quarta-feira em reunião de vereadores, estipula regras urbanísticas obrigatórias para quem o vier a comprar.
O jurista diz não comprender qual o motivo que leva a Câmara a vender, depois de em 2012, Ricardo Rio, então na oposição, ter dito publicamente que se tratava de um edifício único e da memória da indústria tradicional da cidade.
Diz que a Cooperativa Cultural Velha-a-Branca, de que é dirigente, apresentou em novembro passado um projeto de gestão do espaço de modo a que o Município não tivesse quaisquer custos de exploração, e que o mesmo reuniria outras associações e entidades de Braga: “íamos também convidar a Universidade do Minho e a Associação Académica, mas nem sequer tivemos resposta da Câmara”, lamentou.
Defende que, para além de fins culturais, o prédio da Confiança poderia receber a sede da Freguesia de São Victor – já que a atual é exígua – e alguns serviços camarários, caso do Arquivo Municipal.
Poderia, também, ser adaptado para acolher o Tribunal Administrativo, que está instalado num prédio minúsculo para os fins que lhe estão constitucionalmente atribuídos, ou ainda a Polícia Judiciária de Braga, que se debate com o mesmo problema.
“Despachar a Confiança soa a negócio, como no tempo de Mesquita Machado”, acusa.
Venda com condicionantes
Em declarações proferidas esta sexta-feira a O MINHO, o presidente do Município Ricardo Rio disse que o caderno de encargos impõe limitações de área construtiva e obriga, ainda, à preservação das fachadas e paredes da antiga saboaria.
Contempla, ainda, a obrigatoriedade de criação de uma área museológica no interior, com 500 m2, incidindo sobre a Confiança e a história da indústria local.
Rio explicou que a Confiança não pode contar com fundos comunitários, sublinhando que seriam precisos cinco ou seis milhões. E há outros projetos prioritários”, frisou.
O edifício foi expropriado em 2012 pela Câmara, uma decisão do executivo do socialista Mesquita Machado apoiada pelo PSD/CDS, por 3,5 milhões para ser reconvertido e vir a albergar funções culturais e museológicas. De então para cá, a cidade passou a ter três edifícios culturais, o Gneration, e o Theatro Circo, estando agora em arranque um investimento municipal no antigo cinema São Geraldo.
A compra da Confiança ao empresário Hernâni Antunes motivou uma queixa-crime, que foi investigada pela PJ e que foi arquivada.