O PS defendeu hoje que o reconhecimento isolado por parte de Portugal do Estado da Palestina “seria inconsequente”, sublinhando que vários países europeus “estão a trabalhar num roteiro para o reconhecimento conjunto”.
Esta ideia foi defendida pela deputada socialista Edite Estrela durante o debate no parlamento agendado pelo Livre sobre a “solução de dois estados e o reconhecimento da independência da Palestina”, para o qual também apresentaram iniciativas PS, PCP, BE e PAN.
“Há hoje uma convicção muito profunda e partilhada de que a única solução é mesmo esta: reconhecer o Estado da Palestina, mas não devemos repetir erros do passado. O passado diz-nos que gestos simbólicos, até românticos, de reconhecimento isolado não serviram para nada”, defendeu.
Na opinião de Edite Estrela, “o reconhecimento isolado por parte de Portugal seria inconsequente” e, para que esta ação tenha impacto, é preciso “evoluir para um reconhecimento conjunto”.
“Sei que Portugal e vários países europeus estão a trabalhar num roteiro para o reconhecimento conjunto do Estado da Palestina”, disse.
Na abertura do debate, o deputado único do Livre, Rui Tavares, recordou que, em 2014, o parlamento já tinha aprovado uma recomendação pelo reconhecimento do Estado da Palestina.
“Se Portugal já tem essa posição chegou a altura de a assumir com mais urgência”, defendeu, considerando que é preciso deixar de “estar à espera dos outros para avançar” e que um país como Portugal “não pode deixar de fazer o máximo que pode para salvar vidas”.
Esta posição de Portugal, de acordo com Rui Tavares, deixaria a mensagem muito clara “a quem queira que exista apenas um estado que tenha que vir ou da limpeza étnica, do genocídio, do apartheid, da discriminação constante, ou do fanatismo religioso, de que não vão conseguir os seus intentos”.
Pelo BE, Joana Mortágua referiu que “há mais de dois milhões de pessoas condenadas à morte pela passividade internacional” e fazer o que for possível “para travar o massacre indiscriminado” é “um imperativo de quem não abandona posições pela paz e pelo bem”.
“Portugal não pode ficar sentado, apenas a assistir. Não pode ficar do lado da carnificina”, apelou, defendendo o reconhecimento do Estado da Palestina e a aplicação de sanções a Israel “para travar um genocídio” como “gestos de derradeira humanidade” propostos pelo BE.
Na mesma linha, o deputado do PCP Bruno Dias considerou um “absurdo e uma vergonha” que, num país como Portugal em que se defende a solução dos dois estados, o “Governo não reconheça um dos desses dois estados, mas apenas o estado ocupante”.
“Não nos venham falar de reconhecimento isolado. Isolados estão aqueles que se recusam a reconhecer o Estado da Palestina”, criticou.
Já a deputada única do PAN Inês Sousa Real defendeu a solidariedade “para com todos os que sofrem” e um cessar-fogo imediato porque é preciso falar de paz, apelando que Portugal se “demonstre do lado certo da história”.
PSD, Chega e IL não apresentaram qualquer iniciativa, tendo o deputado social-democrata Tiago Moreira de Sá considerado que o projeto do PS, não sendo perfeito, “acautela vários pontos sensíveis, é moderado e recomenda ao Governo para agir de forma concertada” com os aliados.
“Estamos muito empenhados em manter o consenso nacional em torno da política externa portuguesa e em deixá-la de fora da luta político partidária”, enfatizou, considerando que o “consenso é desejável e possível desde que o PS não ceda aos partidos à sua esquerda”.
A IL, através do líder parlamentar Rodrigo Saraiva, sublinhou que a sua posição “é a mesma defendida há muitos anos por vários partidos e pelo Estado português”.
“Quem defende o direito à autodeterminação dos povos expresso livremente, só poderá concordar que o reconhecimento da existência, bem como da independência de um Estado, é um passo formal que deve ser dado na altura certa para que tenha implicações concretas para as populações”, enfatizou.
Pelo Chega, André Ventura considerou que hoje o plenário deveria estar a discutir a crise em Portugal, criticando os partidos à esquerda por estarem a assumir estas posições sobre a Palestina quando “defendem os regimes mais autocráticos”.