É oficial. A caça à rola-brava (Streptopelia turtur) está proibida até 2024, depois de uma suspensão temporária durante a época venatória 2021/22. O pedido partiu do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) com o aval do gabinete do secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas, tendo sido já publicada a portaria n.º 161/2022, de 20 de junho, que prolonga a proibição por mais duas temporada de caça.
Presente na pressão para que esta medida fosse avante, a coligação C6 congratulou, em comunicado divulgado pela Liga da Proteção da Natureza (LPN), o ICNF e o Governo pela decisão, apelando ainda aos ministérios do Ambiente e da Agricultura “para colaborarem na implementação de medidas efetivas de conservação e de gestão no terreno”.
De acordo com aquela coligação ambiental, a rola-brava, para além de ser “uma espécie fortemente ameaçada”, é protegida no âmbito da Diretiva Aves (Diretiva 2009/147/CE) e considerada ameaçada pela União Internacional de Conservação da Natureza.
Todos os anos estas aves atravessam duas vezes o deserto do Saara nas suas viagens entre a Europa e África. Outrora extremamente abundante em Portugal, a rola-brava apresenta no país e na Europa em geral uma tendência fortemente regressiva desde há várias décadas, refere o C6.
A coligação, que envolve seis organizações não-governamentais do ambiente – ANP/WWF, Geota, Fapas, LPN, Quercus e Sociedade Portuguesa para o Estudo dsa Aves (SPEA), cita estudos que demonstram que a caça praticada durante a sua migração em países como França, Espanha e Portugal é insustentável, apesar de alguma redução recente da pressão.
Domingos Leitão, diretor-executivo da SPEA e membro da C6, assinala que “a medida era inevitável”, e “significa que o estado da população da rola-brava em Portugal e noutros Estados Membros é assustadoramente preocupante”. Considera ainda que esta medida “não é suficiente”.
O ambientalista salienta que a caça não é a única causa do seu declínio: está também associado à diminuição e perda de qualidade do habitat, quer de alimentação quer de nidificação.
Assim, a coligação pede ao Governo para desenvolver “uma estratégia articulada para a promoção de uma gestão sustentável do habitat, desenhando medidas concretas e ajustadas e disponibilizando instrumentos, incluindo financeiros, para a sua aplicação no terreno”.
“É fundamental que as medidas de gestão a adotar não se limitem a ações pontuais no tempo e no espaço, como a disponibilização artificial de alimento, mas incluam também substanciais melhorias da qualidade dos habitats. Só assim conseguiremos uma recuperação robusta e duradora da espécie e dos ecossistemas a que pertence”, concluiu Jorge Palmeirim, presidente da direção nacional da LPN e membro da C6.