Professores de todo o país vão mostrar a sua solidariedade com o colega de Viana do Castelo que entrou esta terça-feira em greve de fome mudando as fotografias de perfil nas redes sociais e enviar e-mails para os grupos parlamentares e serviços do Ministério da Educação.
“Combinamos substituir a nossa fotografia de perfil das redes sociais por um cravo vermelho que diz somos todos Sottomaior Braga assim como enviar e-mails em simultâneo para os grupos parlamentares, serviços do Ministério da Educação e para a comunicação social para dar mais visibilidade à nossa luta”, contou à Lusa a docente Helena Vicente Gomes, que dá aulas de Inglês e de Alemão.
O professor em greve de fome recebeu, esta terça-feira, a visita de professores oriundos de Óbidos, Caldas da Rainha, Espinho, Barcelos, Albufeira, Silves e Amarante. Os docentes deslocaram-se a Viana do Castelo para apoiar o protesto em marcha.
Helena Gomes adiantou que professores de todo o país estão a organizar um novo acampamento contra as políticas do Ministério da Educação entre os dias 24 de abril e 1 de maio, que pretendam que seja no Largo do Carmo, em Lisboa.
“Neste momento, mais de 200 professores já disseram que iriam participar no acampamento, que começa na noite de 24 para 25 de abril. Gostaríamos que o acampamento fosse no Largo do Carmo, dado o simbolismo do sítio e da data”, contou à Lusa a docente Helena Vicente Gomes, que dá aulas de Inglês e de Alemão.
O Largo do Carmo foi o local para onde acabaram por convergir as tropas que depuseram a ditadura em 25 de Abril de 1974 e foi também o sítio onde se refugiou o então chefe do Governo, Marcello Caetano, que se rendeu nesse mesmo dia.
O local do acampamento, que se prolonga até 1 de maio, ainda é incerto “porque estão previstas iniciativas para a noite de dia 24 no Largo do Carmo mas, pelo menos, nos outros dias será no Largo do Carmo”, explicou a docente da Escola Secundária Gil Vicente, em Lisboa.
A professora explicou que esta é mais uma iniciativa de profissionais de educação que se organizam através do Whatsapp ou do Facebook.
Durante o acampamento, vão promover vigílias e participar noutras iniciativas como a manifestação nacional do 25 de Abril.
Os principais motivos do protesto continuam a ser “a intransigência da tutela em não devolver os mais de seis anos e seis meses de tempo de serviço congelado, não acabar com os estrangulamentos de acesso aos 5º e 7.º escalões nem com o fim das quotas nas avaliações”, resumiu.
O Ministério da Educação propôs um conjunto de medidas com impacto na progressão na carreira dos professores que passaram pelos dois períodos de congelamento do tempo de serviço, ou seja, que estão em funções desde 30 de agosto de 2005.
A tutela quer que os professores recuperem o tempo em que ficaram a aguardar vaga no 4.º e no 6.º escalões a partir de 2018, que fiquem isentos de vagas de acesso aos 5.º e 7.º, assim como propôs a redução de um ano na duração do escalão para os que ficaram à espera de vaga, mas já estão acima do 6.º.
Os sindicatos consideraram as medidas insuficientes, continuando a exigir o fim das vagas de acesso aos dois escalões e a recuperação de todo o tempo de serviço.
Neste momento, continua a decorrer uma greve do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (Stop), estando agendada para a próxima semana o inicio de novas greves distritais, organizadas pela plataforma de nove organizações sindicais.
“Daqui vou sair para o hospital”
Como O MINHO noticiou, Luís Sottomaior Braga, professor e subdiretor de uma escola de Viana do Castelo, que iniciou às 00:00 de terça-feira uma greve de fome, apelou ao Presidente da República que “use os seus poderes” e ajude os docentes.
“Nesta fase, está esgotada a possibilidade do Governo, nomeadamente, [na lei] dos concursos fazer o que quer que seja. O diploma está com o Presidente da República (…) que, usando os seus poderes constitucionais (…) tem a possibilidade de fazer qualquer coisa por nós”, afirmou o docente de 51 anos.
Luís Sottomaior Braga falava aos jornalistas junto à autocaravana e à tenda de campanha que foram instaladas junto à escola secundária de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo, onde vai permanecer durante a greve de fome, por tempo indeterminado, que inicia às 00:00 de terça-feira.
“Numa República que é semipresidencialista, não é só o Governo, não é só o parlamento que tem a capacidade de intervir nas leis, é também o Presidente, elas só existem se ele quiser”, acrescentou, junto ao cartaz de grandes dimensões que rodeia a autocaravana e a tenda de campanha com a frase “Todos juntos pela escola pública”.
O subdiretor do agrupamento de escolas da Abelheira, explicou que o protesto, apesar de “radical, não é estritamente individual”, e resultou da reflexão de um grupo de docentes que concluiu que depois de seis meses de contestação “o Governo, objetivamente, não está a ligar” às revindicações da classe.
“Se o Governo depois de manifestações nacionais, vigílias, idas a Bruxelas, petições, greves por dias, tempo e distrito, o Governo não liga, não quer saber, adota a postura de arregaçar as calças e deixar passar a enxurrada, a ver se nós nos cansamos, é preciso tomar outro caminho (…)e tem de ser o Presidente da República a intervir. Tem de fazer com que a democracia funciona e que não é só haver um parlamento com maioria absoluta. É também as populações, as pessoas, os cidadãos serem ouvidos nos seus anseios”, disse.
Luís Sottomaior Braga lembrou que Marcelo Rebelo de Sousa disse “com toda a clareza que queria um acordo até à Páscoa”.
“A Páscoa já passou e não houve acordo nenhum. Nem nos concursos, nem na carreira, nem no tempo de serviço. O Presidente da República vai promulgar leis que foram feitas contra a sua vontade porque defendeu que devia haver um acordo”, sustentou.
O docente acrescentou que Marcelo Rebelo de Sousa também “tem de dizer alguma coisa” sobre a permanência do ministro da Educação no Governo.
“O nosso primeiro-ministro disse que se o secretário de Estado que fez aquele ‘email’ na TAP ainda estivesse em funções seria, imediatamente demitido. Um ministro que anda a fazer [de conta] que negocia, há meses, que anda a empurrar os assuntos para junho, que destrata os professores, que faz propostas ofensivas continua em funções porquê?”, questionou.
Luís Sottomaior Braga garantiu que “os professores estão mobilizados para continuar a lutar” apesar da ideia que se quer fazer passar de que “estão cansados”.
“Nós não nos vamos cansar porque é a nossa vida. O que estamos a discutir não são politiquices à volta de uns ‘emails’ na TAP”, afirmou assegurando que a greve de fome que vai iniciar por tempo indeterminado “não invalida que se continuem a fazer manifestações e greves”.
O docente explicou que a sua forma de luta pretende “provocar, junto do poder político a sensação de vergonha e problemas de consciência”.
“Já me foi dito que poderá acontecer que mais pessoas possam vir a fazer a mesma coisa”, alertou, referindo que tem sentido “muito apoio” na luta que vai iniciar que tem como limite o seu estado de saúde.
“Daqui vou sair para o hospital”, assegurou.