O professor da Póvoa de Varzim que foi suspenso 90 dias por usar a máscara no queixo e fazer vídeos alegadamente obscenos no You Tube recorreu da decisão do Ministério da Educação.
No recurso, a que O MINHO teve acesso, o docente considera que se trata de “uma suspensão arbitrária e construída por algumas pessoas e só pode ter sido decidida por interesses ilegítimos e com base em alegações sem fundamentos legais e sem se basear em factos verdadeiros e movida por falsos moralistas e ignorantes que não respeitam a igualdade e a liberdade de expressão, de diversão e de ensino das outras pessoas”.
O professor da Escola Secundária Eça de Queirós confirma que disse aos seus alunos para verem o seu canal do You Tube onde tem vídeos sobre “como se protegerem da doença covid-19” mas que nunca os exibiu em sala de aula.
No canal de You Tube, a que O MINHO acedeu, o professor tem vídeos em que aparece de cuecas na casa de banho e a cantar músicas com letras que podem ser encaradas como tendo conotações sexuais.
“É falso que tenha sugerido quaisquer outros vídeos, tais como os que foram referidos na informação feita de má-fé e na comunicação social e para exagerarem a gravidade da situação e poderem difamarem-me na comunicação social e na televisão e afastarem-me da escola e da lecionação destas turmas e sabe Deus porque o fizeram”, garante o docente.
E acrescenta: “De qualquer modo estas pessoas não são e não devem ser donas da moralidade das outras pessoas e nem da moralidade pública e da autoridade do Estado, do governo e dos professores”.
“Nada de errado e de ilegal”
O professor considera que foi “posta em causa e manipulada a autoridade do Estado, do governo, das entidades superiores do ministério da educação e dos professores, por quatro ou mais brutos ignorantes e falsos moralistas, que não sabem que a moral deles não é superior à moral das outras pessoas e que não têm o direito de impor às outras pessoas a sua moral, porque não existe moral superior e nem culturas superiores. Há apenas culturas e moral diferentes”.
O docente salienta que ter sugerido o canal de You Tube aos seus alunos não tem “nada de errado e de ilegal”, porque só os vê quem quer e todos eles “respeitam a dignidade de todas as pessoas e as regras rígidas do YouTube”. “Portanto, os falsos moralistas senão querem ficar ‘chocados’ na sua falsa moral não devem ver os meus vídeos”, salienta, lamentando que “as entidades superiores da escola, do ministério da educação e os jornalistas sérios não fizessem antes de tudo uma investigação séria sobre as razões do professor e dos quatro queixosos”.
“Esta orquestração feita com mentiras e falácias já me prejudicou e muito na minha vida interna, na autoestima, e na minha vida externa, na vida profissional e pessoal, pois nada de ilegal e de incorreto foi praticado por mim no exercício legítimo das minhas funções de professor em contexto de sala de aulas”, declara.
Quanto as acusações de usar a máscara no queixo, afirma: “Eu uso sempre a máscara como é do conhecimento da direção da escola, de todos, dos alunos e dos professores e dos polícias que foram à escola devido a uma denúncia anónima de que eu não usava máscara na escola. Por razões de dificuldades de visão ao perto e a máscara me impedir de ver ao perto sou obrigado a fazer descer a máscara um pouco para poder ler ao perto e porque quando tenho de falar muito e muito alto a máscara fica com muita humidade e dificulta a respiração e sinto falta de oxigénio e os óculos ficam muito embaciados com o clima frio e impedem a visão ao perto e até ao longe. Mas faço-o por curtos espaços de tempo e sempre que estiver a mais de dois metros de distância de outras pessoas”.
Sobre as acusações de se ter gabado de não ser vacinado contra a covid-19, nada disse. Na sua página de Facebook, consultada por O MINHO, há pelo menos um texto em que questiona a eficiência da vacinação contra a covid-19.
Interroga ainda “com que direito e saber podem vir dizer a alguém que uma pessoa precisa de tratamento médico e que age de modo errado no exercício das suas funções e só porque é uma pessoa diferente, no modo de ser e de fazer as coisas. Se é diferente até pode ser ainda melhor do que os restantes”.
O professor diz que está a ser insultado e difamado, crimes estes cometidos sobre “um cidadão livre e igual e um professor com 34 anos de serviço docente, honesto e competente”.
Portanto, no recurso dirigido ao Ministro pede a revogação desta decisão. “Nada fiz de ilegal e de incorreto no exercício legítimo das minhas funções docentes e porque tudo o que já se passou foi uma violência brutal e selvagem sobre mim e já me causou grandes danos internos, na mina autoestima e externos, na minha dignidade pessoal e profissional”, conclui.
Pais querem substituição
O caso foi conhecido ontem através do Jornal de Notícias. Pais da Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim, exigiam a substituição do professor por usar a máscara no queixo e fazer vídeos no You Tube que consideravam obscenos. O docente foi entretanto suspenso.
De acordo com aquele jornal, a PSP foi mesmo chamada à escola, após denúncia de que o professor estava a dar aula sem máscara.
À chegada da PSP, o docente “estava a usar a máscara”. O diretor da escola, José Eduardo Lemos, em declarações ao JN, admite que “o professor apenas tinha a máscara mal colocada”.
Após a polémica, o Ministério da Educação, adiantou que “o docente foi suspenso, no seguimento do processo disciplinar, com pedido de suspensão preventiva, instruído esta quarta-feira pelo diretor da escola”.