Roberto Alípio é um nome que pode não dizer grande coisa à maioria das pessoas. Mas o militar da Marinha foi o primeiro português a concluir o curso de Sobrevivência, Evasão, Resistência e Extracção (SERE), realizado na Noruega em condições climatéricas extremas. Um dos mais duros do Mundo.
Conquistou o prémio do curso por ter se ter destacado nas duas fases do curso durante cinco semanas. Agora, tornou-se no primeiro instrutor em Portugal certificado pela NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Em conversa com O MINHO, o sargento Roberto Alípio, de 36 anos, natural da freguesia de Sabadim, Arcos de Valdevez, pormenoriza toda esta aventura que sintetiza como “uma das melhores experiências que já tive enquanto militar, quer pelo tipo de curso, quer pelas condições atmosféricas”.
Sobretudo na segunda parte do curso, as condições “são terríveis e apesar de me sentir confortável neste ambiente dado que pratico desporto de inverno há dezanove anos é totalmente diferente. Todo o curso requer uma exigência física e psicológica enorme, o treino é realista e temos de estar sempre prontos, sempre atentos”.
Sem poder entrar em muitos pormenores, Roberto Alípio esmiuça um pouco mais as cinco semanas que passou na Noruega.
“Só começamos a frequência do curso depois de passarmos por provas físicas de carácter eliminatório”. Primeiro são oito quilómetros de corrida fardado e de mochila com 25 quilos de sacos de areia em menos de 01:04.
Depois 200 metros natação e 10 minutos em flutuação fardado, “qualquer uma destas provas é eliminatória e o militar é imediatamente excluído do curso”.
Curso
Passadas estas provas, a primeira fase é composta por três semanas entre Agosto e Setembro “em ambiente Cold Weather (Inverno Frio)” e consiste em diversas aulas teóricas e práticas “seguido do exercício de certificação que engloba sobrevivência isolada com duração de 5 dias com diversos testes práticos de carácter eliminatório, seguido de 6 dias de Evasão de forma isolada e ao escalão máximo de binómio (dois militares) onde está englobado a componente de SERE Urbano”.
Durante a evasão “somos assistidos na sua fuga (120 a 180 quilómetros) por meios aéreos em missões de Reconhecimento, Combate e Reabastecimento. Temos atrás de nós, em perseguição e tentando a nossa captura, dezenas de militares e equipas K9 com os mais diversos meios ao dispor. Rapidamente nos esquecemos que é um exercício parecendo-se com a realidade”.
Segue-se a segunda fase, só para quem concluiu a primeira.
“São duas semanas em Fevereiro em ambiente Ártico (temperaturas negativas podendo atingir os 30 graus negativos)”. O exercício de certificação engloba “sobrevivência com duração de seis dias de forma isolado, binómio até ao escalão máximo de equipa, mais uma vez com diversos testes práticos de carácter eliminatório”, explica ainda Roberto Alípio.
Estes testes passam por estar 24 horas isolado com inúmeras tarefas e técnicas de sobrevivência que tem de ser aplicadas em ambiente não permissivo, icebreaking que consiste em saltar equipado e de mochila para um buraco aberto num lago gelado simulando uma queda, secar todo o equipamento e roupa e estar pronto para combate na sua plenitude em 20 horas”.
E claro a evasão, onde em dois dias têm que evitar a captura mas tendo no seu encalce “dezenas de militares com os mais diversos meios de deslocação e não só, tais como motos de neve, carros de combate com capacidade de deteção térmica e elementos em ski’s, tornando mais uma vez o exercício quase uma realidade”.
O curso, segundo uma nota enviada pela Marinha a O MINHO, foi frequentado por 20 elementos de dez nacionalidades, maioritariamente países com tradições neste tipo de ambiente de condições climatéricas extremas, tais como França, Alemanha, Itália, Polónia, Holanda, Noruega, Espanha, Estónia e República Checa, contudo, foi o sargento Roberto que concluiu o curso com distinção,
Serviço militar obrigatório
Foi ainda no tempo do Serviço militar obrigatório que Roberto Alípio, depois ouvir diversas palestras dos diferentes ramos das forças armadas, optou pelos Fuzileiros. Corria o ano de 2001.
A marinha é “uma vida de desafios” com “disponibilidade de 24 horas sobre 24” porque “nunca sabemos quando vamos ser precisos e para que missão”.
Atualmente é Instrutor do Batalhão de Instrução na Escola de Fuzileiros no Curso de Formação de Sargentos Fuzileiros, em tiro de Combate e em Sistemas de Informação Geográficos. “Se não estiver a dar nenhum curso dou instrução ao Curso de Formação Básica de Praças (recrutas)”.
Primeiro português
Roberto Alípio é o primeiro militar português a ter este curso e os convites começam a surgir: “fui agora convidado pelo Exercito Holandês para dar formação e apoiar um exercício de SERE que vão realizar na Noruega em Setembro”.
Uma responsabilidade acrescida porque “não nos podemos esquecer que estamos a representar um País e o que ensinamos é importantíssimo, mas como já disse o militar português tem uma capacidade enorme de se superar e fazer sempre bem feito seja qual for a missão atribuída”.
Já Portugal beneficia com tudo isto: “quanto mais formação tiverem os seus militares mais conhecimentos podem passar e mais preparados estão para executar as missões atribuídas”.