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António Pereira, presidente da Junta de Quintiães e Aguiar, no concelho de Barcelos, cansou-se de esperar pelas autoridades para eliminar vespeiros de vespa velutina, vulgo asiática, e decidiu investir 1.600 euros em equipamento para esse efeito, tendo já eliminado 94 ninhos deste inseto invasor.
A O MINHO, o autarca explica que, em 2015, e face ao aparecimento de vários ninhos na união de freguesias local, decidiu investir cerca de 1.000 euros para equipar um jipe que já pertencia à junta de freguesia de forma a incinerar ninhos durante a noite, como era, então, recomendado.
Desde 2018 que os vespeiros são eliminados com recurso a outro método, em horário diurno, e foi necessário novo investimento, desta feita de 600 euros, para compra de produtos, equipamento, escadas e material adequado para garantir a segurança durante o processo de eliminação.
“Já há quatro anos que fazemos isto, ao todo eliminámos 94 ninhos, 25 dos quais neste ano, e os dois últimos, na freguesia de Quintiães, pesavam entre 15 a 20 quilos e os discos internos atingem 40 centímetros de diâmetro”, assegura António Pereira.
O autarca tem sido acompanhado por Domingos Sousa, apicultor de Quintiães, que se disponibilizou a ajudar na captura desta espécie invasora que chegou ao Alto Minho em 2011, mas já se espalhou por quase todo o país, causando no último mês grande alarido na região de Lisboa.
A população procura os ninhos e nós vamos lá destruí-los quase no dia seguinte
António Pereira conta que, em 2017, organizou uma ação de sensibilização com os habitantes da união de freguesias de Quintiães e Aguiar, de forma a que os populares procurassem vespeiros nas árvores, comunicando posteriormente ao autarca.
“Há muita confusão sobre a quem comunicar o avistamento, por isso decidimos que a própria junta iria encarregar-se da destruição desta praga”, sublinha. A acompanhar o autarca e o apicultor, está ainda o genro de António Pereira, que ajuda na caça.
Alguma demora por parte da Proteção Civil de Barcelos em responder a um número elevado de avistamentos levou a que António Pereira aprendesse a fazer uma solução com recurso a vários ingredientes, entre os quais um biocida natural, para envenenar os vespeiros.
“Antigamente quemávamos durante a noite porque era o recomendado, mas algumas vespas que andavam fora acabavam por sobreviver e faziam novos ninhos, duplicando ou triplicando a praga”, explica.
“Agora utilizamos o método injetável com recurso a escadas ou algo similar a uma cana de pesca, e tem sido infalível”, acrescenta, explicando ainda que esta solução leva 1 mililitro de veneno e 49 mililitros de água e atrativo [groselha, cerveja preta e açúcar], por cada vespeiro.
Junta já comprou um drone para facilitar a injeção do biocida
A última aquisição de António Pereira, para a junta, foi a de um drone, para que seja mais simples de chegar aos ninhos mais altos de forma a injetar a solução venenosa.
“Alguns ninhos estão a 30 metros de altura e se for num eucalipto, deitámos abaixo, mas nem sempre há essa hipótese por isso decidimos investir num drone, daqueles mais baratos, a ver se criamos aqui um mecanismo para que seja o próprio drone a injetar o veneno”, conta.
Mas esta solução está ainda em testes e não houve qualquer resultado prático. “No domingo passado o drone despenhou-se, porque é um daqueles baratos, mas estamos ainda a testar”, diz.
Não somos nós que temos de eliminar os ninhos
A responsabilidade da aniquilação desta praga cabe às autoridades municipais, sendo que, em Barcelos, está a cargo dos serviços de Proteção Civil.
O MINHO falou com fonte daquele segmento autárquico que nos esclareceu que nem sempre é possível dar, com o devido tempo, a resposta pedida pela população, e que qualquer ajuda é sempre bem-vinda.
António Pereira explica que já se começa a passar, na freguesia, a ideia de que é a junta que tem de eliminar estes vespeiros, “mas isso não é verdade”.
Ninhos com 40 centímetros de diâmetro
Embora esta praga esteja ainda a ser estudada por diversos meios académicos e científicos, como é o caso da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro ou do Laboratório Ibérico de Nanotecnologia, António parece ter feito uma descoberta que ainda não estava registada: ninhos com 20 quilos e 40 centímetros de diâmetro.
Atualmente, na designação oficial destes ninhos, a medida máxima é de 30 a 35 centímetros de diâmetro, mas em Barcelos já chegam aos 40.
“Encontramos dois, neste mês de setembro, com essa desenvoltura. Estavam num local chamado Vale de Farnados, em Quintiães, e assustam pela dimensão. Um deles chegámos a abrir para poder registar o diâmetro de cada disco”, revela.
António Pereira garante que irá continuar a “dar cabo” destes vespeiros durante os próximos tempos, tendo já auxiliado algumas freguesias vizinhas, como é o caso de Creixomil, onde esta praga tem dado sérios problemas aos apicultores, que se queixam da baixa de produção de mel face ao medo, e até morte, das abelhas.
Este inseto invasor chegou a Portugal em 2011, ao que tudo indica, proveniente de um navio de carga, onde terá entrado de forma clandestina. Até 2015, a praga ficou confinada aos distritos do Norte de Portugal, mas tem-se espalhado por todo o país, sendo já considerada uma praga invasora pelas entidades governamentais, que apoiam financeiramente as Câmaras Municipais por cada ninho destruído.