António Fernandes, de Ponte da Barca, que dividiu os primeiros anos da vida entre Braga, Oleiros e Lavradas, tem causado sensação por entre os vizinhos belgas com as modas do Alto Minho, durante esta fase de pandemia que também tem afetado severamente o país que o acolhe há cerca de 30 anos.
Radicado num amplo bairro no município de Zaventem, a cerca de sete quilómetros do aeroporto de Bruxelas, o barquense aderiu ao gesto de agradecer aos profissionais de saúde (e outros trabalhadores que não podem ficar em casa) à boa maneira minhota, com uma concertina na mão.
A O MINHO, o professor de música (por hobby) e colaborador de um órgão consultivo da União Europeia, conta que a Bélgica resolveu importar o agradecimento, que se iniciou em Itália, a quem está na linha da frente no combate ao coronavírus, ou “esta encrenca”, como sumariza o barquense.
“Toda a gente sabe na encrenca em que estamos metidos, incluindo os que estão em casa, e aqui a moda pegou das pessoas em Bruxelas, e na Bélgica inteira, às 20:00, virem à janela ou à porta para bater palmas, cantar, tocar ou rezar. Cada um faz o que quer”, explica.
“Tenho aqui uma escola de música e pensei para mim: vou pôr esta gente a bater palmas para os profissionais mas para mim também, então fiz um vídeo direto do meu jardim, na minha casa, e aquilo foi como incêndio, toda a gente gostou e recebi incentivos para continuar”, sublinha.
Mas não é só pelo agradecimento ou pelas palmas. António tem a “intenção de divulgar as raízes, não só de Ponte da Barca e do Minho, mas de todo o país: “No vídeo que fez sucesso, estava a tocar um Vira da Barca, que é muito tocado nas romarias de São Bartolomeu”.
António tocou três noites seguidas, mas agora está a deixar “esmorecer”, para voltar com força. “Amanhã é sexta-feira, por isso vou tocar uma Cana Verde, um Vira ou um Malhão, diz, entre risos, preparado para mais um live no Facebook.
A viver num bairro onde existem 17 nacionalidades diferentes, os portugueses estão em maioria, e até os italianos já aderiram à moda do Minho para agradecer ao “corpo médico”, como refere.
Confessa que, antes da “encrenca”, era impensável tocar um vira de concertina no meio da rua, mas agora “está a ser possível”.
Bélgica atravessa pico da pandemia mas comunidade portuguesa está “resguardada”
A Bélgica registou, nas últimas 24 horas, um aumento de 1.259 casos de infeção por Covid-19, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Mas a comunidade portuguesa não estará a ser muito atingida, como explica António.
“Tenho contactos com gente em Bruxelas, Antuérpia e Liége, por entre as associações portuguesas e não me têm dito nada sobre casos infetados, por isso parece-me que estamos todos a seguir o que aconselham as autoridades”, salienta, destacando que os portugueses “têm ficado em casa”.
Acho que os portugueses se informaram bem, o consulado ajudou e temos bons movimentos associativos, penso que nos resguardamos do pior. Temos muitos restaurantes e cafés portugueses, e não tiveram nenhum problema em fechar ao público e começar a fazer comida para fora”, vinca.
Governo “pegou isto tudo pelos cornos e não pelo rabo”
“Aqui o Governo pegou isto tudo pelos cornos e não pelo rabo, decretaram medidas radicais logo no inicio, se não tiver uma justificação para andar na rua, é logo autuado, e a coima não é barata”, conta, elogiando o sistema de saúde belga.
“O Sistema de Saúde Nacional é muito bom e está preparado para esta pandemia, mas estamos a chegar ao pico e está a ficar muita gente dependente desses serviços, o que pode trazer algumas complicações”, constata
António explica que, à semelhança de outros portugueses com essa possibilidade, têm trabalhado de forma remota, a partir de casa, nas funções de consultoria e logística, mas “não é a mesma coisa”. A minha função era mais andar no terreno e trocar isso por um ecrã não dá a mesma perspectiva”, salienta.
Há cerca de 30 anos a dar música na Bélgica
Com o bichinho da música, criou a escola Bxlsolminho, onde dá aulas de viola, concertina e cavaquinho: “Eu gosto muito da musica tradicional portuguesa, gosto de me gabar que toco bem o cavaquinho, o resto não. Mas comecei a ensinar a um e a outro e agora estou a ensinar em Antuérpia e em Bruxelas, na Casa do Benfica, e é um privilegio.
Durante a fase coronavírus, António também se adaptou nas lições de música. “Vou dando aulas por skype e por whatsapp, cá nos vamos desenrascando”, garante.
E o barquense tem uma vantagem para o isolamento social face ao Covid-19: Enquanto está em casa, pode sempre pegar na concertina e não dar pelo correr do ponteiro do relógio, à boa maneira do Minho.