Artigo de Luís Moreira
Jornalista de O MINHO
Quis o destino e a sorte da vida que eu tivesse a felicidade de ter ido nove vezes a Marrocos, país que conheço bem, desde as montanhas do Rif, ao norte, passando pela cordilheira do Atlas (Médio, Alto e Anti-Atlas) até às areias do deserto do Sahara e às praias do Mediterrâneo e do Atlântico. A maioria das viagens, sete, feitas com o Geoclube de Braga, de todo-o-terreno, do saudoso João Moutinho.
Fui sempre muito bem recebido: os marroquinos acham-nos graça e têm grande simpatia pelos portugueses. Porque fomos os primeiros a ir lá «conquistá-los», os primeiros europeus que eles derrotaram militarmente, em 4 de agosto de 1578, e a primeira seleção europeia de futebol que venceram, no mundial do México. Nesse tempo, diziam-me com ar trocista: “ah…Portugal! Três a uno!”
Quando se vai a Marrocos em agosto, os jornais e as revistas evocam sempre os portugueses: nas primeiras páginas trazem as datas; 21 de agosto de 1415, tomada de Ceuta, depois Tânger, e Arzila ( agosto de 1471) , Alcácer Ceguer, Rabat, Safim, Mazagão. E dão um grande destaque à vitória sobre os portugueses em Alcácer Quibir na chamada Batalha dos 3 Reis: o nosso rei, morto e enterrado no quintal da colina descampada, o deles, morto também na refrega e um terceiro, escolhido na hora, que acabou por derrotar o exército luso-internacional arregimentado para a invasão, por El-Rei D. Sebastião.
Mas, e para além dos factos e datas da História comum, a importância de Portugal no reino de Marrocos é realçada, também, nos livros e manuais escolares sobre o país! É que, a Batalha dos 3 Reis é considerada como que o momento fundador da nação marroquina, isto porque – dizem os historiadores – foi a primeira vez que as tribos marroquinas, desde os bérberes aos sarauis, se uniram contra um invasor, criando uma entidade política una e um sentimento de pertença comum.
Quem for a Marrocos, hoje um país em modernização acelerada, pode constatar a presença portuguesa em castelos ou fortes antigos de rara beleza, como os de Ceuta, Arzila, Mazagão, Safim, Essauira, etc.
Numa das últimas viagens que fiz, um périplo pelos fortes portugueses na costa – preparada pelo Geoclube para a Comissão das Comemorações dos 600 anos do nascimento do Infante D. Henrique, do Porto – conheci uns russos, peritos em pesca, que visitavam os portos em busca de acordos no setor. Disse-lhes que, costa abaixo era “tudo português” em termos de vestígios arqueológicos e patrimoniais. Três depois, reencontrei-os: “tinhas razão! É impressionante, é tudo português!”, exclamaram.
Mas a nossa influência ficou, também, na memória do país ao nível da língua, com um dialeto falado, ainda que agora em desuso, no norte, na zona de Tetuão, com influência do português: o Tarija!
Com esta vida comum de 600 anos, espera-se que o jogo desta quarta-feira, seja de batalha com respeito e que o resultado seja «três a uno», mas com três golos do Ronaldo!