Portugal associa-se à UE na condenação da Guiné Equatorial pela morte de opositor

Julio Obama Mefuman
Portugal associa-se à ue na condenação da guiné equatorial pela morte de opositor

O ministro dos Negócios Estrangeiros português associou-se hoje à União Europeia na condenação da Guiné Equatorial pelo homicídio de um opositor da Guiné Equatorial, pedindo o respeito dos defensores dos direitos humanos e a democratização do país.

Em declarações à Lusa em Adis Abeba, onde participa na 36.ª cimeira da União Africana, João Gomes Cravinho, reconheceu a insatisfação portuguesa com a evolução da democracia e do Estado de Direito na Guiné Equatorial, que aderiu em 2014 à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Não estamos satisfeitos, isto é uma evidência, mas também não somos juízes para estarmos a dizer o que deve estar ou não a acontecer. Mas é evidente que na Guiné Equatorial há situações com as quais não podemos compactuar”, afirmou, dando o exemplo da prisão recente de um cidadão português, que terá sido feita à margem da justiça.

Por isso, no que respeita à morte do cidadão espanhol Julio Obama Mefuman, opositor do Presidente Teodoro Obiang, disse: “Revemo-nos na posição da União Europeia e o nosso pedido é que seja feita justiça na Guiné Equatorial e que haja respeito pelos defensores direitos humanos e pelo processo de democratização do país”.

Na quinta-feira, o Parlamento Europeu responsabilizou o “regime ditatorial” da Guiné Equatorial pela morte de Julio Obama Mefuman e exortou os Estados-membros a exigirem o fim de todas as perseguições políticas.

No texto adotado, os eurodeputados apelam à libertação de outros três membros do Movimento para a Libertação da República da Guiné Equatorial Terceira República (MLGE3R), raptados juntamente com o equato-guineense Julio Obama Mefuman em 2019 no sul do Sudão e levados de avião para a Guiné Equatorial, onde foram condenados por terrorismo, tendo-lhes sido negada assistência consular, e possivelmente torturados.

O cidadão espanhol de 51 anos, considerado líder da oposição, morreu em janeiro passado, e embora as autoridades da Guiné Equatorial garantam que Mefuman morreu num hospital vítima de doença, as autoridades espanholas e o Parlamento Europeu dão como certa a sua morte na prisão, vítima de tortura.

A posição da assembleia está expressa numa resolução adotada no hemiciclo de Estrasburgo, França, sobre as violações dos direitos humanos na Guiné Equatorial – país membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde 2014 -, com 518 votos a favor, seis contra e 19 abstenções.

O Parlamento Europeu insta a Guiné Equatorial a “cooperar plenamente com as autoridades judiciais espanholas” e “condena veementemente a perseguição política sistemática e a repressão bárbara do regime ditatorial contra opositores políticos e defensores dos direitos humanos”.

O Parlamento exorta por isso os 27 Estados-membros a “exigirem o fim de todas as perseguições políticas, bem como uma investigação independente sobre a morte de Obama Mefuman e sobre a situação mais vasta dos presos políticos” e exortam o Conselho a “sancionar os membros do regime envolvidos em violações dos direitos humanos”.

Julio Obama “foi um dos quatro” membros do MLGE3R – dois dos quais com nacionalidade espanhola – “raptados pelo regime de Obiang em 15 de novembro de 2019 em Juba [capital do Sudão do Sul], tendo sido transferido sub-repticiamente para a Guiné Equatorial, fechado em celas subterrâneas e brutalmente torturado”, explicou o movimento no mês passado.

A notícia da morte de Julio Obama foi conhecida dias depois de a Audiência Nacional espanhola, tribunal com jurisdição sobre todo o território espanhol, ter aberto uma investigação contra a cúpula de segurança da Guiné Equatorial, nomeadamente a um dos filhos do Presidente, Carmelo Ovono Obiang, chefe dos serviços secretos do país no exterior, assim como Nicolás Obama Nchama, ministro da Segurança Nacional, e Issac Nguema Ondo, diretor da segurança presidencial.

A investigação da polícia espanhola, levada a cabo no “âmbito da EUROPOL”, acredita que “esse plano sistemático terá resultado no rapto, transferência forçada, tortura, execução e desaparecimento de vários opositores equato-guineense a residir em vários Estados europeus, incluindo países como a Bélgica, Itália ou Espanha”, ainda segundo o comunicado do MLGE3R.

Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, com 80 anos, governa a Guiné Equatorial desde 1979, ano em que derrubou, através de um golpe de Estado, o seu tio, Francisco Macías, primeiro chefe de Estado do país, após a sua independência de Espanha em 1968.

Obiang é o chefe de Estado há mais tempo no cargo e foi reeleito em 20 de novembro último para um sexto mandato de sete anos, com 94,9% dos votos (sem nenhum eleito da oposição), segundo os resultados oficiais, que a oposição contesta, denunciando irregularidades na votação.

A Guiné Equatorial é, desde a sua independência em 1968, considerada por organizações de direitos humanos um dos países mais corruptos e repressivos do mundo, acusada de denúncias de prisões, torturas de dissidentes e repetidas fraudes eleitorais.

 
Total
0
Shares
Artigo Anterior
Sem recuperação de tempo de serviço "evidentemente não há acordo", diz fenprof

Sem recuperação de tempo de serviço "evidentemente não há acordo", diz Fenprof

Próximo Artigo
Montenegro acusa costa de revelar faceta de comunista

Montenegro acusa Costa de revelar faceta de comunista

Artigos Relacionados