O primeiro fim de semana a cobrar portagens para passar a Estrada Florestal e a Bouça da Mó, na Mata de Albergaria, considerada o “coração” do Parque Nacional da Peneda-Gerês, em Terras de Bouro, não impediu uma enchente de veraneantes, em especial rumo às Cascatas da Portela do Homem.
Ao longo deste domingo, as elevadas temperaturas, superiores a 30 graus centígrados, contribuíram para as grandes afluências às cascatas geresianas situadas um pouco a jusante de onde nasce o rio Homem, tal como sucedeu já no sábado, isto depois de implementadas as taxas moderadoras de acesso, na sexta-feira, feriado nacional de 10 de Junho, portagens que, como é habitual durante o verão, se vão manter até 30 de setembro.
Tais portagens devem-se à necessidade de controlar “a forte pressão humana, sobretudo no período estival, por constituir um dos principais fatores de ameaça à preservação dos frágeis ecossistemas que caracterizam a Mata de Albergaria, considerando-se necessário aplicá-las entre outras medidas que visam estabelecer um equilíbrio entre a conservação dos valores naturais e o uso social e recreativo, pois “verifica-se excesso de circulação de veículos motorizados, um dos principais focos de perturbação na área da reserva de biosfera”.
“Tais medidas passam pela sustentabilidade da gestão dos recursos naturais, sujeitando a sua utilização ao pagamento de taxa de acesso, segundo o princípio do utilizador-pagador, em zona de composição florística e dos bosques mais representativos dos carvalhais galaico-portugueses, incluindo um troço da Via Romana XVIII, ou Via Nova, a Geira, com ruínas de pontes e significativo conjunto de marcos miliários” romanos.
O pagamento de um euro e meio, obrigatório entre as 11:00 e as 18:00, todos os dias, permite ao longo do mesmo horário, aceder à Mata de Albergaria, a partir da Fronteira da Portela do Homem, desde Campo do Gerês pela Bouça da Mó ou da Vila do Gerês pela Portela de Leonte, só para controlar o número de veículos, uma vez que não se destina a moderar o acesso de muitas pessoas que acorrem às cascatas, lagoas e bosques.
Canhões e marcos miliários
Mas o Gerês não são só as suas cascatas e lagoas, podendo no Bar da Fronteira, na Portela do Homem, ver o Núcleo Museológico, com três canhões centenários da guarnição de defesa daquela raia seca, quando nas redondezas eram os próprios geresianos os responsáveis pela integridade do território nacional nesta região, mas em contrapartida estavam todos os homens sempre isentos do cumprirem o serviço militar obrigatório.
Jorge Barbosa, do Bar da Fronteira, exibiu a O MINHO, não só os célebres canhões, como um conjunto de marcos miliários, bem preservados, junto ao local onde terminava a parte portuguesa da Geira Romana (Via XVIII ou Via Nova) que ligava Braga a Astorga, passando pelos concelhos de Amares e de Terras de Bouro.
Aquela zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a primeira área natural portuguesa e a única com estatuto de parque nacional, tem a maior concentração de marcos miliários do mundo, que se destinavam a assinalar as milhas da estrada, com cerca de dois milénios, onde eram apostos os nomes dos respetivos imperadores.
O Ministério do Ambiente e da Ação Climática, através do seu Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), tem vindo nos últimos meses a reforçar as medidas de proteção do parque nacional, com a Direção Regional do Norte do ICNF a apostar na sinalética melhoria das condições de visitação, estando o controlo a ser realizado pelos vigilantes da natureza e com o apoio do corpo nacional de agentes florestais, além dos guardas florestais da GNR, corporação que além dos seus vários postos territoriais, tem um Posto de Busca e Resgate em Montanha da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) a tempo inteiro.
Muitos portugueses na Praia de Vila Mea
Mais adiante, já Espanha adentro, muitos portugueses, aliás mais do que espanhóis, continuam a ser os maiores frequentadores da Praia Fluvial de Vila Mea, na localidade de Bubaces, do concelho de Lobios, já junto ao hotel termal, desfrutando cá fora das águas temperadas e mesmo quentes, ali mesmo, numa pequena piscina.
As famílias portuguesas costumam entrar principalmente pela Portela do Homem e já a meio caminho de Lobios, no rio de Vila Mea, banham-se, passando o dia numa das margens, neste domingo apenas do lado oeste, porque o sol não poupava ninguém, na zona em frente, onde não existe arvoredo, logo sem sombras.
O Município de Lobios está agora a construir mais aparcamento na estrada principal que liga a sede daquele concelho à Portela do Homem, para permitir que mais banhistas possam afluir à praia fluvial, aliás, termal, que é a mais procurada pelos portugueses, dada a sua proximidade da fronteira e a qualidade das suas águas.
Um café nas proximidades e a existência de casas de banho públicas ajuda a que cada vez mais portugueses se desloquem para a chamada Praia de Lobios, numa província como Ourense que é acima de tudo termal.
Feira de Lobios com mais movimento
Entretanto, a Feira Mensal de Lobios, primeiro município galego para lá da Fronteira da Portela do Homem, certame que se realiza sempre no segundo domingo de cada mês, registou durante todo o dia movimentação também na Estrada de Albergaria, já que se trata da única passagem, no distrito de Braga, de Portugal para Espanha, com muitos portugueses, quer a comprarem, quer a venderem, conforme O MINHO constatou na vila raiana da província de Ourense, na Região Autonómica da Galiza, logo desde a manhã deste domingo.
Há quem aceda também a partir de Ponte da Barca, pela Fronteira da Madalena, rumo a Lobios, através de Aceredo, a aldeia que a seca ainda em curso revelou três décadas depois, sendo tradicional comprar pratos de polvo e consumir nos estabelecimentos de restauração do concelho, ao longo da Avenida de Portugal, já que todos ganham, pois os restaurantes e cafés, ao aceitarem clientes que compram o polvo já cozido (uma especiaria que não confecionam) nas suas imediações, vendem aos mesmos consumidores bebidas e cafés.
Os preços habitualmente mais baratos nas feiras galegas atraem assim os portugueses, que procuram mais os artigos de vestuário e de calçado, bem como ferragens, além de alimentação, desde pão e doces, até mel e presunto, bacalhau, queijo e outros produtos, com os dois três supermercados e a farmácia de Lobios todos de portas abertas, a par das restantes lojas, aproveitando no final muitos lusitanos para abastecerem carros de combustível, na estação de serviço da Repsol sita entre Lobios e Entrimo, da estrada para Ourense.