Portagens estão de regresso ao ‘coração’ do Gerês quando já são cada vez mais turistas a ir a banhos

Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

As portagens para os veículos motorizados, na Portela do Homem, Mata de Albergaria, Bouça da Mó e Portela de Leonte, em Terras de Bouro, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, recomeçaram neste fim de semana, mantendo-se, todos os dias, até finais de setembro, cuja receita se destina à manutenção do estradão em terra batida (Bouça da Mó) paralelo à Geira Romana.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que tutela o Parque Nacional da Peneda-Gerês, aplica as taxas moderadoras desde o ano de 2007 para conter o elevado afluxo de automóveis àquela reserva mundial de biosfera da UNESCO, a fim de não perturbar os delicados ecossistemas da zona, sua fauna e flora, tratando-se de uma área especialmente protegida.

Este ano, por protocolo com o ICNF, coube à Adere Gerês – Associação de Desenvolvimento das Regiões do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a gestão das portagens, tendo sido contratados dez portageiros, para assegurarem o horário de funcionamento das taxas moderadoras, todos os dias, das 11:00 às 18:00, pagando-se 1,50 euros, válido para todo o mesmo dia.

Uma das inovações deste ano diz respeito à melhoria das condições de trabalho dos próprios portageiros, desde logo com WC, para seu uso exclusivo, devido à carga horária e à impossibilidade prática de se ausentarem, dos três locais de portagem, que se situam na Portela do Homem, na Bouça da Mó e na Portela de Leonte, freguesia de Campo do Gerês, em Terras de Bouro.

As portagens devem-se à necessidade de controlar “a forte pressão humana, sobretudo no período estival, por constituir um dos principais fatores de ameaça à preservação dos frágeis ecossistemas que caracterizam a Mata de Albergaria, sendo preciso aplicá-las entre outras medidas para estabelecer equilíbrio entre a conservação dos valores naturais e o uso social e recreativo”.

Na portagem da Portela de Leonte há mais afluência com carros oriundos da vila termal do Gerês. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

“Verifica-se um excesso de circulação de veículos motorizados, um dos principais focos de perturbação na área da reserva de biosfera”, daí ter sido publicada uma portaria, que estabelece o pagamento de portagens, cuja tem sido o mesmo desde sempre, um euro e meio, que serve para transitar, passando por qualquer das três portagens, durante o mesmo dia, sem nada mais pagar.

A portagem da Portela do Homem é a segunda com mais afluência com carros vindos por Lobios, na Galiza. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

Tais medidas passam pela sustentabilidade da gestão dos recursos naturais, sujeitando a utilização ao pagamento de taxa de acesso, segundo o princípio do utilizador-pagador, em zona de composição florística e dos bosques mais representativos dos carvalhais galaico-portugueses, incluindo o troço da Via Romana XVIII, Via Nova, a Geira, com ruínas de pontes centenárias.

Aquela zona é considerada o “coração” do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a primeira área natural portuguesa e a única com estatuto de parque nacional, tendo a maior concentração de marcos miliários do mundo, que se destinavam a assinalar as milhas da estrada, com cerca de dois milénios, onde eram apostos os nomes dos seus sucessivos imperadores, entre Braga e Astorga.

Mata da Albergaria. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

O território constitui reserva mundial de biosfera, decretado pela UNESCO, em 27 de maio de 2009, inserindo-se no espaço transfronteiriço Gerês/Xurés, que abarca o Parque Nacional de Peneda-Gerês do lado português (Terras de Bouro, distrito de Braga) e Parque Natural do Xurés, do lado espanhol (concelho de Lobios, província de Ourense, região autonómica da Galiza).

Rio Homem sem praias fluviais

Este ano, o rio Homem não tem praias fluviais, porque devido à necessidade extrema de armazenamento da água, em face do período de seca expectável para ambos os países ibéricos, ficou a albufeira artificial do Vale de Vilarinho da Furna a abarrotar, ocupando assim o espaço de todas as áreas, incluindo as Praias da Portelada e da Quinta do Padre Outeiro.

Em face deste imperativo ditado pela seca, a Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna (AFURNA), detentora de todo espaço da margem direita do Vale de Vilarinho da Furna, aproveitou esta impossibilidade de aceder de automóvel para iniciar obras de melhoria à visitação, que se prevê estarem prontas no verão de 2024, então já com condições mais apropriadas.

Na margem esquerda da Albufeira de Vilarinho da Furna, acessível pela Bouça da Mó, acima da Geira Romana, que por sua vez está também com o empedrado submerso pelas águas do rio Homem, não há igualmente praias fluviais, às quais é habitual entrar a partir da zona da Portagem da Bouça da Mó, situada centenas de metros mais abaixo da Ponte do Ribeiro do Sarilhão.

Cascatas e lagoas são alternativas

Devido à ausência de praias, ali próximo, nas Cascatas da Ponte do Rio Homem, há cada vez mais turistas a seguir a alternativa de banhar-se nas Cascatas e Lagoas de Albergaria, já depois de passarem a Ponte do Rio Maceira, atravessando uma pequena ponte em madeira a seguir aos antigos viveiros de trutas, acedendo principalmente pela Ponte Feia e pela Ponte de São Miguel.

Nas chamadas cascatas e lagoas de Albergaria, acessíveis apenas a pé, porque o estacionamento de viaturas só é permitido nas imediações da Portela do Homem, a visitação merece um cuidado especial, por um lado devido ao perigo de escorregamento, outro lado pela proibição de aceder às zonas de proteção total, que estão todas devidamente assinaladas, pelas placas verticais.

Por outras palavras, é permitido percorrer a pé a Mata de Albergaria, mas nunca a contígua Mata de Palheiros. Isto define a possibilidade de passar ou banhar pelas margens esquerdas dos rios Homem e Maceira, mas já não o podendo fazer, pelas suas margens direitas, nem pelos bosques ripícolas, nem por Cabeço de Palheiros ou Calvos.

A beleza ímpar do percurso, onde ainda restam ruínas das pontes em pedra mandadas destruir após a Guerra de Independência, em 1640, para impedir o êxito das incursões das tropas castelhanas, nos anos subsequentes, levou a que fossem mais tarde as mesmas travessias substituídas por estruturas em madeira, como a clássica Ponte Feia e a já mais recente Ponte de São Miguel.

Nem o derrube das pontes em granito da zona impediu a continuidade do Caminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros, que aliás está a ser já redescoberto nos últimos tempos e dinamizado, através da Associação dos Amigos dos Caminhos Portugueses de Santiago e da Associação Espaços Jacobeu, entre outras organizações, visando a oficialização, em Santiago de Compostela.

O Caminho da Geira e dos Arrieiros passa pela Bouça da Mó. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

São cada vez mais os peregrinos a Santiago de Compostela que por ali passam, assim como outros caminheiros, com esse ou outros destinos, que não só percorrem a Estrada da Geira, como passam algumas horas em redor dos bosques ripícolas, mais nas zonas de Bemposta e de Varziela (ou Bargiela), dedicando um dia inteiro a percorrer aquela região de imensos carvalhais.

A necessidade de proteger esta extensa área ímpar, onde predominam, entre muitas outras maravilhas da natureza, os carvalhais centenários, levou inclusivamente ao funcionamento de um Posto de Vigia, em Calvos, na freguesia de Campo do Gerês, para a deteção precoce de eventuais focos de incêndios florestais ou de manchas de fumo, estando sempre ativo nesta época do ano.

No terreno estão diariamente vigilantes da natureza do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e guardas florestais da GNR, que dispõe de outras valências, como o Posto de Busca e Resgate em Montanha da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro, além dos Postos de Terras de Bouro e do Gerês, já reforçados pelo Destacamento da Póvoa de Lanhoso.

 
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