António Faria estava a colocar a conversa em dia com um amigo que já não via há algum tempo, na tarde da última terça-feira, junto ao rio Cávado, em Barcelinhos, no concelho de Barcelos, quando ouviram grande aparato na ponte medieval. Quando se apercebeu que um corpo boiava no rio Cávado, não hesitou. Pediu ao amigo que lhe segurasse a mochila, correu para o rio, atirou-se à água e salvou a mulher, de 62 anos, que instantes antes, em desespero, se havia atirado da ponte medieval.
“Estava aqui [em Barcelinhos] a falar com um amigo, já há muito que não estava com ele e, no preciso momento em que me estava a despedir dele, a ponte estava cheia de carros a buzinar e pessoas a pedir socorro”, começa por contar a O MINHO o protagonista do ato heróico.
E prossegue: “Inicialmente, eu e o meu colega pensámos que era alguma confusão que teria acontecido, mas entretanto vi que havia uma pessoa no rio. Peço ao meu amigo que me segurasse na minha mochila, porque normalmente ando de máquina fotográfica, ele guardou-a e eu corri para o rio”.
Quando se lançou na corrida, o objetivo de António Faria, desportista e apaixonado pela natureza, era que a mulher não passasse o açude ali existente, mas não conseguiu chegar a tempo.
“Está viva, não é desta que vai morrer”
“Atirei-me ao rio e fui buscar a senhora, que ainda estava a boiar mas já estava numa fase prestes a afundar”, recorda António Faria, notando que a mulher foi arrastada pela corrente cerca de 25 metros.
“Eu toquei-lhe, ela deu um ‘ai’, e eu disse assim: ‘Pronto, está viva, não é desta vez que vai morrer”, relata. De seguida, levou-a para a margem direita do rio, lado de Barcelos, numa zona junto da azenha, onde teve a ajuda de um grupo de homens para retirar a mulher da água.
“A partir daí, a senhora passou a ter uma certa consciência. Ela ainda disse aos senhores: ‘Vocês estão a perder tempo comigo’. E eles responderam: ‘Não se preocupe com isso'”, detalha.
De seguida vieram mais pessoas, entre as quais “uma psicóloga, confortar a senhora”, e entretanto chegaram os Bombeiros de Barcelinhos e a equipa da VMER.
A mulher foi transportada ao Hospital de Barcelos livre de perigo.
“Temos que ser mais humanistas”
António Faria conta que ficou “arrepiado” por “salvar” uma vida. “Temos que ser mais humanistas e Humanidade é coisa que não me falta a mim e a muita gente”, conta o sócio em atividade número um e presidente da Assembleia da associação Amigos da Montanha.
“Orgulho-me muito da minha associação porque é muito humanista”, vinca o barcelinense que conhece bem o rio Cávado, onde passou “toda a infância”. E deixa uma garantia: “Qualquer jovem da minha idade ou mais novo, noutros tempos, faria o que eu fiz. Não deixavam aquela senhora morrer. Os barcelinenses têm no seu espírito e na sua alma que ninguém que esteja ao seu alcance morre no rio. Somos isso e sempre fomos”.
A concluir, além de pedir à Câmara que arranje o açude, atualmente bastante degradado, pois assim conseguiria ter salvado a mulher mais rapidamente, apela às pessoas que “amem mais a natureza” e vivam mais o “mundo natural”, porque, fazendo-o, “a parte humana vem ao de cima”.
“E viva o Humanismo! Estamos num tempo em que parece que a Humanidade não existe, mas aqui em Barcelos tenho a certeza que Humanidade não falta. Quem diz Barcelos, diz Portugal”, sentencia.
Linhas de apoio
Linha SOS voz amiga. Linha de apoio emocional e prevenção ao suicídio: 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660 (diariamente das 15:30 às 00:30).
Telefone da amizade – Apoio em situações de crise pessoal e suicídio das 16:00 às 23:00: 228 323 535.