População e autarcas de Arcos de Valdevez e de Ponte da Barca, no distrito de Viana do Castelo, estão há semanas sem receber correspondência, situação que, segundo o sindicato, se deve à falta de contratação de carteiros pelos CTT.
Os profissionais afetos a estes concelhos reuniram-se hoje em plenário com o Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Correios, Telecomunicações, Media e Serviços (Sindelteco), no qual decidiram avançar, na segunda-feira, com um pré-aviso de greve às duas primeiras horas de trabalho, para a segunda quinzena de agosto, caso os CTT não contratem os profissionais em falta.
Em declarações à agência Lusa, o secretário nacional do Sindelteco, Henrique Pereira, explicou que, neste momento, “faltam cinco carteiros”, sublinhando que o trabalho “de 11 carteiros está a ser feito por seis”.
“Esta situação arrasta-se há cerca de dois anos. As pessoas foram saindo e a empresa não foi contratando. É preciso preencher os postos de trabalho vagos, que não são preenchidos há muito tempo”, vincou o responsável sindical.
O secretário nacional do Sindelteco conta que esta situação tem levado a queixas e reclamações por parte da população de Arcos de Valdevez e de Ponte da Barca quanto ao serviço prestado pelos CTT.
“É bastante penoso para os trabalhadores levarem com as reclamações das populações, que desconhecem a real situação. Os carteiros são o elo mais fraco e a população não sabe que a culpa não é deles. Estes profissionais querem servir bem a população, mas para isso são precisos meios. A população queixa-se aos carteiros, mas estes também já estão saturados”, afirmou Henrique Pereira.
O sindicalista disse ainda que, a partir de segunda-feira, os carteiros vão passar a “cumprir escrupulosamente” o horário, deixando de fazer horas extras, “que também já não eram pagas”.
Contactado pela Lusa, os CTT “confirmam a existência de alguns constrangimentos na distribuição de correio na área de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, devido a ausências não previstas de quatro colaboradores”, justificando “que não foi possível substituir imediatamente devido a dificuldades no recrutamento”.
“Os CTT estão ativamente a trabalhar para substituir estes recursos humanos e a procurar outras soluções que minimizem estes constrangimentos, nomeadamente recorrendo a ‘outsourcing’ e reforçando a equipa com trabalhadores de outros centros de distribuição já a partir de segunda-feira. Os CTT estimam que a distribuição de correio estará regularizada nos próximos dias e lamentam eventuais constrangimentos causados aos clientes”, acrescenta a empresa, na resposta escrita enviada.
Contactado pela Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Jolda (São Paio), concelho de Arcos de Valdevez, conta que há três semanas que não recebe correspondência, denunciando que os atrasos e as trocas de cartas por parte dos CTT se verificam desde 2019.
“Em setembro de 2019 enviamos um abaixo-assinado para a ANACOM [Autoridade Nacional de Comunicações, regulador do setor], para o chefe de distribuição de Ponte da Barca e para a Câmara de Arcos de Valdevez. Nunca obtivemos resposta de ninguém”, diz Pedro Alves.
O autarca denuncia que “são constantes” os atrasos na entrega de correspondência, algo que se vem agravando nos últimos dois anos.
“O carteiro não aparece e quando aparece entrega cartas aos molhos. Faz hoje três semanas que, enquanto presidente de junta, recebi o último correio, 22 cartas. Em média, devia receber duas cartas por dia. Gostava de saber onde para esse correio”, lamenta o presidente da Junta de Freguesia de Jolda (São Paio).
As mesmas queixas são feitas pela secretária da União de Freguesias de Jolda Madalena e Rio Cabrão, também no concelho de Arcos de Valdevez, o que está a ter “um impacto muito negativo e a provocar muita preocupação” na população local.
“Há mais de 15 dias que não temos correio e isto está a causar muitos transtornos à população. Estamos a falar de consultas importantes que não chegam, de contas para pagar que, quando chegam, já passou a validade de pagamento, ou de atrasos na entrega de pensões e de reformas que as pessoas estão à espera”, declarou à Lusa Rosa Brito.
A secretária desta junta relata que a situação já se arrasta “há ano e meio, dois anos”, mas, “com esta gravidade, só agora”.
Rosa Brito afirma ainda que os CTT “estão constantemente a mudar de carteiros”, dá conta de “falhas na distribuição de correspondência e troca de cartas” e deixa uma pergunta.
“Quem é que se vai responsabilizar por tudo isso?”, questiona.