Ponte Metálica D. Luís (Gandra/Fão – Esposende) – Obra de Arte de Oitocentos

Subsídios para a memória do nosso património industrial

Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia – Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural, pela Universidade do Minho / Investigador em Património Industrial

Em 1888, passados dois anos da inauguração da Ponte Internacional sobre o rio Minho, ligando Valença do Minho a Tui, na vizinha Galiza, davam início os trabalhos de construção da Ponte Metálica de Fão, no concelho de Esposende, que iria realizar a travessia do rio Cávado. Quatro anos após o arranque das obras, a Ponte Metálica de Fão era inaugurada (7 de agosto de 1892). A magnifica Obra de Arte tem o cunho do Eng.º Reynaud (projetista), e Abel Maria Mota, que foi o diretor da obra. Trata-se de uma Ponte Metálica (em ferro) implantada junto à foz do rio Cávado, que caracteriza a entrada na zona urbana de Fão, estando integrada na Estrada Nacional 13, ao km 42. A Ponte, apenas destinada a fins rodoviários e passagem de peões, é envolvida por um vale aberto, onde predominam os areais, numa bela paisagem ribeirinha, tão próxima do mar. A mesma foi classificada como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 1/86 DR, 1.ª Série, n.º 2, de 3 de janeiro de 1986. Trata-se da única Obra de Arte desta natureza, que integra a designada Arquitetura do Ferro no concelho de Esposende. A Ponte Metálica encontra-se assim salvaguardada há praticamente 35 anos. Não admira que muitos a julguem obra da Casa Eiffel, uma vez que Gustave Eiffel viveu ali próximo, em Barcelinhos, numa altura em que tinha em mãos uma série de Pontes, às quais a sua Casa dava corpo (no último quartel de Oitocentos), como a travessia do Cávado, em Barcelos (1877), a do Neiva (1878), a do rio Lima, em Viana do Castelo (1878), a do rio Âncora (1878), em Caminha, e outras mais, como no rio Douro, entre Porto e Vila Nova de Gaia – a famosíssima D. Maria Pia (1877) e a Luís I (1887). Era o auge de uma Nova Era – dinamizada pelos Caminhos de Ferro. Portugal, logo a seguir à França, foi o melhor cliente da Casa Eiffel, com dezenas de Obras de Arte por aí espalhadas, grande parte delas destinadas à ferrovia. Não obstante, importa recordar que Eiffel – o génio do ferro – teve um gabinete no Palácio da Bolsa, na cidade do Porto, aonde ainda se conserva a sua escrivaninha, e outros objetos, que nos transportam numa viagem pelos meandros da mais fértil imaginação que o século XIX consagrou à natureza humana.

A Ponte Metálica de Fão, caracteriza-se pelo seu tabuleiro plano, com uma extensão de aproximadamente 268 metros, e uma largura de aproximadamente 6 metros, alcatroado, que é suportado na parte inferior por chapa assente na estrutura metálica, com passeio para peões nas extremidades – com parapeito em gradeamento metálico, apresentando candeeiros metálicos, ao longo do passeio de jusante. O tabuleiro é constituído por tramos de armação de vigas mestras, em T, solidarizados por vigas perpendiculares e tirantes aplicados na diagonal, que formam uma espécie de xadrez de losangos. O tabuleiro é sustentado por sete pilares em cantaria, de formato subcircular, apresentando cornija lisa. A amarração do tabuleiro às margens é efetuada por dois pegões-encontro, cegos, também eles em cantaria e de igual modo com cornija lisa, resguardados da ação das correntes do rio por muros de proteção, também em cantaria. A jusante, na margem esquerda, a cornija assenta sob cachorros. O acesso ao tabuleiro é realizado através de taludes, que são suportados lateralmente por muros em cantaria. A montante, na margem esquerda, o acesso para peões do Cais ao tabuleiro realiza-se através de escada em cantaria, de um só lanço.

Em 1995, a extinta JAE – Junta Autónoma das Estradas, procedeu a obras de conservação da velha Ponte; em 2006, entre março e novembro, a EP – Estradas de Portugal, por questões de segurança da infraestrutura, intervencionou a mesma, substituindo o tabuleiro, procedendo também à recuperação de resguardos. Atualmente, parece estar a ser preparada a sua recuperação, tão urgente, atendendo ao seu estado de absoluta degradação – oxalá seja em 2022.

 
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