ARTIGO DE OPINIÃO
Rui Maia
Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.
Há 200 anos celebrava-se uma verdadeira Revolução, cujas repercussões mudariam o mundo de forma indelével. Nesta breve crónica, trazemos a lume uma das mais velhas pontes ferroviárias do mundo, executada em ferro – (23 de outubro de 1823) – sob a égide do aprimoramento da ciência e da técnica do profícuo século XIX. A Obra de Arte, desenhada por George Stephenson (o pai dos caminhos de ferro), é um altar à engenharia de Oitocentos.
A infraestrutura, pioneira pela sua natureza, salienta-se não só pelo material de que é constituída, mas, sobretudo, pelas soluções arrojadas e engenhosas que lhe deram corpo, resultando num excelente desempenho, baseado em treliças lenticulares muito simples – que permitem realizar vãos seccionados – em que as vigas superiores em forma de lente suportam as forças de compressão e, as inferiores, de igual formato, suportam as forças de tensão.
Em Shildon, no Condado de Durham, o Museu Nacional Ferroviário – Locomotion – prepara-se para receber a icónica ponte que colaborou na metamorfose do mundo. Esta ponte integrava a velha linha ferroviária entre Stockton e Darlington, a primeira do mundo a utilizar locomotivas a vapor e que, em 1833, passou a contemplar o serviço de passageiros.
A ponte Gaunless, cujo rio deu-lhe o nome, localizava-se num ramal em West Auckland, por ela passavam vagões carregados de carvão, inicialmente tracionados por equídeos. Mais tarde, a ponte acabaria por demonstrar fadiga, face ao incremento da passagem de vagões de mais tonelagem, ditando o seu desuso.
Em 1901, acabaria por ser desmantelada e acondicionada em Brusselton Colliery. Em 1927, quando o Museu Nacional Ferroviário de York foi inaugurado, a ponte foi reerguida. Desde 1975 que a ponte está exposta no exterior do Museu Nacional Ferroviário de York – no parque de estacionamento – carregando um vagão de carvão.
Trata-se de um dos maiores símbolos da Revolução Industrial do século XIX, granjeando o seu lugar na memória coletiva da humanidade.