Ponte Eiffel em Viana do Castelo: 144 anos de História

Artigo de Rui Maia

Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia

Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.

A travessia rodoferroviária do rio Lima, em Viana do Castelo, é um rendilhado de ferro que comemora dia 30 deste mês 144 anos de História. A Obra de Arte, desenhada pelo mago do ferro – Alexandre Gustave Eiffel – marca de forma indelével a paisagem da “Princesa do Lima”, que sem ela não seria a mesma. Abraçada pelo rio e beijada pelo mar, oscilando entre águas doces e salgadas, a majestosa ponte de ferro pudlado teima em perpetuar-se muito para além dos caprichos da natureza e das vidas que lhe deram forma.

Em 1839 a Rainha D. Maria II ordenou por Decreto de 17 de maio a substituição da ponte de madeira sobre o rio Lima por uma ponte de pedra. Contudo, esta ideia foi descartada e substituída pelo plano de uma ponte ferroviária.

A 21 de fevereiro de 1876, em Sessão Extraordinária, a Câmara Municipal, tendo como objetivo minimizar o impacto ambiental que iria provocar a edificação da nova ponte, solicitou ao Governo de sua Majestade que fosse projetada uma ponte com dois tabuleiros paralelos ao mesmo nível do Cais, porém, essa ideia não foi avante, tendo ficado como na atualidade, com dois tabuleiros sobrepostos. O projeto, foi aprovado na sua forma última por Portaria de agosto desse mesmo ano.

No ano seguinte, em março, iniciaram-se os trabalhos de construção; a obra foi dada por terminada em maio de 1878, data em que passou a primeira máquina pela ponte. A ponte foi oficialmente inaugurada a 30 de junho de 1878 por Fontes Pereira de Melo – um dos obreiros da Regeneração – grande discípulo da viação acelerada.

A ponte metálica sobre o rio Lima na cidade de Viana do Castelo é uma das mais notáveis obras da engenharia do século XIX. Considerada um dos mais importantes monumentos da cidade, é constituída por dois tabuleiros, um deles destinado ao trânsito rodoviário (superior) e o outro ao ferroviário (inferior).

Mede 563 metros

A ponte metálica sobre o rio Lima mede 563 metros de comprimento e 6 de largura. Na sua construção foram empregues 2 062 436 kg de ferro, custando naquela época 342 contos, sem incluir os custos dos dois viadutos que lhe dão acesso, com mais de 80 metros cada. A construção do edifício da Estação de Caminhos de Ferro de Viana do Castelo foi posterior à inauguração da Ponte Eiffel e do Caminho de Ferro. O edifício da Estação de Caminhos de Ferro de Viana do Castelo foi projetado pelo Eng.º Alfredo Soares. Era composto por uma frente com 70 metros, constituído por um corpo central e por um andar nobre, bem como por duas alas que finalizavam em pavilhões com sobrelojas, sendo o acesso ao edifício realizado através de uma escadaria frontal que foi demolida. Todavia, conserva-se a obra dos alçados em cantaria, do mais fino granito da região, e também a Coroa Real no cimo do seu alçado principal. O largo da Estação é hodiernamente um dos pontos de interesse na cidade, tendo como atração o monumento ao folclore vianense, exibindo uma parelha de bailarinos a dançar envergando o traje vianês, monumento esse da autoria do escultor Jaime Azinheira, cuja inauguração aconteceu a 18 de junho de 2000.

A construção da Ponte Eiffel e do Caminho de Ferro originou alterações estruturais na cidade, e, até mesmo, ao nível social e económico, de maneira a acompanhar as reformas que sucediam em Portugal na segunda metade do século XIX. Impunha-se a execução de grandes modificações urbanísticas, como a demolição de alguns edifícios, expropriação de terrenos de cultivo e de prédios para a construção do Caminho de Ferro, e, consequentemente, o alargamento e alinhamento de ruas de acesso à Estação.

Edifícios demolidos

Os edifícios demolidos em virtude das novas construções foram:

* O Convento de São Teotónio dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho (Convento dos Crúzios), bem como a Padaria Militar, para a construção da Estação de Caminhos de Ferro e da linha férrea;

* Parte do adro da Igreja do Convento do Carmo, bem como um edifício contíguo;

* O Matadouro Municipal e a Fonte do Gontim, entretanto removida e que se situava no fundo da atual rua do Gontim com a Praça D. Afonso III, para a passagem da linha férrea;

* Parte de edifícios anexos ao Convento de Sant´Ana (atual Congregação de Nossa Senhora da Caridade e Igreja da Caridade);

* Foram destruídas casas na rua da Bandeira, na rua da Portela (atual Portela de Baixo), no largo do Penedo (rua do Penedo), e na rua de Santa Luzia (atual largo 9 de Abril);

* A Escola Conde Ferreira, que se situava no largo de Santo António, que permitiu a abertura da atual rua Dr. Tiago de Almeida, para facilitar o acesso à Estação dos habitantes da zona da Abelheira;

* A Capela de São José, na rua de São José junto ao edifício do assento (antigo Quartel dos Bombeiros Municipais), que permitiu o alargamento desta rua e facilitou o acesso para a Estação de Caminhos de Ferro.
No que toca a outros aspetos, nomeadamente às ruas, sejam novas ruas, ou ruas alargadas, destaca-se o seguinte:

* Rua de Sant´Ana, atual Passeio das Mordomas da Romaria, alargada entre 1876 e 1878;

* Rua Nova da Cruz das Barras, atual rua Dr. Tiago de Almeida;

* Alargamento da rua dos Crúzios e da Carreira, atual Avenida Conde da Carreira;

* Alargamento e rebaixamento da rua da Amargura, atual rua Emídio Navarro;

* Abertura da rua Nova do Carmo, atual rua José Espregueira;

* Abertura da atual rua do Carmo;

* Alargamento da rua de São José.

A grande transformação urbanística ocorreu entre 1917 e 1922 com a construção da Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, possibilitando a ligação entre a Estação de comboios e o Porto de Mar da cidade de Viana do Castelo.

Mudanças urbanísticas

As obras do Caminho de Ferro, da Ponte Eiffel e da Estação ferroviária, deram azo a imensas alterações do plano urbanístico, grosso modo, aspetos que visavam beneficiar os acessos à Estação dos comboios, «encontrar» espaços para implementar as linhas férreas, e criar as condições de acesso à nova Ponte Eiffel. Todos estes aspetos fazem parte dos esforços que a Edilidade de Viana do Castelo fez no sentido de acompanhar os progressos ocorridos no país, em particular, no que toca ao desenvolvimento das redes de comunicação e transporte. A Ponte Eiffel de Viana do Castelo encontra-se em processo de classificação pela DGPC; pelo que aquilo que se espera é que esse grande marco da engenharia de Oitocentos – tida para Eiffel como a sua “obra-prima”, e um dos mais belos exemplares do património ferroviário nacional – venha a ser objeto de maior valorização, introduzindo-a nas rotas europeias do Património Industrial ferroviário. Em 2018, aquando da comemoração dos 140 anos da Ponte Eiffel de Viana do Castelo, lancei à autarquia da cidade o repto para a criação de um Centro Interpretativo da Ponte Eiffel, e outros desafios como a criação de rotas temáticas, a fomentar com outras autarquias da região Noroeste que, à imagem da cidade de Viana do Castelo, foram brindadas com outras Obras de Arte da Casa Eiffel: Porto – Barcelos – Âncora; agremiando também outras Obras de Arte coevas, como a Ponte Metálica construída pela empresa francesa Fives-Lille (1879), em Caminha, sobre o rio Coura, ou a Ponte Internacional de Valença do Minho – Tui (1886).
O que se pretende é que o Município de Viana do Castelo, através das competências que lhe estão atribuídas em matéria de turismo e cultura, desempenhe um papel ativo na prossecução desse esforço, promovendo o Património Industrial ferroviário da região.

 
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