Os autarcas de quatro aldeias de Ponte de Lima reúnem-se no domingo à volta da mesma mesa num encontro secular, onde depois de se discutirem os investimentos reclamados por cada freguesia, é servido um “arroz pica no chão”.
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Reportagem da RTP, em 2013
Trata-se de mais uma edição da Mesa dos Quatro Abades, uma espécie de fórum popular em que os presidentes das juntas de freguesia de Calheiros, Cepões, Bárrio e Vilar do Monte discutem os problemas das respetivas freguesias e aproveitam a presença, obrigatória, do presidente da câmara para reclamar obras ou expressar preocupações locais.
“O presidente da câmara vai atendendo aos nossos pedidos. Claro que não é como nós queríamos mas vai fazendo conforme pode”, afirmou hoje o presidente da União de Freguesias de Labrujó, Rendufe e Vilar do Monte, Manuel Rodrigues.
Este ano, o autarca a quem cabe a organização da tradição vai reclamar “a beneficiação de várias estradas municipais, da casa mortuária de Labrujó, e pedir soluções para alguns problemas sociais que existem na freguesia”.
Enquanto “os homens discutem os problemas da aldeia” à Mesa dos Quatro Abades, ao lado, “numa cozinha montada para efeito, as mulheres preparam o repasto para servir os cerca de 140 convidados”.
O almoço, sempre com o “arroz pica no chão” na ementa, não dispensa os tocadores de concertina e cantadores ao desafio.
A tradição, realizada sempre a partir das 12:00, remonta ao século XVIII e decorre sobre uma mesa em granito assente num marco divisório que delimita as freguesias de Calheiros, Cepões, Bárrio e Vilar do Monte.
Desta forma, os quatro bancos que a rodeiam estão colocados no território de cada uma das aldeias.
Com a reforma administrativa do território, há menos um presidente de junta a sentar-se à Mesa dos Quatro Abades, devido à agregação de Bárrio com Cepões num único órgão, mas sem implicações na tradição.
Os primeiros registos desta tradição datam de 1775 e, na altura, os abades – que assumiam o papel atual do presidente de junta – sentavam-se, depois de uma manhã de procissão dedicada a São Sebastião, pedindo proteção contra a fome, em cada um dos bancos correspondentes.
A mesa é ladeada por quatro bancos, também em granito, cada um assente no território de cada freguesia, onde os representantes das respetivas paróquias se sentavam para debater e resolver os mais diversos assuntos, consultando os fiéis, que se encontravam ao seu redor.
A tradição esteve suspensa alguns anos, mas, a partir de 1987, foi reatada com os autarcas no lugar dos abades, passando a realizar-se um encontro anual, para o qual são convidadas as entidades locais e onde são debatidos os problemas comuns às quatro freguesias.