O plano nacional para o envelhecimento ativo vai ter soluções adaptadas quase à realidade de cada um, seja com habitação colaborativa ou obras nas residências, para que os mais velhos possam escolher onde preferem viver até mais tarde.
Em entrevista à agência Lusa, o coordenador do Plano de Ação para o Envelhecimento Ativo e Saudável, que iniciou funções em 01 de abril, defendeu que se trata de uma grande aposta do atual Governo e explicou que será um plano focado nas pessoas e não nos serviços.
Nuno Silva Marques esteve antes à frente do Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve (Algarve Biomedical Center), que integrava o centro de referência Algarve Active Ageing, um dos quatro centros de referência que compunham a Rede Portuguesa de Envelhecimento Ativo e Saudável (RePEnSA) e de onde saiu um plano de ação para promover o envelhecimento saudável e ativo até 2030, que foi entregue à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social ainda em 2021.
Segundo o responsável, é expectável que o plano nacional para o envelhecimento ativo seja apresentado até ao final do primeiro semestre, ou seja, até ao final do mês de junho, devendo entrar em vigor, com as medidas no terreno, a partir do segundo semestre.
Nuno Marques, que foi uma escolha dos ministros da Saúde e do Trabalho, explicou que as medidas previstas visam responder aos problemas das pessoas, envolvendo várias instituições e serviços, sejam públicos, da sociedade civil ou empresas e que esse será “o grande desafio”.
O futuro será feito de serviços à medida das necessidades de quem precisa e, entre os quatro pilares em que assenta o novo plano, está o da autonomia e da vida independente, incluindo medidas para “adaptar os locais onde as pessoas vivem”.
“Temos de ter equipas multidisciplinares a dar apoio às pessoas e, portanto, encontrar muitas vezes fatos à medida, de forma a conseguirmos preservar a autonomia de cada um”, adiantou Nuno Marques.
De acordo com o responsável, haverá uma gestão integrada de cuidados, que “será o foco do plano”, uma tarefa que classificou como “importante” e “relevante”, tendo em conta que a forma como atualmente as pessoas chegam às idades mais avançadas não é a mesma de há décadas e isso exige adaptação, uma vez que “muitas delas são e vão continuar a ser muito válidas à sociedade”.
Nuno Marques acredita que o ideal é que haja “uma transição gradual e progressiva” no sentido de uma menor institucionalização, para que “cada vez mais as pessoas estejam onde querem estar”.
“Que é, na maioria dos casos, nas suas habitações, nos seus domicílios, integradas na sua comunidade, onde sempre estiveram”, apontou, apesar de admitir que “vai sempre haver situações em que a institucionalização em lares irá ser necessária”.
Defendeu que o caminho terá de ser na construção de uma resposta que mantenha as pessoas nas suas casas, nos locais onde estão integradas, “preservando a sua autonomia e as suas capacidades até o mais tarde possível” e que, por isso, “um dos grandes focos vai ser sempre a prevenção”.
É neste âmbito, explicou, que entram medidas como obras de reabilitação nas habitações ou habitações colaborativas, tal como os apoios domiciliários diferenciados, “medidas concretas que irão preservar a capacidade de as pessoas estarem nas suas casas”.
O plano inclui também um pilar sobre prevenção da saúde e bem-estar, outro sobre prestação de cuidados e um terceiro sobre participação cívica e integração, todos com “múltiplas medidas”.
Nuno Marques destacou, entre as medidas de saúde e bem-estar, a prevenção da doença, que vai implicar, nomeadamente, as condições que existem nos locais de trabalho e que contribuem para algumas doenças a longo prazo que vão ter impacto na forma como as pessoas chegam a velhas.
O especialista sublinhou que “não há uma única medida que vá resolver” o problema do envelhecimento, apontando que as situações serão diferentes consoante a pessoa viva numa área metropolitana, por exemplo, ou numa zona isolada do país e que isso terá de ser tido em conta no momento de adaptar a resposta.
Acredita, por isso, que terá de haver o envolvimento de autarquias e freguesias, além das instituições de solidariedade social que muitas vezes são quem conhece melhor a realidade e a resposta de que as pessoas precisam.