Plano de emergência sem progressos significativos nos cuidados primários

Insistem que a chave é o reforço nos recursos humanos
Plano de emergência sem progressos significativos nos cuidados primários
Foto: O MINHO / Arquivo

Os profissionais da área dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) dizem que o plano de emergência da saúde não trouxe progressos significativos nesta área e insistem que a chave é o reforço nos recursos humanos.

Contactadas pela Lusa, tanto a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) como a Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) pediram concursos mais simples e rápidos e uma maior aposta nos incentivos a atribuir aos profissionais, sobretudo nas zonas carenciadas.

“O discurso político sempre foi o de que os cuidados primários são o pilar do nosso serviço na saúde (…). Mas, depois, tem de estar alinhado com as medidas concretas”, defendeu Diogo Urjais, da USF-NA.

“Se damos importância dos cuidados de saúde primários naquilo que é a coesão social, (…) temos de ter medidas integradas”.

Diogo Urjais lamentou que, depois de anos a falar na escassez de médicos de família, ainda estejam em falta cerca de 1.000 destes profissionais, mais de 340 enfermeiros e 350 secretários clínicos.

A falta de recursos humanos é também o problema crítico dos CSP para o presidente da APMGF: “Continuamos sempre à volta do mesmo, neste caso em concreto, a falta de médicos de família no Serviço Nacional de Saúde”.

Nuno Jacinto lamentou que o último concurso anunciado – que contempla 579 vagas para recém-especialistas em Medicina Geral e Familiar, das quais 97 em zonas consideradas carenciadas – ainda não tenha sido lançado.

Reconheceu que se ganhou tempo porque este ano o mapa de vagas foi divulgado mais cedo, mas disse que essa vantagem se está a perder.

“Este procedimento burocrático que vai existindo sempre é que nos faz confusão. Porque é que não é agilizado”, questionou, lembrando que, enquanto esperam a abertura do concurso, os médicos recém-especialistas “vão saindo”.

Ambos os responsáveis lembraram que a atribuição de mais tarefas aos centros de saúde – como recentemente a distribuição de produtos para a incontinência ou pensos higiénicos e tampões – veio “ampliar as dificuldades”.

“Pioramos uma situação que já não era boa. (…) Foi a questão das fraldas, da dignidade menstrual e agora a questão dos atestados multiusos para a incapacidade, que também tem regras diferentes e, numa tentativa de simplificar, na realidade, estamos a criar mais um trabalho questionável para alguns dos médicos”, afirmou.

Questionados sobre as Unidades de Saúde Familiar modelo C (USF C) – que podem ser geridas pelos setores social e privado -, ambos questionaram se não poderá oferecer melhores condições para os profissionais e, com isso, acabar por ir buscá-los onde eles já fazem falta.

“A questão de base é sempre se vamos fazer mais do mesmo e, portanto, dar condições iguais às que já existem, e aí não percebemos porque é que é feito o novo modelo, ou então vamos fazer um modelo com condições mais atrativas e, sendo assim, porque é que não permitimos fazer no âmbito do SNS?”, questionou Nuno Jacinto.

Para provar que a oferta de condições mais atrativas funciona, o dirigente afirmou: “Houve um grupo privado que aqui há algumas semanas conseguiu abrir 12 unidades, a que chamou centros de saúde, em Lisboa e Vale do Tejo e, portanto, afinal já há médicos, afinal eles existem e é possível que cativá-los”.

Por outro lado, lembrou: “Os incentivos são um problema eterno que já se provou que não funciona. Ou seja, não é por nós darmos um incentivo, que muitas vezes até não é de um valor muito significativo, durante um período curto que faz as pessoas mudarem a sua vida de armas e bagagens para um determinado local”.

Diogo Urjais, por seu lado, disse que “não é contra as USF C, desde que numa ótica de complementaridade”. “Somos contra dentro da lógica de substituição”, afirmou.

“No paradigma que vivemos hoje, as USF modelo C vão competir diretamente com o SNS. E se vão competir, quer nos serviços físicos, quer financeiros, vão tirar recursos ao Serviço Nacional de Saúde”, lamentou.

“O SNS fornece um serviço de saúde, o privado venderá um serviço de saúde. Hoje, amanhã e sempre. Essa é a lógica”.

 
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