O presidente da Associação de Pescadores de Vila Praia de Âncora, Caminha, acusou hoje a Docapesca de ter “modificado unilateralmente” os termos do contrato das bancas do mercado de segunda venda, afetando “muitíssimo” o rendimento da classe.
“A Docapesca alterou-nos o contrato, no que diz respeito ao mercado de segunda venda, sem se reunir connosco, sem pedir pareceres, de forma absolutamente unilateral. As bancas são licenciadas como apoio ao titular da embarcação, mas não está definido que tipo de apoio. Anteriormente, a banca era atribuída à embarcação, apenas para a venda do peixe da pesca local. Este modelo de mercado de segunda venda foi criado para ajudar a pesca local, mas ao mudar uma palavra, a Docapesca mudou todo o contexto, o que está a gerar um problema gravíssimo”, afirmou Vasco Presa.
Contactado pela agência Lusa a propósito de uma nota hoje enviada à imprensa pela Docapesca, dando conta da conclusão da reabilitação dos farolins de assinalamento marítimo do porto de Vila Praia de Âncora, Vasco Presa desvalorizou a obra por considerar que “os pescadores estão a viver problemas muito mais graves”.
“Temos problemas gravíssimos nos rendimentos dos pescadores. Se juntarmos a este os problemas causados pela pandemia de covid-19 e o assoreamento da barra, a frota está a ser muitíssimo afetada e a Docapesca está a fugir à responsabilidade. Há um problema gravíssimo nas vendas e, por isso, estamos a pensar parar a frota no final de agosto. A frota da sardinha já está parada porque não é rentável. Vem sardinha de fora. Há alguns armadores que foram trabalhar para fora porque não tinham rendimentos, e sem rendimento não há tripulações”, sustentou.
A Lusa contactou a Docapesca, mas sem sucesso.
No portinho de Vila Praia de Âncora, no concelho de Caminha, distrito de Viana do Castelo, operam, segundo Vasco Presa, cerca de 30 embarcações de pesca tradicional e “entre 60 a 70 pescadores”.
Segundo Vasco Presa “há dois armadores que estão a ganhar balúrdios e a destruir os outros todos que vivem do mar, devido ao novo modelo que passou a vigorar nas 18 bancas do mercado de segunda venda”.
“Há duas bancas a fazer isso, descaradamente. Compram sardinha de cerco a cerca de 15 a 20 euros a caixa, sendo que cada caixa tem cerca de 10 quilos. Depois vendem, em Vila Praia de Âncora, a oito e nove euros o quilo, claro que ganham cerca de cem euros em cada caixa. Se vender dez caixas ganha mil euros, sem investir nada. Não tem tripulantes a quem pagar e não gasta em combustível”, especificou.
Apesar “da venda na banca ser exclusiva do armador, dá direito ao armador, para apoio dele, a trazer peixe de fora e a vender como se fosse pescado por dele”.
“Deixam de trabalhar como pescadores e passam a ser negociantes enganadores. Por isso, podem parar os barcos porque é mais rentável comprar peixe com menos qualidade e vendê-lo mais barato”, acrescentou.
Vasco Presa adiantou que os pescadores já reuniram com a Docapesca: “Disseram-nos para manifestar a nossa posição através de um abaixo-assinado para ver se é possível alterar o contrato”, mas “se o problema não for resolvido os pescadores estão a ponderar parar totalmente a partir do final de agosto”.