Colunistas
Peregrinar
Começaram por estes dias a encher as bermas dos caminhos os peregrinos em direção ao Santuário de Fátima.
Os emigrantes são durante o mês de Agosto peregrinos especiais que se juntam ao cortejo de fiéis devotos na capelinha das Aparições, e cuja mentalidade sacudida e arejada pela Europa fora mantém intacta a arreigada a adoração a Nossa Senhora. Peregrinam logo que partem de carro a abarrotar de passageiros e bagagens das terras adotivas, onde deram o litro o ano inteiro para usufruírem de umas semanitas de férias em Portugal, olhos marejados de lágrimas mal cruzam a fronteira exaustos após horas de viagem, olhos marejados de lágrimas ao avistarem a casa em granito que ficou pacientemente à espera deles na aldeia dos pais e avós, olhos marejados de lágrimas presos às vinhas que bordejam os campos de milho e de trigo, olhos marejados de lágrimas que aliviam o cansaço sofrido de mais um ano passado a labutar no estrangeiro.
O emigrante tradicional peregrina até à pátria em cada ano, espécie de boomerang afetivo em vaivém, a fuga pelas condições de vida precárias, o regresso pelos laços reforçados com a distância e ausência dos entes queridos.
O emigrante moderno, aquele que de canudo na mão viu a esperança por um canudo quando se tornou mais um número a engrossar as longas filas de espera na porta do centro de desemprego, não peregrina para Portugal no mês de Agosto, demasiado ressentido com a traição de um ventre materno que o expulsou para o limbo de viver, rotinas baralhadas nos novos mapas urbanos por decorar em países de língua estrangeira e gentes diferentes, sensação mantida durante os primeiros meses após a saída do país, antes de se adaptar à nova realidade, arte na qual o português é mestre desde a época dos Descobrimentos. Talvez um dia peregrine anualmente de volta à terra lusitana, quem sabe.
Peregrinam também em Agosto os veraneantes, portugueses espremidos o ano inteiro em trabalhos precários, munidos do cartão de crédito na segunda quinzena de cada mês para conseguirem fazer face às despesas, munidos do cartão de crédito na altura de reservarem uma semanita de férias alojados no Algarve, munidos do cartão de crédito no regresso às aulas, o arrependimento do tom recém-bronzeado da pele e das sardinhadas com a família e amigos latente algures no cérebro relaxado pelos dias em que adormeceu deitado na toalha de praia, embalado pelo som idílico da rebentação marinha.
E deixam de peregrinar em direção às instituições sociais os portugueses que passam fome. Em Agosto, as famílias que recebem ajuda alimentar passam dificuldades extra, porque muitas instituições fecham para férias. Antecipar a distribuição de alimentos não é solução porque a pobreza crónica não permite uma gestão eficaz de bens.
A silly season, época de esbanjamento para uns em paraísos temporalmente fugazes é um verdadeiro pesadelo para outros, os que têm fome. Felizmente as cantinas sociais permanecem abertas, sendo até a sua capacidade para fornecer refeições às crianças reforçada em período de férias. Valha-nos Nossa Senhora…
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