Em alguns anos a sua realização esteve “periclitante”, noutras foi mesmo adiada, mas cancelada é mesmo a primeira vez.
“Julgo ser a primeira vez, na sua história de mais de 500 anos, que a Festa das Cruzes, na sua vertente religiosa e popular, não se realiza, no caso concreto, devido à pandemia da covid-19 e ao estado de emergência daí resultante”, escreve o historiador e investigador Victor Pinho em artigo publicado no Jornal de Barcelos.
“Houve anos em que a sua realização esteve periclitante, limitando-se às cerimónias religiosas. Foi sobretudo no período da I Grande Guerra Mundial (1914-1918) e, nos anos seguintes, em que a crise sanitária (gripe espanhola ou pneumónica) e económica afectou a realização dos festejos”, conta o bibliotecário municipal, acrescentando que “o mau tempo também condicionou” a primeira grande romaria do Minho, “transferindo alguns números do programa para outros dias”.
Segundo o estudioso da história de Barcelos, uma das edições que foi adiada foi a do ano de 1852.
“A visita a Barcelos, nos dias 6 e 7 de Maio, de D. Maria II e do seu marido D. Fernando II, bem como dos seus filhos, o príncipe D. Pedro (futuro D. Pedro V) e do infante D. Luís (futuro D. Luís I) fez com que a Festa das Cruzes daquele ano fosse transferida para o último daqueles dias, para que o monarca, Juiz Perpétuo da Real Irmandade do Senhor da Cruz, pudesse assistir às festividades”, relata no referido artigo.
Outro ano em que a Festa das Cruzes esteve suspensa foi o de 1938, devido a uma tragédia, em Viana do Castelo, que matou mais de duas dezenas de pessoas do sul do concelho de Barcelos, sendo a freguesia de Chorente a mais afetada.
No dia 1 de maio, uma carrinha de caixa aberta com 40 passageiros de Barcelos que regressava da “Festa do Trabalho”, em Viana do Castelo, foi abalroada por um comboio.
Dois dias depois, feriado municipal, chegavam a Barcelos os mortos e “a Comissão das Festas das Cruzes suspendeu os seus trabalhos, em sinal de sentimento”, informava, à época, o Jornal de Notícias. “Barcelos, na sua semana festiva – a grande jornada das Cruzes – perdeu a cor e a alegria”, escrevia aquele jornal, dando conta da realização, no sábado seguinte, de cerimónias religiosas presididas pelo Arcebispo de Braga.
Câmara assinala romaria através de vídeos nas redes sociais
Desde quinta-feira e até domingo, a Câmara de Barcelos coloca nas suas plataformas digitais vídeos para assinalar a romaria.
Nestes dias, vão ser publicados pequenos filmes de Festas das Cruzes de anos anteriores, o hastear da bandeira do Município, mensagens do Presidente da Câmara Municipal e do Presidente da Assembleia Municipal e, no dia 3 de maio, às 12:00, a missa solene da Festa das Cruzes, em direto da Igreja do Senhor da Cruz.
O objetivo é “destacar as tradições culturais e religiosas associadas ao mais importante evento anual da cidade e do concelho de Barcelos”.
Já a Paróquia de Barcelos pediu aos fiéis que, no feriado municipal, colocassem nas suas casas cruzes enfeitadas de flores para assinalar o dia da Invenção da Santa Cruz.