Era uma das maiores inquietações de Pedro André. Na encosta de uma das serras que ladeia Agilde, pequena freguesia do concelho de Celorico de Basto, o jovem construtor tem uma verdadeira aldeia, com igrejas, casas senhoriais, prédios e tudo o mais que pode “caber” no projeto de vida deste celoricense.
Atração principal da freguesia de Agilde, a aldeia comporta mais de 50 edifícios emblemáticos de diversos pontos do concelho (e de outros vizinhos) num só lugar: traseiras da casa onde vive o artesão.
O local chegou a receber mais de uma centena de visitantes num só dia, no ano passado, e este ano as romarias, embora em menor número, face às recomendações da DGS, continuam rumo às traseiras da Aldeia do Pedro (ou do André), pois para o autor é irrelevante.
Em novembro de 2019, O MINHO esteve em reportagem no local e conversou com o artesão, de 33 anos, que se dedica à aldeia há mais de dez anos, depois de ter percebido, ainda em criança, que tinha um talento natural para criar miniaturas de edíficios existentes.
Na altura, Pedro André Branco Lemos disse a O MINHO que ficaria feliz se alguém, Câmara ou Junta, alcatroasse o acesso à aldeia, que se fazia então através de um caminho de terra e pedras irregulares, onde não podia passar sequer um carro.
Pois bem, a Junta de Agilde ouviu o apelo e, este mês de agosto, pavimentou o acesso à aldeia de Pedro André, como contou a O MINHO o presidente da junta, Luís Lopes.
“Fez-se um acesso em alcatrão de cerca de 50 metros até à aldeia em miniatura uma vez que há fins de semana com mais de uma centena de visitantes e achou-se por bem fazer isso, até porque o Pedro merece ter bons acessos, sobretudo para as crianças”, explicou o autarca.
Pedro não está satisfeito
Mas Pedro André não está satisfeito. “Faltam os lugares de estacionamento”, disse. E Luís Lopes assegura que a partir de setembro esse novo problema vai ser resolvido.
“Encontrámos muita pedra junto à entrada da aldeia, agora só a partir de setembro é que temos disponível uma máquina para partir a pedra para conseguirmos criar quatro ou cinco lugares de estacionamento ali junto à entrada”, garantiu.
De futuro, “o mais breve quanto for possível”, o autarca quer ainda criar entre “30 a 40” lugares de estacionamento na rua que sobe até às traseiras da casa de Pedro, para todas as condições ficarem reunidas para que os visitantes acorram cada vez em maior número.
É o nosso património mais emblemático
Questionado por O MINHO, o autarca admite que esta aldeia em miniatura será uma das principais atrações da freguesia em termos de património. “Temos uma praia fluvial que tem tido muita adesão neste verão, mas isso não é bem património”, vinca Luís Lopes.
“Agilde ganhou muita projeção com o trabalho do Pedro, especialmente por toda a divulgação que foi feita no Facebook, as pessoas vêm visitar a aldeia do Pedro e depois visitam Agilde”, diz, sorridente, o autarca, que é fã do trabalho do jovem artesão.
“Eu acho muito importante a obra dele, já conheço há muitos anos, desde o tempo da escola”, refere, acrescentando que, conforme a aldeia foi aumentando com novas criações de Pedro, também algumas inovações foram feitas pela autarquia, como é exemplo a colocação de sinalética nas ruas para se encontrar o local (e que ajudou a nossa reportagem).
O autarca refere ainda que a junta comprou algumas miniaturas a Pedro para o ajudar financeiramente, uma vez que vive “de biscates de jardinagem e agricultura”, como o próprio confidenciou a O MINHO.
As visitas são “mais que muitas”, mas ainda há muita gente da própria freguesia que nunca visitou a aldeia do Pedro. “Vai lá mais pessoal de fora e tenho pena que algumas pessoas com responsabilidades acrescidas na freguesia não passem lá”, desabafa o presidente da junta.
Ganha umas moedas que as pessoas vão deixando
Luís Lopes tem tentado que Pedro comece a vender miniaturas de forma a arrecadar algum dinheiro, mas este mostra-se reticente. Até ao ano passado, tinha um lago onde as pessoas podiam deitar moedas como forma de agradecimento. Mas, um dia, roubaram-lhe o dinheiro e Pedro acabou com o lago.
“Agora tem uma caixa que só ele tem acesso e é lá onde coloca alguns trocos que as pessoas lhe vão dando, até porque a entrada é grátis mas cada um pode deixar uma gratificação para ajudar o Pedro”, explica Luís Lopes.
A aldeia, cada vez maior, vai perdendo espaço no monte situado nas traseiras da casa do jovem artista. Já pouco terreno está disponível para construção e é bem provável que, após diálogo com vizinhos, a aldeia em miniatura se possa estender até outros terrenos, aumentando assim a cerca de meia centena de edifícios que já possui.
Começou a construir casinhas com barro e paus aos dez anos
Pedro André Branco Lemos, 33 anos, começou a construir casinhas com pedras, barro e paus, aos 10, quando “chegava da escola”. Hoje, já construiu mais de 50 miniaturas de edifícios, entre os quais o Hospital de Fafe e o Mosteiro de São Gonçalo de Amarante, e prepara-se para construir uma réplica do edifício da Câmara de Celorico de Basto.
A aldeia já é notícia desde, pelo menos, 2009, quando a TVI fez uma reportagem com o talentoso empreiteiro. Desde então, tem recebido visitas “quase todas as semanas”, sobretudo no verão. “Já cá vieram franceses, que vêm com os emigrantes, mas portugueses vêm de todo o país, até do Algarve”, assegurou a O MINHO.