Pedro Nuno critica “condicionantes da União Europeia” que dificultam reindustrialização nacional

Defende que “periferias” são prejudicadas
Foto: Lusa

O secretário-geral do PS criticou hoje, perante legisladores norte-americanos, “as condicionantes da União Europeia” que considerou dificultarem uma política de reindustrialização nacional e favorecerem “poucos centros económicos”, prejudicando “muitas periferias”, como Portugal.

Pedro Nuno Santos falava na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), em Lisboa, no âmbito de uma iniciativa intitulada “Diálogo entre Legisladores”, que visa juntar portugueses e lusodescendentes com cargos na política norte-americana.

Num discurso em inglês, dedicado à sua visão para a economia portuguesa, Pedro Nuno Santos começou por criticar o PSD, que considerou não ser social-democrata mas um “partido neoliberal”, e considerar que “o crescimento e a prosperidade do país depende de baixar os impostos sobre as empresas”, como “se não fosse necessária nenhuma estratégia”.

Em contraponto, o líder do PS disse que o crescimento do país não deve depender unicamente do turismo e defendeu novamente uma política de apoios seletivos do Estado a setores específicos da economia.

O secretário-geral do PS considerou que, atualmente, é difícil implementar esse tipo de política a nível nacional devido às regras de auxílio estatal impostas pela União Europeia (UE) que, apesar de “terem sempre existido”, têm sido impostas desde os anos 1980 “como nunca antes”.

Para exemplificar esta questão, Pedro Nuno comparou a resposta que foi dada, durante a pandemia, pelo Governo dos Estados Unidos e a UE para garantir que a indústria de aviação sobrevivia.

O líder do PS disse que a administração norte-americana injetou “mais de 60 mil milhões de euros” no setor, permitindo a manutenção de empregos, enquanto, na UE, apesar de não ter sido impedido o auxílio estatal, esse tipo de encargos teve de ser totalmente suportado pelos governos nacionais.

Pedro Nuno Santos considerou que isto mostra que a UE “é muito melhor no jogo da política de concorrência do que no da política industrial”, apesar de reconhecer que, devido à competição com a China, a temática da reindustrialização entrou na agenda europeia e, com a pandemia, as “regras de concorrência foram flexibilizadas”, o que considerou ser positivo.

“O problema é que os grandes países do núcleo industrial da Europa – como a Alemanha, a França e a Itália – estão a usar a flexibilização dessas regras para investir nas empresas nacionais de uma maneira que parece injusta para países que também gostariam de investir nas suas empresas, mas que carecem do músculo financeiro para o fazer”, criticou.

Defendendo que é necessário “um novo quadro e um novo equilíbrio entre a política de concorrência e política industrial”, o líder do PS apelou em particular a que os futuros programas europeus para a reindustrialização sejam desenhados “de uma maneira que garanta que as grandes empresas de todos os Estados-membros possam beneficiar do esforço”, e não apenas “as empresas do triângulo industrial Milão, Toulouse e Hamburgo”.

“Esta história de duas uniões, em que poucos centros económicos tendem a prosperar e muitas periferias enfrentam dificuldades ou empobrecem, tem consequências políticas, como muitas eleições mostraram no passado recente”, advertiu, referindo que, quanto mais tarde se reconhecer isso, “mais tarde se irá recuperar alguma estabilidade e reduzir a polarização”.

No período de debate, questionado sobre o populismo, Pedro Nuno Santos considerou que o seu crescimento se deve em parte a uma sociedade mais individualizada e ao facto de, numa época de redes sociais, as suas “mensagens simplistas” serem mais facilmente apreendidas pelo público.

“As soluções simplistas são fáceis de transmitir no TikTok. Nesse campo, os populistas estão  a ganhar de longe. Temos todos, eu incluído, de aprender a transmitir mensagens em 30 segundos”, reconheceu.

Sobre a temática da habitação, também abordado, Pedro Nuno Santos defendeu a construção de habitação pública e aproveitou para criticar o Governo.

“O fim dos impostos não é a solução. É o que este Governo está a fazer e vão ver que não vai resolver nada na habitação porque, daqui a uns anos, o preço da habitação vai continuar a subir e vai comer o corte nos impostos”, disse.

 
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