O secretário-geral do PS considerou hoje inaceitável o “insulto à democracia” que acusou o primeiro-ministro de ter feito com a “ameaça de alterar a lei da greve” devido à paralisação na CP, assegurando que “não passarão”.
“Aquilo que o primeiro-ministro faz em plena greve é chantagear, é ameaçar os trabalhadores portugueses de uma alteração à lei da greve. Isso é inaceitável e eu quero dizer que não passarão”, respondeu aos jornalistas Pedro Nuno Santos durante o arranque de uma arruada na Covilhã.
Para o líder do PS, esta declaração do primeiro-ministro “é um insulto à democracia”.
“Há uma greve a decorrer com uma adesão de 100%. O Governo falhou na negociação e agora quer responsabilizar os sindicatos, os partidos”, condenou, admitindo que “não queria acreditar” naquilo que ouviu.
Na opinião de Pedro Nuno Santos, esta posição do presidente do PSD “é uma afronta à democracia, é uma afronta a uma das maiores conquistas de Abril que é o direito dos trabalhadores se poderem organizar para reivindicar os seus direitos”.
“Revela autoritarismo, revela desrespeito pelos direitos dos trabalhadores, revela desrespeito por um dos direitos mais elementares de um Estado de direito”, acusou.
Para o líder do PS, Montenegro “só se pode queixar do seu próprio Governo”.o
“O PS há um ano fez uma campanha com protestos permanentes, por exemplo das forças de segurança. Nunca na vida ouviriam um líder do PS dizer que é preciso pôr ordem, que é preciso rever a lei da greve”, disse.
Reiterando uma ideia que já tinha defendido a véspera, em Évora, de que esta paralisação de 100% não era possível só com dirigentes sindicais”, Pedro Nuno Santos defendeu que “uma greve resolve-se com muito diálogo”.
“Como eu consegui resolver a greve dos motoristas de matérias perigosas [em 2029]. Isso exige diálogo, exige trabalho, não é com ataques à democracia”, enfatizou, referindo que “uma das maiores vitórias de Abril é o direito à greve”.
Na opinião do líder da oposição, é “impensável, inaceitável que um primeiro-ministro” queira “protestar contra o direito à greve” porque “está incomodado com uma greve em plena campanha”, apontando que, há um ano, quando era o PS que estava no Governo, Montenegro “não estava incomodado com os protestos que existiam” em relação ao anterior executivo.
O presidente do PSD e primeiro-ministro, Luís Montenegro, considerou hoje que houve “influências políticas, partidárias e eleitorais” que não permitiram evitar a greve da CP e defendeu que pode ser necessário alterar a lei para equilibrar o direito à greve com outros direitos.
“A minha convicção e a convicção dos membros do Governo que intervieram nesse processo é de que, claramente, as influências políticas e partidárias e eleitorais acabaram por não evitar aquilo que era o desfecho normal de um processo de negociação”, disse Montenegro.
A paralisação da CP, que se prolonga até 14 de maio, foi convocada contra a imposição de aumentos salariais “que não repõem o poder de compra”, pela “negociação coletiva de aumentos salariais dignos” e pela “implementação do acordo de reestruturação das tabelas salariais, nos termos em que foi negociado e acordado”, segundo os sindicatos.
A greve teve um especial impacto entre terça-feira e hoje devido ao maior número de sindicatos (14) que aderiram à paralisação nestes dias.
Por decisão do Tribunal Arbitral, estas greves não têm serviços mínimos.