Um grupo de seis alunos do terceiro ano do curso de arqueologia da Universidade do Minho, enquadrados por três professores, descobriram esta semana uma pedreira na Milha XVI da Geira Romana (Via XVIII ou Via Nova) entre as freguesias de Balança e de Chorense, no concelho de Terras de Bouro, cuja Câmara Municipal continua a apoiar bastante os trabalhos arqueológicos.

Os estagiários detetaram a pedreira, coberta por terra e silvas, concluindo à priori que tal pedreira era utilizada pelos romanos, para retirarem dali o chamado granito de grão grosso, a partir do qual construíam os marcos miliários, padrões que assinalavam não só as milhas entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga), como ainda os nomes dos diversos imperadores.

Segundo a professora Helena Carvalho, coordenadora da equipa de arqueólogos, “nesta pedreira destaca-se um afloramento com marcas de cunhas de madeira, sendo estas cunhas colocadas ao longo das pedras, o que, adicionando água, fazia inchar essas cunhas em madeira, facilitando a desintegração da matéria prima necessária para os marcos miliários, muros e calçada”.
No terreno estão os professores Helena Carvalho, Jorge Ribeiro e Paulo Bernardes, orientando as tarefas de seis estagiários de arqueologia da UMinho, Lídia Pereira, Frederico Sousa, Hugo Martins, João Monteiro Piazzon, Rafael Queiroz e Óscar Gama.

Câmara de Terras de Bouro felicita
A vereadora da Cultura e Educação da Câmara de Terras de Bouro, Ana Genoveva Araújo, deslocou-se até ao local do achado, um pouco abaixo da localidade de São Sebastião da Geira, reiterando os agradecimentos da autarquia para com os professores e os alunos envolvidos nas prospeções arqueológicas, que valorizam e redescobrem o percurso da Geira Romana.
Acompanhada do chefe da Divisão de Cultura, Educação, Turismo e Desporto, Cristóvão Carvalho, a vereadora Ana Genoveva Araújo disse a O MINHO que “esta descoberta vem uma vez mais justificar a classificação da Geira Romana como património da humanidade, cujo processo de candidatura já decorre, por se tratar, não só, mas também, de um museu vivo, e ao ar livre”.

O executivo camarário, presidido por Manuel Tibo, está fortemente apostado em que a Via XVIII do Império Romano seja em breve declarada Património da Humanidade, mantendo um protocolo com a Universidade do Minho, a cujos investigadores e estagiários disponibilizou todo material, novinho em folha, para as prospeções arqueológicas, que decorrem durante este mês.
Isso mesmo foi afirmado a O MINHO pela professora Helena Carvalho, segundo a qual “sem o apoio da Câmara Municipal de Terras de Bouro nada disto seria possível, porque, tal como anteriormente, facultou-nos tudo quando solicitamos, estando este mês instalados na Casa dos Bernardos, em Santa Isabel do Monte, trabalhando ainda no Museu da Geira, do Campo do Gerês”.

Estágio de um mês na Geira
Este estágio, que decorre até finais de julho na Geira Romana, vem na sequência dos trabalhos já realizados em julho de 2023, com o apoio da Câmara de Terras de Bouro, enquadrado no projeto INterregSudoe: CUlturMOnts S1/4.6/E0050: Valorização das Paisagens Culturais de Montanha: Recurso para o Desenvolvimento Territorial Sustentável, projeto a que se candidatou então a Universidade do Minho, com um grande êxito, do qual a Câmara de Terras de Bouro é parceira.

Segundo a professora e investigadora Helena Carvalho, a candidatura a um Projeto de Investigação Plurianual de Arqueologia (PIPA) para todos os trabalhos arqueológicos estarem devidamente enquadrados e autorizados pela tutela, constituindo também parte integrante neste estágio e que ao longo de um mês consecutivo envolve alunos e docentes, também estes investigadores.

“A sinergia e apoio permanente da Câmara Municipal de Terras de Bouro contemplam alojamento para nove pessoas, refeições e transporte de e para o campo de trabalhos, assim como a utilização das instalações do Núcleo Museológico de Campo do Gerês, para trabalho de gabinete e depósito do material de prospeção”, segundo explicaram ainda os responsáveis camarários.

“Esta mútua colaboração permite satisfazer simultaneamente os interesses de investigação e ensino da Universidade do Minho e os interesses de proteção, de conservação e de valorização do património arqueológico de Terras de Bouro, numa perspetiva de qualificação e promoção do desenvolvimento do concelho”, explicaram os responsáveis do Município de Terras de Bouro.

Projeto europeu passa pelo Minho
A UMinho participa num projeto que valoriza a paisagem e o património cultural de comunidades de montanha do sudoeste europeu, para combater o despovoamento e criar oportunidades de desenvolvimento, o “Cultur-Monts”, que junta parceiros de três países, num total de dez sócios beneficiários, com fundos do programa Interreg SUDOE até dia 31 de dezembro de 2026.

No caso português, a responsabilidade do projeto recai sobre o Laboratório de Paisagens, Património e Território, Portugal (Lab2PT), do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho) e a Associação de Desenvolvimento das Regiões do Parque Nacional da Peneda-Gerês (ADERE Peneda-Gerês), aqui liderado pela engenheira Sónia Almeida, que irão concentrar a sua atenção em duas áreas, localizadas nos concelhos de Arcos de Valdevez (na freguesia do Extremo) e de Terras de Bouro.

Assente numa perspetiva de tempo longo, a mobilidade humana e as redes viárias, os ciclos e as paisagens agro-pastoris são alguns dos aspetos a explorar com as comunidades locais, cruzando abordagens arqueológicas, a história das memórias sociais e os estudos patrimoniais, aliando a transferência de conhecimento e a inovação social, sendo o projeto a nível europeu liderado pelo ICAC-CERCA (Instituto Catação de Arqueologia Clássica), segundo explicou a O MINHO a professora Helena Carvalho.

A equipa portuguesa é liderada por Helena Paula Carvalho, professora auxiliar da Universidade do Minho e investigadora do LAB2PT, responsável pela equipa, integrando Rebeca Blanco Rotea, Paulo Bernardes e Jorge Ribeiro. Jorge Manuel Pinto Ribeiro, doutorado em Arqueologia e investigador integrado do LAB2PT e Paulo José Correia Bernardes, doutorado em Engenharia Informática, funcionário da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho e membro integrado do Lab2PT.