O espetáculo “Se Não For Tu”, de Era Rolim, vai estrear-se na quinta-feira, em Guimarães, com o sonho de uma mulher que perdeu os pais num acidente enquanto ferramenta para obter respostas que não chegam a surgir.
Um dos vencedores da 3.ª edição do Projeto CASA (colaboração entre O Espaço do Tempo, Cineteatro Louletano e Centro Cultural Vila Flor para apoiar a criação artística), “Se Não For Tu” surgiu de uma investigação da brasileira Era Rolim sobre o processo de um sonho.
Em declarações à Lusa, Era Rolim, que dirige e interpreta, explicou que o espetáculo “coreocinematográfico” acontece muito através das imagens e incide sobre uma personagem central, Sueli, e as suas “pequenas obsessões”, como a de descobrir o que aconteceu aos pais nos 30 segundos antes do acidente.
“Ela encontra no sonho a ferramenta de especular essa memória que ela nunca teve e nunca vai ter e especular essas respostas”, afirmou Era Rolim, que esclareceu que a peça não apresenta respostas para além das que o público encontrar.
“Se Não For Tu” “não é sobre o acidente dos pais, mas é sobre a possibilidade de reorganizar as memórias dentro de um plano onde a gente não tem domínio que é o sonho”.
Era Rolim realçou que “a trajetória da Sueli é uma história marcada pela sua tragédia, mas o espetáculo não fala sobre a tragédia, não fala necessariamente sobre morte, fala mais de como as pessoas podem sonhar”.
A criadora do espetáculo, originária de Brasília e agora sediada em Berlim, afirmou que “o sonho, mais uma vez, é a ferramenta mais próxima que cada pessoa tem para produzir o seu próprio cinema”, sendo “Se Não For Tu” “um convite ao sonho da Sueli”.
Há um primeiro momento, “como se deitasse a cabeça no travesseiro” e ainda estivesse a pensar no dia que passou e nas coisas que o dia seguinte trará, e um segundo, de aprofundamento.
Era Rolim realçou que o espetáculo, que já teve um ensaio aberto n’O Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo, no mês passado, tem encarnações diferentes nos três sítios por onde vai passar, por os espaços em si serem diferentes, mas também pelo facto de estar a recuperar de um problema de saúde que lhe limitou os movimentos.
Com várias vertentes e técnicas disciplinares, sublinhadas pelo júri do Projeto CASA aquando da atribuição da bolsa, em “Se Não For Tu” “a coreografia e os movimentos são pensados a partir de um plano visual, ou seja, [são aproveitados] todos os planos que essa imagem pode ter, a nível baixo, alto e médio, um olhar mais expandido, deslocado”.
“A imagem sugere que o público olhe para cima, para baixo, para o lado, se assuste com uma luz, viva o ‘blackout’, viva uma chuva de luz que vai acontecer”, afirmou a criadora de 34 anos, formada em Pedagogia, Dança Contemporânea e História da Arte.
Depois da estreia absoluta, que acontece quinta-feira, na abertura dos Festivais Gil Vicente, na Black Box do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, o espetáculo vai ser apresentado no Cineteatro Louletano, no dia 20 deste mês.
Os Festivais Gil Vicente, na 37.ª edição, prosseguem até 14 de junho com vários espetáculos, desde outra estreia absoluta (a de “Corre, bebé!”, de Ary Zara e Gaya de Medeiros) a clássicos como “Ricardo III”, de Marco Paiva a partir de Shakespeare, passando por oficinas, conversas e ‘masterclasses’.