A empresa que cria artigos de mobiliário graças à reciclagem de pás eólicas, inaugurada há cerca de um ano, em Monção, deverá começar a construir a sua segunda unidade de produção em Valença nas próximas semanas. O investimento é 100% de um empresário espanhol que viu em Portugal uma boa solução para tentar resolver um problema ambiental onde muitas vezes, o recurso, queimar ou até enterrar as pás.
A O MINHO, o CEO e fundador da empresa Ventos Metódicos, Angel Costa, conta que trabalhou durante décadas no setor da energia eólica, incumbido de cumprir a missão de desmontagem de aerogeradores e pás eólicas um pouco por toda a Europa. De cada vez que tinha de se desfazer de uma pá, ou porque esta incendiou ou chegou ao fim de vida, o custo era muito alto e as soluções disponíveis não eram as melhores.
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“Muitas das pás iam para a Alemanha, onde são incineradas, mas é preciso logo investir milhões para comprar um filtro adequado e para a sua manutenção regular e, mesmo assim, a combustão pode sempre resultar na libertação de tóxicos”, apontou, adiantando que nos Estados Unidos, ainda se enterram muitas pás destas. Foi por isso que se lembrou “de criar um novo conceito” como destino final para aqueles equipamentos que atingem cerca de 90 metros de altura.
Através da empresa Sostylair, são comercializados artigos de mobiliário urbano e decoração, como bancos, candeeiros, mesas, cadeiras, prateleiras, escadas ou qualquer elemento para a construção de parques de lazer e entretenimento. Todo este material é feito com o reaproveitamento das pás.
Em Portugal é mais rápido
Apesar de ser galego, Angel olhou para Portugal como o local indicado para esta aposta: “Não fiz na Galiza porque Portugal é muito mais ágil nestas coisas. Em sete dias consegui licença para construir uma nave em Monção, abrimos no início do ano passado, já empregamos 20 pessoas e estamos a admitir duas por mês, mas precisamos de muitas mais”.
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A segunda unidade de produção vai nascer em Valença, no parque industrial de Gandra, devendo a construção inicar-se após o término de construção de um muro, que não estava incluído nos planos iniciais e que tem atrasado a obra. Angel explica que já lá se encontra, no terreno, algum material proveniente das pás eólicas, mas esclarece, até de forma indignada, que não se trata de “sucata”, como já nomearam, mas de matéria prima que vai ser transformada e exportada para países como Espanha ou Emirados Árabes Unidos assim que a fábrica fique concluída.
Nesta unidade de Valença, a empresa quer investir oito milhões de euros e, considera Angel, “está na hora de abrir”. Explica que foi comprado o terreno mas não estava à espera que o desnível pudesse afetar o projeto, levando à necessidade de última hora de construir um muro. Questões relacionadas com a inexperiência do arquiteto inicial também estão a atrasar o projeto, algo que “já foi solucionado”, bem como atrasos na aquisição de máquinas. No último mês contratou mais quatro trabalhadores e espera concluir a obra até 2024.
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O processo de desmontagem das pás
A Ventos Metódicos, adianta o empresário, está equipada com sistemas de corte a fio de diamante integrados em camiões, fazendo o corte das pás um pouco por toda a Europa. “A economia circular, a reutilização e a bolha de carbono zero nos novos produtos, são a filosofia da nossa empresa”, diz.
Para isso, o “camião serralharia”, como lhe chama, desloca-se ao parque eólico para proceder ao primeiro corte com apoio de uma grua empilhadora, para a manipulação dos segmentos e para carga e descarga do material. Tudo, assegura, é feito por pessoal qualificado e certificado para efetuar a operação e o material cortado não gera nenhum tipo de resíduo. As pás são desmontadas no local e segmentadas em compartimentos, para facilitar a sua manipulação, carga e transporte.
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Angel explica que os poucos desperdícios resultantes são aspirados no momento do corte de forma automática, sendo reservados para outras utilizações, nomeadamente após a aquisição de novas máquinas e de trituradoras. O material, desmontado um pouco por toda a Europa, é depois transportado para as unidades localizadas no Alto Minho, onde vão dar origem a mobiliário urbano. A empresa também desmonta estes equipamentos em Portugal, explica o empresário, dando conta de operações recentes na região do Alto Douro e em Trás-os-Montes.
Nova vida
O empresário salienta que os artigos criados a partir do material reciclado têm tido muita procura: “Este mês entraram quatro trabalhadores para dar resposta aos pedidos, tudo o que entra já tem atraso de dois, três meses”. Espanha e Emirados Árabes Unidos são os melhores clientes e um dos artigos que mais tem sido vendido são vasos de rua.
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Em 2022, no primeiro ano de atividade industrial, a empresa faturou oito milhões de euros. Na fábrica de Monção, recorda Angel, 60% dos trabalhadores são portugueses. “Estamos a criar postos de trabalho com material que antigamente se queimava e podia ser nocivo. A empresa tem pouco menos de dois anos. Não nos podem pedir muito mais”, conclui, abordando as críticas de que tem sido alvo em Valença.