O parlamento aprovou hoje por unanimidade um voto de homenagem à população de Cambedo da Raia, em Chaves, pela “solidariedade e altruísmo” no acolhimento de refugiados do regime franquista e pelas vítimas da “trágica operação militar” de 1946.
No texto, apresentado pela comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, é recordado que “os anos de 1936 e 1939, em Espanha, seguintes à Guerra Civil, foram anos de avanço para as forças franquistas e dos seus aliados fascistas italianos e alemães, de um lado, e de denúncias, perseguições, torturas e fuzilamentos sumários dos que haviam apoiado a República, do outro”.
“Fugindo a tal regime de terror e à miséria, milhares de refugiados – os fuxidos – buscaram abrigo na Galiza, nas Astúrias e nas localidades da fronteira luso-espanhola, do lado português da raia, desde Caminha até Vila Real de Santo António”, lê-se no texto.
O voto de congratulação detalha que uma dessas localidades foi Cambedo da Raia, na freguesia de Vilarelho da Raia, em Chaves, “cuja comunidade, solidária, altruísta e corajosamente os acolheu”.
“Criminosos à luz das ditaduras vigentes, os fuxidos ali instalados e integrados foram objeto de uma operação militar, na noite de 20 para 21 de dezembro de 1946, concertada entre os dois países, brutal e desproporcionada, que contou com mais de 1.000 agentes portugueses e espanhóis. Houve mortos, feridos, detidos, acusados; famílias destroçadas e economias agrícolas devastadas”, é lembrado no texto.
O projeto apresentado pelos deputados da 1ª comissão refere que se seguiu, “por décadas, para a brava população de Cambedo da Raia, o manto de silêncio que as ditaduras impõem aos que vetam à infâmia”.
Os deputados consideram “imperioso corrigir a ausência de reconhecimento e de homenagem a esta população e aos seus descendentes”.
Desta forma, o parlamento presta homenagem à população de Cambedo da Raia congratulando-a “pela solidariedade, altruísmo e coragem no acolhimento aos fuxidos do regime franquista, homenageando a memória, o heroísmo e o sofrimento de todos aqueles que por conta dessa postura solidária foram de algum modo vítimas da trágica operação militar levada a cabo pelas polícias espanhola e portuguesa na noite de 20 para 21 de dezembro de 1946, e dos seus familiares”.
Este voto teve origem numa petição entregue à Assembleia da República, assinada por 2.129 cidadãos, que pedia aos deputados um reconhecimento público de homenagem a esta comunidade, “em especial ao seu direito à memória dos que, tendo sido testemunhas da tragédia, já faleceram sem nunca terem sentido qualquer atenção do Estado Democrático”.