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“O que era uma maravilha para nós, tornou-se uma grande dor de cabeça”. O desabafo é de Luís Augusto Lourenço, presidente da Junta de Freixieiro de Soutelo, freguesia de Viana do Castelo, que este verão está a ser invadida por turistas em busca da Lagoa da Esturranha, local paradisíaco que viralizou no TikTok.
De ‘paraíso secreto’ a ‘inferno’. A procura em massa daquela lagoa de água azul-turquesa, na frescura do rio Âncora, está a levar ao desespero os moradores da zona, que se queixam do estacionamento caótico na faixa de rodagem e da acumulação de lixo à entrada face à estrada.
“Estamos a ver uma solução com a Câmara”, refere a O MINHO Luís Augusto Lourenço, adiantando que em cima da mesa está mesmo a interdição do acesso à Lagoa da Esturranha.
“Não era o que a gente queria, mas estamos a ponderar interditar o acesso”, salienta o autarca, explicando que os terrenos são de comissões de baldios e particulares.
“Aquilo é tudo terrenos particulares, não é um parque, é um rio que passa ali. É uma zona bonita? É. É uma zona interessante? É. Mas estão a ocupar um espaço privado. Os rios têm uma margem para os pescadores poderem andar, mas não é para fazer praia”, defende.
E acrescenta: “Se não houvesse esses problemas as coisas eram pacíficas, agora havendo estes problemas, que são reais… É uma situação muito chata”.
Carros estacionam na estrada
Devido à grande adesão dos veraneantes, os poucos espaços de estacionamento que há são rapidamente ocupados e a maior parte acaba por estacionar na faixa da rodagem, em plena Estrada Nacional 305, o que traz problemas de segurança para quem ali circula.
“Há dois ou três largozinhos que, no total, dá para 20 carros, mas aparecem lá cem carros. Ou os deixam a cinco quilómetros de distância e vão a pé ou deixam na estrada”, refere Luís Augusto Lourenço, falando de uma situação de “muita insegurança”.
O autarca dá conta do que os moradores da freguesia lhe transmitem: “O pessoal sai dos carros com as lancheiras na mão, crianças a correr no meio da estrada, e se algum condutor chama a atenção ainda é maltratado”.
“Felizmente, ainda não se deu nenhum acidente, mas deve estar para breve. As pessoas que circulam ali são da zona e já passam com cautela, mas de qualquer maneira pode às vezes um dia correr mal”, avisa.
GNR multou 20 viaturas mal estacionadas
Como O MINHO noticiou, o estacionamento indevido levou mesmo a GNR a fazer uma operação no local, na semana passada, tendo multado 20 viaturas.
Em comunicado, a GNR alertava que “o estacionamento irregular, em determinadas circunstâncias, pode impedir a fluidez do trânsito, obrigando os veículos a utilizar a faixa de rodagem contrária, e pode ainda dificultar o acesso a veículos devidamente estacionados, a saída destes ou a ocupação de lugares vagos, colocando em perigo os utilizadores da via”.
Segundo o autarca, “todos os dias” a GNR tem ido ao local e levantado entre “30 a 60 autos por dia”.
“Todos os dias a GNR passa por ali a multar e também a tentar sensibilizar para terem cautela, mas não adianta, porque as pessoas que estão lá hoje são autuadas e só daqui a um mês é que recebem a multa e as que vêm para lá amanhã já não são as mesmas”, observa o autarca.
Não há recolha do lixo
Outro problema é a acumulação de lixo na entrada para a lagoa, mesmo face à estrada.
Os veraneantes depositam ali os resíduos, mas naquela zona “não há recolha do lixo”.
“Pedimos aos serviços municipalizados e vieram lá uma semana, mas as pessoas têm que ter consciência e não deixar ali o lixo, porque cria bicharada. Não sei como [os serviços municipalizados] vão resolver a situação. Se meterem um contentor do lixo, todos os dias têm que ir lá recolher o lixo. Eles passam aqui na freguesia uma vez por semana, mas para aquela zona nem sequer passam”, refere o presidente da Junta.
Paralelamente à fiscalização rodoviária da GNR que resultou em 20 multas, também devido à “grande acumulação de lixo” nas imediações da Lagoa da Esturranha foi realizada uma ação de sensibilização por militares do Serviço da Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA).
“Esta ação visou alertar e consciencializar a população sobre a importância da proteção e conservação da natureza e do ambiente, especialmente no que diz respeito à fauna, flora e recursos hídricos”, acrescentava.
A GNR reforçou a “necessidade de uma utilização responsável e consciente deste espaço, para que todos possam continuar a desfrutar da beleza e tranquilidade da Lagoa da Esturranha”.
“O respeito pelas normas de estacionamento e pela preservação do ambiente são essenciais para manter este local agradável e seguro para todos os visitantes”, sublinhava a Guarda.
Fenómeno nas redes sociais
A ‘invasão’ de turistas começou a acontecer este ano, após, como O MINHO noticiou, uma publicação no TikTok ter ficado viral. Depois muitas outras surgiram, gerando um grande interesse na Lagoa da Esturranha.
Luís Augusto Lourenço tem 58 anos, é de Freixielo de Soutelo e conta que, “desde miúdo”, que ia com os conterrâneos para a Lagoa da Esturranha. Mas “agora da freguesia já não vai ninguém para lá”. E conclui: “Desde que surgiram as publicações no TikTok e nas redes sociais começou a aparecer aí pessoal que é um disparate”.
