Bruno Fernandes, 43 anos, candidato da Coligação Juntos por Guimarães (PSD/CDS) à Câmara vimaranense, é casado com uma professora com quem tem dois filhos de 11 e seis anos. É licenciado em Contabilidade e Gestão de Empresas e atualmente é diretor da Escola Profissional do Alto Ave. Tem uma longa experiência autárquica, como presidente da Junta de Freguesia de São Torcato (2005-2017), onde vive, e como chefe de gabinete do presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso (2005-2019). Encara a perda de população como um sintoma de vários problemas que o concelho de Guimarães enfrenta.
A Coligação traz ao debate, com frequência, a questão da perda de população. É esse o principal problema do concelho de Guimarães?
A perda de população não é um problema, é antes um sintoma do que vai mal. As pessoas escolhem viver nos locais onde têm emprego, preferencialmente onde o trabalho é mais bem pago e isso acontece onde há uma indústrias pujantes, preferencialmente em setores que empreguem mão-de-obra qualificada. Estas empresas escolhem para se instalar os concelhos que lhes oferecem as melhores condições em termos de infraestruturas e acessibilidades. Infelizmente, em Guimarães, a nossa universidade forma jovens que depois não têm emprego aqui.
Para os que conseguem ficar, há os problemas da habitação, dos cuidados com os filhos mais novos e dos mais idosos. As casas são caras, no mercado de arrendamento ou para comprar, é difícil encontrar uma vaga numa creche, mesmo fazendo a inscrição meses antes do nascimento e o mesmo acontece quando se procura um lugar num lar.
A juntar a tudo isto, temos um problema de mobilidade e transporte. Circulamos nas mesmas velhas estradas de há trinta anos. Hoje atravessa-se o país num piscar de olhos, mas é um martírio, a certas horas, chegar de Moreira de Cónegos, de Lordelo ou das Taipas a Guimarães. Além disso, continuamos a não ter transportes públicos com a frequência e a abrangência necessárias para promover a coesão do território.
Devemos ter em atenção não apenas a perda de população verificada nos Census 2021, mas o facto de Guimarães estar a perder população desde 2001, mesmo quando os outros concelhos à nossa volta estavam a crescer.
Portanto, quando a Coligação Juntos por Guimarães fala de perda de população, está a pôr em evidência um sintoma dos problemas nas áreas da: habitação, economia, ação social e transportes e mobilidade.
“Temos de enfrentar o problema de existirem bairros sem condições de salubridade”
Concretamente, na área da habitação. O que se propõe é fazer para baixar o preço das rendas e o valor das casas?
Há um conjunto de instrumentos de que o Município pode lançar mão para regular o setor. Desde logo, pode aumentar a oferta global de habitação. Hoje, a procura supera a oferta e, portanto, os preços têm tendência a subir. Há pouca oferta porque à falta de disponibilidade de terrenos para construir e o licenciamento é moroso. O Plano Diretor Municipal e as Áreas de Reabilitação Urbana são dois desses instrumentos ao alcance do Município que irei usar para aumentar a oferta de habitação, na cidade e nas vilas, para aquisição e arrendamento.
Mas isto não resolve todos os problemas de habitação que temos no concelho. Temos que, de uma vez por todas, enfrentar o problema de existirem bairros sem condições de salubridade em Guimarães. Temos que transferir para a esfera do Município os bairros do IRHU, reabilitá-los e dotar a CASFIG dos meios necessários para tratar de toda a habitação social do concelho. Vamos precisar de mais habitação social, sendo, parte dela, construção nova.
Por outro lado, há que olhar para a classe média que, no panorama atual, tem dificuldade em arrendar ou comprar casa, em Guimarães. Para esses, vamos introduzir no mercado, através de parcerias com o setor privado, casas a custos controlados.
Como é que a Câmara faz essa introdução de casas a custos controlados no mercado?
Dou-lhe dois exemplos: reservando uma percentagem em novos licenciamentos para venda a custos controlados; cedendo terrenos para a construção sob a condição de serem para arrendamento a custos controlados.
Além disso, teremos também programas orientados para os jovens. A isenção de taxas e licenças municipais para reabilitação ou construção de habitação própria permanente de jovens e jovens casais e o incentivo financeiro para reabilitação de habitações existentes, adquiridas por jovens e jovens casais, são exemplos destas ações destinadas a tornar o concelho mais atrativo para quem está a iniciar um projeto de vida.
A Coligação Juntos por Guimarães propõem-se colocar o concelho no top 10 dos municípios com salários médios mais elevados. Como é que pretende fazer isso?
Esse é um objetivo ambicioso, para uma década. Não sei de o vamos alcançar, mas sei que faremos tudo o que está ao nosso alcance para o conseguirmos. Atualmente estamos na 67ª posição. Se falharmos o objetivo, mas subirmos para, digamos, os 20 primeiros, já terá valido o esforço.
Devemos inspirar-nos nos nossos melhores. O maratonista Manuel Mendes foi oitavo em Tóquio, aos 53 anos, está entre os dez melhores do mundo, melhorou o tempo que no Rio de Janeiro lhe valeu uma medalha de bronze. Alguns só veem a medalha que ele não trouxe desta vez, eu prefiro olhar para tudo o que ele alcançou. O nosso campeão de taekwondo, Rui Bragança, saiu de Tóquio e logo colocou o objetivo de uma medalha nos Jogos Olímpicos de Paris, 2024.
O que é que estes campeões nos podem ensinar? Que para alcançar alguma coisa grande é preciso colocar a fasquia bem alto. O concelho de Guimarães não tem atualmente o tipo de empresas que pagam os salários que podem aumentar a média remuneratória, mas pode ter. Por um lado, melhorando as infraestruturas para receber essas empresas, por outro, criando vias que permitam que o fluxo de pessoas e mercadorias dentro do concelho se processe com fluidez e, finalmente, ligando-nos ao principais eixos viários e ferroviários que irradiam para o resto do país e para o mundo.
Depois de termos feito tudo isto, nada estará ainda ganho se não formos ao encontro destas empresas na área da saúde, das novas tecnológicas, nomeadamente da transição energética e da sustentabilidade, da robótica e da automação, para lhes dizermos: ‘aqui está o que temos para oferecer, estas são as razões por que devem escolher Guimarães para fazer o vosso investimento’.
O supercomputador que vai ser instalado no Avepark é um exemplo de um desses investimentos?
Em certa medida sim, mas não completamente. Trata-se de um investimento público, muito importante, mas o concelho não pode viver apenas de investimento público, tem que ser atrativo também para o investimento privado. O Avepark tem mais de 40 mil metros quadrados de área infraestruturada desocupada e a própria instalação do supercomputador acontece num edifício deixado vago pela saída parcial de uma empresa de referência na área do mercado online.
Nos últimos anos, Guimarães não foi capaz de atrair um único grande investimento e viu algumas empresas saírem para concelhos vizinhos. O Município não pode ficar indiferente a isto.
A título de exemplo, olhemos para Famalicão, um concelho do Vale do Ave, com uma estrutura empresarial, até há pouco tempo, muito parecida com a de Guimarães. Com uma capacidade superior de atrair investimentos importantes, nos últimos anos, já tem uma remuneração media superior à nossa.
Os problemas de transporte não são uma falsa questão, uma vez que a nova concessão de transportes arranca em janeiro de 2022?
Esperemos que a concessão realmente arranque em janeiro de 2022, até lá, a única coisa que sabemos é que não arrancou na data-limite que estava estabelecida, março de 2021. Este atraso deu origem a um custo de quase três milhões de euros para os munícipes, para manter a atual concessionaria a operar. Isto é o que sabemos. Relativamente à nova concessão, esperamos que realmente venha a preencher as necessidades em termos de cobertura territorial, de horários e de qualidade, nomeadamente de conforto para os passageiros e de respeito pelo meio ambiente. Contudo, trata-se apenas de uma espectativa, porque como o atual executivo não foi capaz de pôr a concessão em funcionamento, nada disto vai poder ser avaliado nestas eleições autárquicas.
Como é que vai cumprir a proposta de ligação às vilas, quando há estudos que indicam que os canais estão ocupados por construção?
Esses estudos foram encomendados pela governação socialista e, é curioso, atestam a falta de planeamento que houve ao longo dos últimos 30 anos. É verdade que, em alguns lugares, se construiu de forma desregrada em áreas que eram obviamente necessárias para fazer o alargamento das vias. E agora, vamos encolher os ombros e não fazemos nada? Ou vamos partir para soluções exóticas, como o teleférico para as Taipas?
Temos que alargar as vias, com faixas dedicadas para transportes públicos e para a mobilidade suave, onde for possível. Onde não for, temos que optar por outras soluções. Há quatro vias que são absolutamente fundamentais: cidade – Caldelas (N101); cidade – Ronfe (N206) corrigindo o problema da rotunda de Silvares com uma saída dedicada para a N206; cidade – S. Torcato (N207), cidade – Moreira de Cónegos / Lordelo (N105), desde Covas, passando por Polvoreira, Nespereira, Conde, Moreira de Cónegos até Lordelo.
Nas intervenções que fez até aqui não falou muito de ambiente. Esta não é uma área que mereça a atenção da Coligação Juntos por Guimarães?
Pelo contrário, é uma área tão importante que é transversal a todas as políticas que propomos. Quando defendemos o transporte público a chegar a todas as freguesias, com horários que os tornem atrativos, estamos a defender uma medida que tira carros da cidade. Isso é política ambiental, embora seja apresentada como uma proposta de mobilidade e transportes. Podia dar-lhe outros exemplos, nas diversas áreas. Todavia, posso falar de duas questões absolutamente críticas para Guimarães, que fazem parte do nosso programa na área do ambiente e do mundo rural. A água é um bem escasso que temos que gerir com eficiência, porém, no nosso concelho, 35% da água que é lançada na rede não é faturada. Esta água perde-se em fugas ou é consumida sem ser paga. Temos de enfrentar este problema, sob pena de estarmos a malbaratar um recurso precioso. Propomo-nos reduzir estas perdas para 20% num mandato e para níveis comparáveis com os melhores exemplos europeus, em 10 anos.
O bem-estar animal, um fator que não desligamos do ambiente é outra área em que queremos intervir de imediato. O alargamento do Centro de Recolha Municipal (conhecido como canil), tem que deixar de ser uma promessa, sempre adiada, para passar a uma realidade. Por outro lado, se queremos ser um concelho sem animais abandonados e penso que todos queremos, a Câmara tem que se envolver num programa de esterilização.
São dois exemplos das nossas propostas na área do ambiente, em que há tanto a fazer. Quão ridículo é queremos ser Capital Verde Europeia e não conseguirmos ter uma praia fluvial devidamente infraestruturada?
Tem falado da perda da marca cultural. O que é que quer dizer com isso e o que é se propõe fazer para o evitar?
Guimarães é reconhecido por todos os portugueses pelo seu papel na fundação da nacionalidade. Mesmo quem nunca teve oportunidade de aqui vir, tem uma referência de Guimarães, é a terra do nosso primeiro rei, foi aqui que se deu a batalha decisiva. Esta marca histórica ninguém nos tira e é um trunfo que podemos usar.
Desde finais do século XIX e ao longo do século XX, Guimarães criou uma marca industrial. Houve um conjunto de homens que, a partir deste concelho, lançaram as bases de uma industrial regional, de que o concelho foi sempre a capital. Esta liderança está ameaçada, como já falamos.
Já no século XXI, as gentes de Guimarães conseguiram alcançar uma nova distinção: Capital Europeia de Cultura. Esta distinção deixou uma marca que, para não se desvanecer, é preciso acarinhar. Na nossa avaliação, a mudança de prioridades, com a tentativa falhada de ser Capital Verde Europeia (CVE), levou a um desinvestimento na cultura. Um desinvestimento que não é necessariamente financeiro, é uma falta de cuidado, um olhar secundário… assim estamos a perder em todas as frentes. Perdemos a liderança na indústria, desinvestimos na cultura e não fomos CVE.
O que propomos é que nos concentremos nas marcas porque somos conhecidos e reconhecidos – a história, a indústria e a cultura –, e que o ambiente se torne transversal a todas as políticas implementadas pelo Município.
Vídeo: Rui Dias / O MINHO
Como é que avalia a gestão que o Município fez da pandemia?
Estou convencido que Domingos Bragança e a sua equipa fizeram o melhor que puderam na ajuda de emergência. A situação apanhou-nos a todos de surpresa e não serei eu que vou fazer aproveitamentos políticos de uma falha que possa ter existido, numa situação de emergência. Embora, no futuro, se uma situação parecida voltar a acontecer, não se possam desculpar os mesmos erros.
Já no que toca às reações deste executivo, para lá do plano da emergência, foram completamente desastrosas. O que é que se pode dizer de um programa completamente falhado, como o Proximcity, em que a Câmara investiu 115 mil euros, numa altura em que os comerciantes precisavam de liquidez para sobreviver? Como é que se pode perceber que a hotelaria e a restauração tenham sido excluídas do programa “Retomar Guimarães”, que visa apoiar as empresa mais afetadas pelas medidas de contenção da pandemia? No executivo ninguém sabia que estas áreas de negócio estavam entre as mais afetadas?
Isto é ainda mais grave quando se sabe que as associações de comerciantes vinham a alertar para os problemas há muitos meses e que a Coligação Juntos por Guimarães fez, logo em abril de 2020, propostas nesta área, bem como na área do desporto. O executivo não tinha que aceitar as propostas da Coligação Juntos por Guimarães, mas tinha que ter feito alguma coisa, além de esperar que o tempo resolvesse os problemas.
O que é que seria um bom resultado para a Coligação Juntos por Guimarães?
Vencer as eleições com um resultado que nos permita dar a Guimarães uma nova energia.