As mercearias urbanas e pomares, no centro de Braga, têm crescido durante o confinamento provocado pela pandemia da covid-19 e já são procuradas até por clientes mais jovens. A qualidade dos produtos, regionais e mais frescos do que nas grandes superfícies, a proximidade e o receio de muitas pessoas em se deslocarem aos hipermercados são alguns dos motivos para esta prosperidade em tempos de pandemia.
Mariazinha e João, vendedores de bens de primeira necessidade, são os donos do Pomar “Mariazinha”, na rua São Marcos. O comércio na rua está fechado e, grosso modo, este é o único negócio aberto. Vão entrando pessoas umas atrás das outras. “Mariazinha, quando chegam os tomates coração de boi?”, pergunta uma cliente. “Só no Verão”, responde a dona do pomar, de porta aberta há 80 anos.
O negócio pertence à família de João. Primeiro à sua avó, depois à sua mãe. Agora, é para o casal o desafio de resistir à pandemia e legar o negócio aos filhos.
“A pandemia veio melhorar o negócio. Há mais pessoas a procurar-nos, principalmente jovens. As pessoas procuram produtos frescos, com qualidade e evitam idas às grandes superfícies”, comenta Mariazinha a O MINHO.
Os clientes habituais continuam a entrar na venda, para duas de conversa. Compram um ou outro produto e depois saem. “Vêm cá todos os dias, alguns há anos. É essa a importância de um atendimento próximo do cliente. Os jovens começaram a aparecer mais, nos últimos tempos, e é bom ter clientes com menos de 50 anos”, conta, satisfeita, a dona do estabelecimento.
As frutas e as leguminosas são compradas a lavradores da região, os enchidos e os queijos a produtores locais. O pomar, no centro histórico da cidade, com muralha medieval nas traseiras da loja, também foi obrigado a modernizar-se, para aumentar as vendas, e tem recebido nas redes sociais, dezenas de encomendas, “às vezes são clientes, que já cá vinham, mas não querem sair de casa”, explica Mariazinha.
Clientes procuram cada vez mais produtos da região
O Pomar Verde, no fim da Avenida da Liberdade, quase na Ponte São João, está a trabalhar até às 22:00. O negócio é gerido por uma família, com dois filhos. “A empresa já existia antes de eu nascer”, conta Marcelo, filho mais novo, enquanto passa as compras dos clientes, no laser da caixa.
“As pessoas passam mais tempo em casa, consomem mais, e vêm aqui por estar mais perto, ou porque não precisam de comprar muita coisa, então não vão ao supermercado”, explica o filho mais velho, Sebastião, que reconhece o crescimento no volume de faturação do negócio. Nesta mercearia, ou mini mercado, até os ovos são caseiros, assim como boa parte dos produtos hortícolas.
Os filhos da família acreditam, que mesmo quando o confinamento passar, a mercearia vai continuar a trabalhar bem, pois os clientes procuram, cada vez mais, alimentos produzidos na região.
Estas mercearias não foram construídas a pensar nos turistas, nem vendem os produtos que o turista procura. São negócios de rua, que vivem da frescura e qualidade dos seus produtos, mesmo com preços um pouco mais altos, quando comparados com os das grandes superfícies.
“Esta penca demora o triplo do tempo a crescer, quando comparada com uma do supermercado. Por alguma coisa há de ser”, finaliza Mariazinha, dona do pomar, que invade com ruralidade, uma das principais ruas do centro de Braga.